Fundado por Amador Aguiar, um lavrador que não concluiu o ensino fundamental, o Bradesco se tornou um dos maiores bancos do mundo, empregando hoje 83.365 pessoas e atendendo milhões de clientes em 2.750 agências.
Amador Aguiar, o fundador do Bradesco, nasceu em 11 de fevereiro de 1904, na zona rural de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Era o 12º filho entre 14 irmãos, filhos de pais lavradores que trabalhavam em plantações de café. Aos 13 anos, o pai o tirou da escola para que ajudasse na lavoura, decisão que o marcou profundamente e alimentou sua vontade de aprender.
Durante três anos, trabalhou em plantações de café na cidade de Sertãozinho. Aos 16 anos, após uma briga com o pai, decidiu sair de casa e foi para Bebedouro, onde chegou sem dinheiro e dormiu em um banco de praça.
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Passou fome e frio até conseguir um emprego em uma tipografia, o que lhe permitiu alugar um quarto e retomar os estudos por conta própria.
Um acidente de trabalho o obrigou a mudar de profissão, mas foi justamente esse recomeço que o levou ao mundo financeiro.
O primeiro emprego no setor bancário
Aos 21 anos, Amador conseguiu um emprego como office boy no Banco Noroeste, na cidade de Birigui, logo após se casar com Elisa Silva. Em poucos anos, seu talento o levou de office boy a contador e depois a diretor do banco.
Ele costumava dizer, com bom humor, que devia seu sucesso à asma. Como tinha dificuldade para dormir, aproveitava as madrugadas para ler sobre operações bancárias, tornando-se um autodidata.
Essa curiosidade e disciplina o tornaram uma referência e o prepararam para o maior desafio da sua vida: salvar um banco à beira da falência.
O nascimento do Bradesco
Em 1943, Amador foi contratado para gerenciar a Casa Bancária Almeida & Companhia, em Marília, que enfrentava sérias dificuldades.
Sob sua orientação, o banco passou por uma reestruturação completa e ganhou um novo nome: Banco Brasileiro de Descontos, com foco em atender trabalhadores e pequenos empresários.
No dia da reinauguração, o presidente escolhido faleceu repentinamente, e Amador foi convidado a assumir o cargo. Recebeu 10% das ações e começou a executar sua visão: criar um banco acessível e popular.
Pouco tempo depois, transferiu a sede para São Paulo e reduziu o nome para Bradesco.
Sua gestão inovadora colocou o banco à frente dos concorrentes ao priorizar pequenos clientes, simplificar serviços e oferecer educação financeira para novos correntistas.
Expansão e inovação tecnológica
Amador apostou na proximidade com o cliente, abrindo agências em regiões agrícolas e adquirindo bancos menores.
Essa estratégia resultou na presença nacional do Bradesco, que em 2010 se tornou o único banco privado com atendimento em todos os municípios brasileiros.
Mas a inovação não parou aí. Em 1955, o Bradesco foi o primeiro banco do país a usar máquinas autenticadoras, e em 1961 adquiriu o primeiro computador IBM 1401 do Brasil, interligando agências via código MORS — algo revolucionário para a época.
Outro marco foi a criação da Fundação Bradesco, em 1956, voltada à educação de crianças e jovens de baixa renda. Hoje, a instituição mantém 40 escolas e atende mais de 42 mil alunos com taxa de empregabilidade superior a 70%.
Da Cidade de Deus à liderança nacional
Em 1957, o banco transferiu sua sede para Osasco, num complexo batizado de Cidade de Deus, em homenagem a Santo Agostinho. A presença do Bradesco impulsionou o desenvolvimento urbano da cidade.
Durante as décadas de 1960 e 1970, o banco lançou o primeiro cartão de crédito do país, abriu capital na bolsa e inaugurou sua milésima agência.
A abertura de capital consolidou o Bradesco como referência no mercado, com milhares de investidores e lucros crescentes.
Nos anos 1980, a era da automação bancária ganhou força com o HomeBank, o Alô Bradesco e a diversificação dos serviços para previdência e seguros.
Após a morte de Amador Aguiar, Lázaro de Melo Brandão assumiu a presidência e manteve o ritmo de inovação e crescimento.
Aquisições e novos desafios
Em 2015, o Bradesco comprou o HSBC Brasil por R$ 17,6 bilhões, expandindo sua base de clientes e ativos. A operação consolidou o banco como um dos líderes do mercado financeiro nacional.
Porém, após a pandemia, o cenário mudou. A inadimplência subiu com o aumento dos juros e o crédito concedido a clientes de menor renda se tornou um problema.
Enquanto bancos digitais, como Nubank e Inter, ganhavam espaço, o Bradesco enfrentava dificuldades para se modernizar.
Em novembro de 2023, Marcelo de Araújo Noronha assumiu a presidência com a missão de reinventar o banco.
Com 38 anos de experiência no setor, ele lançou um plano de transformação de cinco anos, priorizando inovação tecnológica e controle da inadimplência.
Reestruturação e foco no futuro
Em 2025, o Bradesco conta com 2.750 agências e mais de 83 mil funcionários.
O banco encerrou o primeiro trimestre com R$ 5,8 bilhões de lucro líquido e anunciou o pagamento de R$ 3 bilhões em juros sobre capital próprio aos acionistas.
A instituição segue focada na digitalização dos serviços e no controle de custos, fechando agências físicas e ampliando seus canais online.
Nos últimos cinco anos, o Bradesco entrou no ranking da Forbes entre as 750 melhores empregadoras do mundo, ocupando a posição 579.
Recentemente, adquiriu o Banco Digil, em parceria com o Banco do Brasil, por R$ 625 milhões, e comprou 50% do Banco John Deere, ampliando sua presença no mercado agrícola.
Também firmou acordo com o BNP Paribas para absorver clientes de private banking que investem acima de R$ 5 milhões.
O legado de Amador Aguiar
O sucesso recente da instituição refletiu-se na valorização de 43% dos papéis do Bradesco em 2025, superando o Itaú, que teve alta de 37%.
Hoje, o banco tem valor de mercado de R$ 155 bilhões, atrás apenas do Itaú (R$ 358 bi) e à frente do Santander (R$ 127 bi).
Mais de um século após o nascimento de seu fundador, o Bradesco continua a carregar a marca da superação. Da lavoura de café à liderança latino-americana, Amador Aguiar provou que a educação e a persistência são o verdadeiro capital de um empreendedor.
Sua história inspira gerações e lembra que, mesmo em tempos de fintechs e inteligência artificial, ainda há espaço para quem sonha grande — e trabalha duro para transformar o impossível em realidade.