País enfrenta déficits gêmeos inéditos em magnitude, com endividamento crescente e Selic em 15% ao ano, segundo do Jornal de Brasília.
O Brasil entrou em 2025 em uma posição desconfortável entre as maiores economias do planeta. O país combina uma dívida pública bruta de 77,5% do PIB com a maior taxa de juros básicos do mundo, atualmente em 15% ao ano. Essa equação pressiona as contas públicas, amplia os chamados déficits gêmeos e reforça a percepção de fragilidade estrutural da economia nacional.
Especialistas ouvidos pelo Jornal de Brasília explicam que os déficits gêmeos o fiscal e o externo ocorrem quando o governo gasta mais do que arrecada ao mesmo tempo em que o país apresenta saldo negativo nas contas com o exterior.
Essa combinação coloca o Brasil em uma rota preocupante de desequilíbrios persistentes, já que o custo elevado da dívida limita a capacidade de investimento e reduz a competitividade frente a outras economias emergentes.
-
IBGE confirma: carne bovina acumula inflação pesada e cortes como acém e peito sobem mais de 25%
-
Elon Musk demite 500 funcionários da xAI e expõe fragilidade do mercado de inteligência artificial em pleno crescimento
-
Ministério da Fazenda lidera adesão ao teletrabalho com 10.090 servidores remotos, quase metade do quadro de pessoal
-
Brasileiros já pagam mais de R$ 6 bilhões por ano em gastos socioambientais ilegais de Itaipu, criados sem aprovação do Congresso e embutidos na tarifa de energia
O peso dos juros na dívida pública
A despesa com juros tem sido a principal responsável pelo avanço da dívida bruta. Nos 12 meses encerrados em julho de 2025, o governo desembolsou quase R$ 1 trilhão apenas em pagamentos de juros, o que levou o déficit nominal a 7,12% do PIB.
Quando se somam União, estados e municípios, a projeção chega a 8,5% do PIB, sendo 8 pontos percentuais derivados exclusivamente do custo de rolagem da dívida.
Esse cenário alimenta um círculo vicioso: o governo paga mais para se financiar, o que eleva a dívida, que, por sua vez, exige juros ainda maiores para atrair compradores de títulos públicos.
O resultado é um endividamento crescente, que saltou seis pontos percentuais em pouco mais de dois anos e meio.
A deterioração do setor externo
Além da fragilidade fiscal, o déficit em conta corrente passou de 1,4% para 3,5% do PIB em apenas 12 meses.
A piora é explicada pela desaceleração das exportações, que cresceram menos que as importações, e pelo aumento das remessas de lucros, dividendos e serviços enviados ao exterior.
Embora o déficit externo ainda seja coberto pela entrada de investimento direto estrangeiro, analistas alertam que a tendência é insustentável se não houver ajuste interno.
A perda de competitividade da balança comercial expõe a economia a choques cambiais e amplia a dependência de capitais externos.
Estrangulamento do investimento e efeito “crowding out”
O peso da dívida e dos juros altos também reduz o espaço para investimentos públicos e privados. O investimento público, que já representou 5% do PIB, hoje está em menos de 2%, apesar da carga tributária elevada, em torno de 34% do PIB.
Para o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, esse fenômeno gera o chamado “crowding out”, quando o setor privado reduz investimentos porque compete com o governo na disputa por crédito.
Isso ajuda a explicar por que a taxa de investimento total do Brasil segue em apenas 17% do PIB, enquanto países asiáticos investem acima de 30%.
O desafio estrutural até 2027
De acordo com análises de economistas como Samuel Pessôa (Ibre-FGV) e Marcus Pestana (Instituição Fiscal Independente), o principal problema brasileiro não está apenas no déficit externo, mas na incapacidade de gerar superávits primários consistentes.
Sem isso, a trajetória da dívida continuará em alta, mesmo com cortes graduais na Selic previstos para os próximos trimestres.
As projeções indicam que o desequilíbrio deve persistir até, pelo menos, 2027, quando será necessária uma solução mais robusta para conter o avanço da dívida e reduzir a dependência de juros elevados.
Até lá, o Brasil seguirá sendo observado como caso de alerta entre grandes economias, especialmente porque, apesar de ser líder na produção de petróleo da América Latina, não consegue converter essa riqueza em equilíbrio fiscal e externo.
O Brasil enfrenta hoje um quadro de endividamento elevado, juros recordes e déficits gêmeos que o coloca como destaque negativo no cenário global. Embora o país ainda consiga atrair investimentos externos, a sustentabilidade dessa estratégia é incerta.
E você, acredita que o Brasil conseguirá reverter esse ciclo de endividamento e juros altos nos próximos anos, ou a tendência é de agravamento da vulnerabilidade econômica?
Deixe sua opinião nos comentários sua visão é fundamental para esse debate.