Durante 135 anos, a Igreja de Ulm foi a mais alta do mundo. Símbolo da Alemanha, ela resistiu a séculos de guerras, milagres, lendas e curiosos episódios urbanos
Durante 135 anos, a Igreja de Ulm, na Alemanha, manteve o título de igreja mais alta do mundo. Esse posto só foi superado em outubro de 2025, quando a Sagrada Família, em Barcelona, atingiu 162 metros de altura — apenas um metro a mais. O feito espanhol, no entanto, ainda é controverso, já que o templo catalão sequer foi inaugurado.
O recorde tem significados diferentes. A Igreja de Ulm nasceu em um tempo em que estruturas religiosas competiam em altura e grandiosidade, quando não existiam arranha-céus nem torres de comunicação.
Hoje, o título pode parecer simbólico, mas, no século 19, representava um triunfo arquitetônico e espiritual.
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Além disso, Ulm continua impressionando por sua história singular. Construída com recursos populares e concluída mais de 500 anos depois do início das obras, ela resistiu ao tempo, às guerras e até a ameaças insólitas.
Uma cidade de gênios
Ulm está localizada no sul da Alemanha, às margens do rio Danúbio, no estado de Baden-Württemberg. Surgida na Idade Média, foi uma cidade imperial livre do Sacro Império Romano-Germânico.
Ao longo da história, o município foi palco de momentos decisivos para grandes nomes da humanidade.
Descartes teria desenvolvido ali parte de seu método filosófico. Johannes Kepler viveu na cidade. E Albert Einstein nasceu em Ulm.
No centro desse passado está a Ulmer Münster, a principal igreja e símbolo da cidade. Diferente de outras catedrais europeias, ela não foi financiada por nobres nem pela Igreja.
A população local arrecadou os fundos, movida por devoção e orgulho cívico. O projeto começou em 1377 e atravessou gerações, como lembra o site de turismo local: “a população iniciou um projeto no fim do século 14 sabendo que não viveria para vê-lo pronto”.
Arquitetos e ambições medievais
A trajetória da igreja reflete a forma como os grandes mestres construtores medievais atuavam. Em 1392, Ulrich von Ensingen assumiu as obras.
Ele ergueu a torre oeste e logo recebeu uma oferta tentadora: trabalhar na Catedral de Milão, que começava a ser erguida.
Após breve passagem pela Itália, retornou a Ulm, retomando o comando vitalício do projeto. Mesmo assim, dois anos depois, partiu novamente — desta vez para Estrasburgo.
Durante décadas, Ensingen e sua família alternaram-se entre Ulm e outras cidades, deixando marcas em diversos templos góticos da Europa Central.
Mesmo com tantas interrupções, a construção da igreja prosseguiu lentamente até o século 16, quando o dinheiro acabou e as obras foram suspensas.
Em 1530, a cidade aderiu à Reforma Protestante, e o templo passou a ser luterano. O projeto ficou parado por três séculos.
A retomada no século 19
Somente no século 19, Ulm decidiu concluir a sua obra-prima. O avanço da engenharia e o renascimento do interesse por arquitetura gótica deram novo fôlego ao projeto.
Em 1890, finalmente, a igreja foi inaugurada com dimensões extraordinárias: vitrais de 15 metros, capacidade para 20 mil pessoas e um órgão com quase 9 mil tubos.
O campanário atingiu 161,5 metros, transformando-a em um dos edifícios mais altos do planeta.
A torre se tornou o grande orgulho da cidade. Turistas podem subir seus 768 degraus até uma plataforma de observação a 143 metros de altura.
Lá de cima, a vista é deslumbrante, e a sensação de estar acima de quase toda a cidade compensa o esforço.
A lenda do pardal engenhoso
Entre as curiosidades que cercam a construção da igreja, uma das mais famosas envolve um pequeno pardal.
Reza a lenda que, durante a obra, os construtores enfrentaram dificuldade para transportar uma viga de madeira através do portão da cidade.
Desanimados, cogitaram demolir o portão, até que viram um pardal carregando um galho no bico — na vertical, e não na horizontal.
A cena inspirou os trabalhadores, que conseguiram resolver o problema sem destruir nada. O pássaro virou um símbolo local. Hoje, o “pardal de Ulm” aparece em estátuas, telhados, doces e lembranças vendidas aos turistas.
Ele é considerado um mascote que representa a engenhosidade e a perseverança dos moradores.
Guerras e milagres
A antiga igreja de Ulm, que ficava fora dos muros da cidade, era vulnerável a invasões. Por isso, a nova construção foi erguida dentro das muralhas, símbolo de segurança e fé.
Contudo, os muros, outrora estratégicos, tornaram-se inúteis séculos depois, quando a guerra moderna chegou.
Em dezembro de 1944, a Força Aérea Real britânica bombardeou Ulm. O ataque destruiu 80% do centro histórico, mas a igreja milagrosamente ficou de pé.
Poucos meses depois, em 1945, uma bomba de 500 quilos caiu sobre o coro e não explodiu. A estrutura sobreviveu intacta, tornando-se símbolo de resistência para os alemães no pós-guerra.
O inimigo mais inusitado
Depois de resistir a séculos de intempéries e guerras, a igreja enfrentou um adversário inesperado: os urinadores de rua.
Na década de 2010, a prefeitura de Ulm se viu diante de um problema curioso — e constrangedor. Durante eventos e festas na praça da igreja, visitantes usavam os muros do templo como banheiro.
As multas aplicadas, inicialmente de 50 euros, não tiveram efeito. Nem mesmo o aumento para 100 euros resolveu a situação.
O problema não era apenas de mau cheiro: os sais e ácidos da urina estavam corroendo o arenito restaurado da base da igreja, danificando a estrutura.
Em festivais de vinho e feiras natalinas, o cenário chegava a ser alarmante, com manchas e até vômito nas paredes do templo.
Proteção e preservação da igreja
A administração municipal, preocupada com os danos, passou a instalar mais banheiros públicos e reforçar o policiamento durante os eventos.
A medida ajudou a reduzir os incidentes e preservar o patrimônio. A situação serviu de alerta para os moradores sobre a importância de cuidar da obra que levou meio milênio para ser concluída.
Hoje, a Igreja de Ulm continua sendo uma atração turística de destaque na Alemanha. A praça em seu entorno abriga feiras, concertos e celebrações, mantendo viva a relação da cidade com o templo que ajudou a construir.
Mesmo diante dos séculos, a história da igreja segue como um retrato da persistência humana.
Igreja de Ulm: Um monumento à resistência
A Ulmer Münster é mais do que uma construção gótica. É um testemunho da fé, da paciência e da engenhosidade de gerações inteiras.
Erguida por mãos de cidadãos comuns, sobreviveu à passagem do tempo, às guerras mundiais e até ao descuido moderno.
Sua torre de 161,5 metros continua apontando para o céu, lembrando que algumas obras humanas são capazes de atravessar séculos — e ainda assim permanecer de pé.
Com informações de Nossa.uol.


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