A conferência do clima em Belém expõe dilemas diplomáticos, críticas ambientais e problemas logísticos que colocam em risco debates sobre soluções urgentes globais
O Brasil se apresentou ao mundo como voz dos países em desenvolvimento. Para reforçar esse papel, convidou autoridades internacionais a conhecer a Amazônia e debater saídas para a crise climática global.
A conferência ganhou grande expectativa porque ocorre dez anos após o Acordo de Paris. No entanto, a preparação expôs problemas sérios.
Estados Unidos ausentes e cobranças
Os Estados Unidos, maiores emissores históricos de gases de efeito estufa, não devem participar do encontro.
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O país ainda não cumpriu a promessa de liberar bilhões de dólares em apoio aos mais vulneráveis.
Essa ausência fortaleceu críticas. Ativistas acusam o Brasil de incoerência, porque mesmo defendendo a pauta ambiental, liberou novas áreas para exploração de petróleo. Portanto, o discurso e a prática não caminham juntos.
Pressão sobre a diplomacia climática
Com os impactos do aquecimento global cada vez mais fortes, cresce a cobrança por mudanças na estrutura das negociações. O sistema atual exige consenso e acaba travando acordos mais ambiciosos.
Países produtores de petróleo, por exemplo, bloqueiam propostas que poderiam reduzir emissões mais rapidamente. O risco é que danos irreversíveis avancem antes que medidas efetivas saiam do papel.
COP30 na Amazônia: hospedagem vira impasse em Belém
No meio dessa disputa global, um problema local complicou ainda mais o cenário: a falta de hospedagem acessível na cidade-sede. Dois terços dos países não conseguiram reservar quartos até agora.
A diplomata de Palau, Ilana Seid, resumiu o dilema: “Não conseguimos debater sobrevivência se nem conseguimos chegar lá”. O arquipélago do Pacífico teme o aumento do nível do mar e precisa ter voz no evento.
Mal-entendido ou falha grave?
Segundo diplomatas africanos, autoridades brasileiras chegaram a sugerir que delegados dividissem quartos. A ideia foi rejeitada imediatamente.
O embaixador André Corrêa do Lago, responsável pelas negociações, afirmou que tudo não passou de um “mal-entendido”.
Ele garantiu que o governo já separou 53 mil quartos, número superior aos 50 mil participantes esperados.
Segundo ele, há opções entre US$ 100 e US$ 200 destinadas a países mais pobres e pequenas ilhas.
Escalada de preços e denúncias
Apesar da promessa, hospedagens em Belém chegaram a custar até US$ 600 por noite. A alta fez o governo criar uma força-tarefa contra abusos e reservar parte das vagas para delegações vulneráveis, com limite de 15 quartos cada.
Além disso, foram incluídos hotéis, dois navios de cruzeiro e imóveis privados regulados. Existe ainda a possibilidade de adaptar escolas para alojar delegados.
Mesmo assim, muitas comitivas continuam sem alternativa. Em vez de planejar posições políticas, gastam tempo em ligações para corretores em busca de leitos.
Apoio financeiro buscado
Para aliviar a pressão, o Brasil pediu ajuda de bancos e instituições filantrópicas. O objetivo é subsidiar custos para os mais afetados.
Corrêa do Lago admitiu em carta enviada a delegados que os obstáculos logísticos são grandes e pediu criatividade para encontrar saídas.
Desconfiança internacional
O episódio reforçou o déficit de confiança nas negociações climáticas. Ele ocorre enquanto os Estados Unidos ampliam a produção de petróleo e gás, contrariando as metas ambientais.
“As circunstâncias não são ideais”, reconheceu Corrêa do Lago. Para ele, o ambiente geopolítico é complexo e torna as negociações ainda mais difíceis.
Conferência internacional ganha peso simbólico
Belém foi escolhida porque representa a Amazônia, região central na regulação climática do planeta. A cidade já viveu ciclos históricos, como o da borracha, mas hoje tem pouco mais de um milhão de habitantes e infraestrutura limitada.
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sediar a conferência no Pará é uma forma de mostrar a importância da floresta na captura de carbono e atrair recursos para preservação.
Desafios do modelo atual
As conferências anuais reúnem cada vez mais participantes, variando de 40 mil a 80 mil. O público inclui desde ativistas até executivos de petroleiras.
O objetivo comum é conter o aquecimento global e limitar a elevação da temperatura a 1,5 °C em relação ao período pré-industrial.
O problema é que, mesmo se todas as promessas feitas fossem cumpridas, ainda não seria suficiente.
Voz dos mais pobres
Para países pequenos e pobres, a conferência é uma das raras oportunidades de falar em pé de igualdade. Jennifer Morgan, ex-presidente do Greenpeace, reforçou que esse espaço é essencial.
Ela disse que o formato poderia ser mais eficiente, mas ainda é indispensável. Afinal, os desastres climáticos atingem com força justamente quem menos emite poluentes.
COP30 na Amazônia: risco de fracasso
Com a conferência marcada para daqui a oito semanas, o cenário segue indefinido. Delegações ainda buscam hospedagem a preços justos.
A diplomacia climática segue travada pela falta de acordo entre grandes emissores.
Enquanto isso, a população de Belém assiste a cidade se transformar rapidamente, com hotéis lotados e preços em disparada.
Para os negociadores, o risco é que problemas logísticos comprometam um debate vital para o futuro do planeta.
Com informações de InfoMoney.