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Concreto é vilão oculto nas emissões de carbono no Brasil — e problema começa ainda nas obras

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 12/06/2025 às 16:01
Concreto é vilão oculto nas emissões de carbono no Brasil — e problema começa ainda nas obras
Imagem gerada por inteligência artificial
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Produção de concreto impacta emissões de carbono no Brasil. Falta de separação e descarte irregular dificultam reciclagem de resíduos da construção civil no país.

A produção de concreto é responsável por aproximadamente 8% das emissões de carbono no mundo, segundo dados internacionais. No Brasil, esse impacto também é significativo. O setor de processos industriais e produtos (IPPU), que inclui a produção de cimento e outros insumos da construção civil, responde por 6,4% das emissões nacionais de gases do efeito estufa, de acordo com o Inventário Nacional de Gases do Efeito Estufa, divulgado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Concreto domina construções no país mesmo com alternativas disponíveis

Apesar das alternativas existentes, o concreto segue como principal material nas construções brasileiras. Segundo o professor Roberto Lucas Jr., da Escola de Arquitetura do Ibmec-RJ, o uso do concreto é uma prática consolidada há mais de 100 anos no Brasil. Ele destaca que há um crescimento no uso do aço e da madeira, mas esses materiais ainda enfrentam barreiras de aplicação e de custo no país.

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O sistema conhecido como “steel frame”, que utiliza estruturas de aço, reduz a geração de entulho e pode trazer benefícios ambientais, porém sua adoção ainda é limitada no território nacional. Já a madeira, amplamente usada em países como os Estados Unidos, encontra menos espaço no Brasil, tanto por questões normativas quanto culturais.

Misturas de concreto com isopor dificultam reciclagem de resíduos nas obras

Outras propostas incluem o uso de isopor misturado ao cimento, buscando leveza e redução de custos. No entanto, essa combinação gera problemas no processo de reciclagem de resíduos da construção civil, pois impede a reutilização do material após a demolição. Para especialistas, a ausência de uma abordagem voltada para todo o ciclo de vida do material ainda limita os avanços sustentáveis no setor.

Levi Torres, coordenador da Abrecon (Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição), afirma que a maior dificuldade atualmente não é a reciclagem do concreto em si, mas a forma como os resíduos são gerenciados nas obras. Segundo ele, há pouco planejamento para a separação adequada dos materiais.

Separação de resíduos nas obras ainda é negligenciada

A correta separação dos resíduos nas obras pode resultar em economia de até 20% no custo entre triagem e reciclagem, além de proporcionar um ambiente mais limpo e seguro para os trabalhadores. No entanto, o que se vê com frequência é o descarte de entulho misturado, inviabilizando seu reaproveitamento.

Boa parte dos resíduos da construção civil acaba sendo descartada de forma irregular. Estima-se que cerca de 70% dos materiais depositados em caçambas nas ruas são destinados a lixões clandestinos, apesar da existência de cerca de 700 pontos legais de descarte no país. A prática contribui para a poluição urbana e compromete o aproveitamento de materiais que poderiam retornar à cadeia produtiva.

Regulamentação nacional existe, mas aplicação ainda é limitada

A Resolução 307/2002 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) estabelece que as empresas devem realizar a separação e destinação correta dos resíduos de obras. No entanto, a aplicação da norma depende da regulamentação municipal e estadual. Em muitas localidades, essa regulamentação não é implementada, o que dificulta a fiscalização e o cumprimento das exigências ambientais.

Dados da Pesquisa Setorial da Abrecon, realizada em 2022, indicam que apenas 30% dos resíduos da construção civil no Brasil são reciclados de forma adequada. A taxa supera a meta oficial do governo federal, fixada em 25% pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), mas ainda está distante do potencial de reaproveitamento que poderia ser alcançado.

Jundiaí mostra resultado positivo com políticas locais

A cidade de Jundiaí, em São Paulo, é considerada uma referência em reaproveitamento de resíduos da construção civil. A prefeitura determinou que o entulho das obras seja reciclado, com regras claras de destinação. Como resultado, quase 100% dos resíduos do setor são reaproveitados no município.

A iniciativa não apenas evita o descarte irregular como também reduz custos. Em apenas quatro meses de 2022, a prefeitura de Jundiaí economizou mais de R$ 350 mil ao reutilizar resíduos reciclados como areia, pedra e outros materiais para obras públicas. O concreto reciclado, nesse contexto, se mostrou viável economicamente, sendo até 50% mais barato do que o material convencional usado em pavimentação.

Incentivos e fiscalização são caminhos para reduzir emissões do setor

Especialistas apontam que, para diminuir as emissões de carbono ligadas à produção de concreto, é necessário combinar o uso de novos materiais com políticas públicas voltadas à reciclagem de resíduos. O setor da construção civil, por sua magnitude, tem papel importante na transição para práticas mais sustentáveis.

O investimento em usinas de reciclagem, sistemas de triagem, capacitação profissional e fiscalização do cumprimento das normas ambientais são fatores que podem acelerar essa mudança. Sem ações coordenadas, o descarte inadequado continuará sendo um obstáculo para a redução das emissões e para o melhor aproveitamento dos resíduos gerados nas obras.

Desempenho ambiental depende da escolha dos materiais e da gestão

Embora o concreto continue sendo indispensável para diversas construções, seu uso exige planejamento responsável e técnicas de reaproveitamento. A reciclagem de resíduos da construção civil representa uma alternativa viável tanto para diminuir a pressão sobre os aterros quanto para reduzir custos de obras.

Ao mesmo tempo, o monitoramento das emissões de carbono precisa integrar as políticas de desenvolvimento urbano e as diretrizes de licenciamento ambiental. Com soluções acessíveis e exemplos já em prática, como o de Jundiaí, o setor pode evoluir para práticas mais sustentáveis e economicamente eficientes.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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