O Canal do Sertão Alagoano soma 250 km previstos, já superou R$ 1 bilhão em investimentos e tem meta de abastecer 42 municípios com água do rio São Francisco, impulsionando consumo humano e irrigação
O Canal do Sertão Alagoano é uma das maiores obras hídricas do Nordeste e foi concebido para mudar a rotina do semiárido de Alagoas. A estrutura capta água do São Francisco no reservatório de Moxotó e a conduz por um corredor de canais para consumo humano e produção agrícola, em uma região historicamente marcada pela seca.
Com 250 km de extensão total planejada, a obra avança por trechos e já soma mais de R$ 1 bilhão em recursos. A meta oficial é chegar a 42 cidades atendidas até 2026, ampliando segurança hídrica, produtividade no campo e renda local. Em um estado com forte pressão por água, o canal funciona como um seguro contra a estiagem.
O que é o Canal e como ele funciona
O Canal do Sertão Alagoano capta água do rio São Francisco na Usina Hidrelétrica de Moxotó e distribui o recurso por meio de canais escavados e estruturas de controle.
-
Teleférico do Alemão custou R$ 210 milhões, ficou 9 anos parado e agora passa por nova reforma de R$ 115 milhões para tentar voltar a operar
-
Ferrovia Norte–Sul tem 4.155 km e cortará 12 estados: obra começou há 38 anos e já atravessou cinco governos, duas recessões e uma pandemia
-
O fim de uma era: rivais Milan e Inter se unem, compram San Siro por €197 milhões e estádio será demolido para construção de arena de 1,2 bilhão no lugar
-
Um exército de 1.500 trabalhadores ergueu uma estação ferroviária em 9 horas e provou por que a China domina a engenharia moderna
A ideia central é simples e poderosa: levar água onde ela não chega com regularidade, reduzindo a dependência de carros-pipa e poços intermitentes.
Os trechos entregues seguem padrões físicos semelhantes, com largura média de 15 metros e profundidade próxima de 3 metros, além de dispositivos de tomada d’água para comunidades e projetos de irrigação.
Quanto mais derivações e pontos de entrega operando, maior o alcance social e produtivo do sistema.
Tamanho, cronograma e metas
O projeto completo prevê 250 km divididos em etapas.
Em 2015 foi entregue o Trecho III, com 28,2 km, e em 2024 o eixo já passava de 123 km executados, com frentes aceleradas entre os km 123,4 e 150.
A meta de atendimento é chegar a 42 municípios até 2026, priorizando Sertão e Agreste.
A expansão ocorre por marcos de obra e de operação: conclusão de segmentos, interligações e abertura de novos pontos de entrega.
Cada quilômetro que entra em serviço amplia o número de famílias abastecidas e a área irrigável.
Quem ganha e de que forma
O primeiro impacto é humano: mais de 1 milhão de pessoas estão no raio de influência estimado do canal.
Água regular em casa melhora saúde pública, libera tempo das famílias e reduz custos municipais com emergências hídricas.
No campo, o efeito é econômico: produtores conseguem plantar mesmo em estiagem, planejar safras e acessar mercados.
A irrigação é o multiplicador. Em 2024, 9.500 hectares na área de influência foram qualificados para projetos no PPI, enquanto o estado direcionou R$ 20 milhões em 2025 para irrigação vinculada ao canal.
Quando a água é previsível, o produtor investe em tecnologia, aumenta produtividade e renda.
Quanto custa e quem paga
O empreendimento já superou R$ 1 bilhão em investimentos somando etapas anteriores e novas fases.
Em 2024 foram autorizados mais de R$ 500 milhões no Trecho 5, incluindo R$ 565 milhões liberados para acelerar as obras.
Os recursos vêm da União e do Governo de Alagoas, com o projeto inserido no PAC.
Além do capex de construção, há custos recorrentes: operação, manutenção, energia e gestão de demandas locais.
Planejar a sustentabilidade financeira do sistema é tão importante quanto concluir os quilômetros de canal.
Como a água chega às casas e às lavouras
A água percorre o eixo principal e segue para estações de derivação, que alimentam adutoras urbanas e projetos irrigados.
Para que o benefício chegue na ponta, é preciso integrar o canal com estações de tratamento, reservatórios e redes municipais. Sem essa malha fina, a água passa perto, mas não chega à torneira.
Na agricultura, os municípios e cooperativas organizam lotes irrigáveis com critérios de uso, medição e cobrança.
A governança local define quem recebe, quanto recebe e como paga, garantindo operação contínua e redução de perdas.
Gargalos e riscos que precisam de atenção
Alguns pontos são críticos para o sucesso até 2026:
Conexões municipais ainda ausentes ou subdimensionadas. Sem adutoras, ETAs e reservatórios, o alcance social fica limitado.
Perdas e vazamentos em trechos novos e antigos. Monitoramento e manutenção preventiva preservam vazão e orçamento.
Regularidade orçamentária para concluir obras e operar o sistema. Paralisações elevam custo e adiam benefícios.
Gestão de conflito de usos entre consumo humano e irrigação. Regras claras evitam disputa nos períodos de escassez.
O que muda com a conclusão até 2026
Se o cronograma for cumprido, 42 cidades terão uma fonte confiável do São Francisco. Isso significa menos colapso por seca, mais lavouras perenes e mais empregos.
No médio prazo, a tendência é redução de custos com emergências hídricas, maior segurança alimentar e atração de agroindústrias para processamento local.
Quando a água chega na hora certa, a economia local muda de patamar. O desafio é transformar os quilômetros de concreto em serviço contínuo para a população e em produtividade para o campo.