Maior fábrica de papel e celulose das Américas, em Três Lagoas, produz 3,2 milhões de toneladas por ano e funciona como uma cidade sustentável
No coração de Mato Grosso do Sul, uma estrutura colossal redefine o conceito de indústria moderna no Brasil. Localizada em Três Lagoas, a fábrica da Suzano S.A. impressiona por sua escala monumental: são 1,2 milhão de metros quadrados de área construída, mais de 7 mil trabalhadores diretos e indiretos e uma capacidade anual de 3,2 milhões de toneladas de celulose de eucalipto. O que nasceu como um projeto ambicioso de expansão tornou-se hoje a maior fábrica de papel e celulose das Américas — e uma das mais sustentáveis do planeta.
Um colosso industrial que funciona como uma cidade
Ao entrar no complexo da Suzano, é impossível não compará-lo a uma cidade em funcionamento. O local possui ruas internas pavimentadas, sistemas próprios de energia e tratamento de água, refeitórios, áreas de convivência, estacionamentos, escritórios e até estruturas de transporte interno. São milhares de pessoas circulando diariamente, em um ritmo contínuo de operação 24 horas por dia, sete dias por semana.
A magnitude da estrutura impressiona: o complexo industrial ocupa 40 km² de área total, considerando as florestas plantadas, áreas de preservação e zonas logísticas.
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O coração do sistema é formado por duas linhas de produção, conhecidas como Projeto Horizonte I e Horizonte II, inauguradas em 2012 e 2017, respectivamente.
O investimento na expansão da unidade superou US$ 2,7 bilhões, um dos maiores da história recente do setor florestal brasileiro. O impacto econômico foi tão grande que Três Lagoas passou a ser chamada de “Capital Mundial da Celulose”, abrigando também outras gigantes do setor.
Centro de tecnologia e eficiência energética
Além do tamanho, o que diferencia a planta da Suzano é sua inteligência industrial. A unidade foi projetada com os mais altos padrões de automação e sustentabilidade.
O processo de produção utiliza energia autossuficiente, gerada pela queima da lignina — um subproduto da madeira em caldeiras de alta eficiência. Essa energia alimenta todo o complexo, e o excedente é enviado à rede elétrica nacional, abastecendo cidades vizinhas.
O sistema de reaproveitamento de água também é referência global: 99,7% de toda a água utilizada no processo é tratada e reutilizada, minimizando o impacto ambiental e reduzindo drasticamente o consumo hídrico.
A fábrica opera ainda com sensores automatizados e controle digital de processos, garantindo precisão nas etapas de cozimento, branqueamento e secagem da celulose.
Sustentabilidade e economia circular
O modelo produtivo da Suzano em Três Lagoas foi desenhado para seguir o conceito de economia circular, em que praticamente tudo se transforma.
Os resíduos sólidos são reaproveitados para gerar energia; os gases resultantes da queima da biomassa são convertidos em vapor; e até as cinzas produzidas nas caldeiras voltam ao solo como fertilizantes.
Além disso, a empresa mantém mais de 100 mil hectares de áreas de preservação ambiental ao redor das plantações de eucalipto, formando corredores ecológicos que protegem espécies nativas do Cerrado.
Segundo o relatório de sustentabilidade da companhia, cerca de 40% da área total do complexo é destinada exclusivamente à conservação da biodiversidade.
A Suzano também investe em programas sociais voltados à comunidade local, promovendo capacitação profissional, inclusão social e incentivo à educação técnica.
Motor da economia do Centro-Oeste
A presença da maior fábrica de papel e celulose das Américas transformou completamente a economia de Três Lagoas e da região Centro-Oeste.
Desde a implantação do primeiro módulo industrial, o município viu seu PIB triplicar e o número de empregos formais disparar. Hoje, a cidade é considerada um dos maiores polos industriais do Brasil e concentra uma cadeia produtiva que inclui transporte, metalurgia, energia, química e serviços especializados.
