Conheça o lugar mais quente do planeta habitado, na Califórnia, onde o calor extremo atrai turistas e a vida resiste ao recorde de 56,7°C e a um solo que já chegou a ferver a 93,9°C
O Vale da Morte, na Califórnia, é oficialmente o lugar mais quente do planeta habitado. Não é uma força de expressão. Em 10 de julho de 1913, os termômetros em uma localidade chamada Furnace Creek registraram a temperatura do ar mais alta da história: 56,7 graus Celsius. Este lugar de superlativos, que também é o ponto mais baixo da América do Norte, é uma paisagem de extremos que, paradoxalmente, atrai vida e um tipo peculiar de turismo.
Em 2025, o fascínio pelo seu calor extremo deu origem aos “turistas de temperatura”, pessoas que viajam de todo o mundo para sentir na pele o que é estar no forno da Terra, especialmente durante as ondas de calor que têm batido recordes recentes. Mas o Vale da Morte é mais do que um ponto turístico perigoso. É o lar de uma comunidade resiliente e de um povo indígena que chama este vale de sua casa há mais de mil anos.
A ciência por trás do calor extremo
O calor do Vale da Morte é o resultado de uma combinação perfeita de fatores geográficos. O vale é uma depressão longa e estreita, ladeada por montanhas altas e íngremes. Em seu ponto mais profundo, na Bacia de Badwater, a altitude chega a -86 metros abaixo do nível do mar.
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Esse formato cria um verdadeiro forno natural. O ar que desce para o vale é comprimido e esquenta. As montanhas altas bloqueiam a passagem de nuvens e chuva, tornando o local extremamente seco. O calor que sobe do solo fica preso, sem ter para onde escapar, reaquecendo o vale continuamente. Essa dinâmica explica por que, em julho de 2024, o parque registrou o mês mais quente de sua história e por que a temperatura do solo já chegou a incríveis 93,9°C em 1972.
Os surpreendentes habitantes do Vale da Morte
Longe de ser um deserto vazio, o Vale da Morte abriga comunidades. Em Furnace Creek, vive uma pequena população de funcionários do Serviço de Parques Nacionais e de concessionárias que operam os hotéis e serviços. A vida ali é marcada pelo isolamento, com a cidade mais próxima, Pahrump, a uma hora de carro, o que exige organização e autossuficiência.
Mas muito antes de ser um parque, o vale era “Tümpisa”, a pátria do povo Timbisha Shoshone, que vive na região há mais de mil anos. Para eles, o local não é um “vale da morte”, mas um lar ancestral rico em cultura. Após décadas de luta pelo reconhecimento de seus direitos, hoje uma pequena comunidade da tribo reside em uma aldeia dentro do parque, sendo parceira na gestão deste ambiente extremo.
Turismo de risco, o fascínio perigoso pelo calor recorde
Nos últimos anos, um novo tipo de visitante chegou ao lugar mais quente do planeta: o turista de temperatura. Muitos vêm da Europa, atraídos pela chance de tirar uma foto ao lado do famoso termômetro em Furnace Creek quando os números estão no auge. O problema é que muitos subestimam o perigo.
Apesar dos avisos constantes, é comum ver turistas caminhando com roupas inadequadas e pouca água. O resultado pode ser trágico. No verão de 2024, o calor extremo foi um fator contribuinte em pelo menos duas fatalidades e um turista sofreu queimaduras de segundo grau nos pés ao andar na areia quente. Para piorar, o resgate é um desafio, pois helicópteros muitas vezes não conseguem operar em temperaturas acima de 46°C.
Os segredos do lugar mais quente do planeta
Apesar da hostilidade, a vida se adaptou de maneiras incríveis. O rato-canguru, por exemplo, consegue viver sua vida inteira sem beber uma gota de água, extraindo toda a umidade que precisa das sementes que come. Já o raro peixe-larva de Devils Hole sobrevive em uma caverna com água a 34°C.
O parque também guarda as cicatrizes de sua história, com cidades-fantasma como Rhyolite, que floresceram durante a corrida do ouro e do bórax no final do século XIX. Hoje, o Vale da Morte serve como um laboratório vivo e um alerta. As ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas mostram, em tempo real, os efeitos de um planeta em aquecimento, tornando este lugar extremo um espelho do nosso futuro climático.