Estima-se que, para cada vaga direta dentro da fábrica, outras cinco vagas indiretas sejam geradas em empresas de apoio, como fornecedoras de equipamentos, manutenção, transporte e alimentação.
A arrecadação de impostos municipais e estaduais também cresceu de forma significativa, tornando Três Lagoas uma das cidades de maior arrecadação per capita do estado.
Tecnologia brasileira com impacto global
A celulose produzida em Três Lagoas é enviada para mais de 60 países, com destaque para China, Estados Unidos, Alemanha, França e Itália, onde é utilizada na fabricação de papéis sanitários, de impressão, embalagens e até produtos hospitalares.
O Brasil é hoje o maior exportador de celulose de fibra curta do mundo, e grande parte desse título se deve à operação da Suzano em Mato Grosso do Sul.
O porto de Santos (SP) é o principal destino da produção, que segue em trens e caminhões especializados.
A cada ano, mais de 100 mil contêineres partem de Três Lagoas rumo aos terminais marítimos, levando um produto 100% nacional que se tornou referência de qualidade e sustentabilidade.
Um modelo de futuro para a indústria brasileira
Enquanto o mundo busca reduzir emissões e tornar a produção industrial mais limpa, o modelo adotado pela Suzano é frequentemente citado em fóruns internacionais de sustentabilidade.
A empresa integra o Pacto Global da ONU, participa de projetos de reflorestamento e é uma das pioneiras na emissão de green bonds (títulos verdes) para financiar expansão sustentável.
A automação da fábrica também é uma vitrine da indústria 4.0 no Brasil: robôs são utilizados na movimentação de fardos de celulose, drones monitoram as florestas e sistemas de big data controlam o consumo de energia em tempo real.
Esse ecossistema tecnológico posiciona o país como uma das lideranças globais no setor de base florestal combinando alta produtividade com responsabilidade ambiental.
De Três Lagoas para o mundo: o poder do eucalipto brasileiro
O segredo da eficiência da fábrica está na matéria-prima nacional. O eucalipto cultivado no solo do Centro-Oeste cresce até três vezes mais rápido do que o de países nórdicos, graças às condições climáticas favoráveis.
Isso permite uma produção mais sustentável e competitiva, reduzindo o tempo de rotação das florestas e garantindo uma das menores pegadas de carbono do setor.
Com o avanço das exportações e a busca crescente por produtos recicláveis, a celulose brasileira tende a se tornar ainda mais estratégica na transição global para materiais de origem renovável.
Uma cidade industrial que não para de crescer
Quase duas décadas após sua inauguração, o complexo da Suzano continua se expandindo. Novos investimentos em infraestrutura e tecnologia estão previstos para os próximos anos, incluindo projetos de bioprodutos derivados da madeira como bioplásticos e combustíveis sustentáveis.
Para a população local, o impacto vai além dos números: a fábrica impulsionou a modernização da cidade, atraiu novas empresas e transformou Três Lagoas em um dos principais polos industriais e logísticos do Brasil.
Mais do que uma planta fabril, o local é um organismo vivo, onde tecnologia, natureza e pessoas coexistem em harmonia.
Um gigante que simboliza o novo Brasil industrial
A maior fábrica de papel e celulose das Américas é um exemplo de que o Brasil pode liderar setores de alta produtividade com base em inovação e sustentabilidade.
Com seus 1,2 milhão de metros quadrados, 3,2 milhões de toneladas produzidas por ano e um modelo de operação autossuficiente, o complexo da Suzano mostra que o país tem competência para transformar recursos naturais em riqueza com responsabilidade.
Assim como Itaipu é um símbolo de energia e Embraer da tecnologia, Três Lagoas se consolida como o retrato do poder industrial verde brasileiro um lugar onde o som das máquinas se mistura ao canto das florestas e onde o progresso se mede não apenas em toneladas, mas em legado ambiental e social.