Levantamento nacional mostra que carga tributária e burocracia estão entre os maiores obstáculos ao crescimento da indústria brasileira.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que 70% dos empresários industriais apontam o pagamento de tributos como o principal vilão do chamado Custo Brasil. Logo em seguida aparece a dificuldade para contratar mão de obra qualificada, mencionada por 62% dos entrevistados.
Outros entraves citados foram a dificuldade para financiar o negócio (27%), a insegurança jurídica e regulatória (24%) e a falta de competitividade justa (22%).
O levantamento foi encomendado ao Instituto de Pesquisas Nexus e ouviu 1.002 empresários de indústrias de pequeno, médio e grande portes, em todas as regiões do país, entre 14 de julho e 7 de agosto de 2025.
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Além desses fatores, os entrevistados também apontaram o acesso a insumos básicos (20%), a dificuldade para inovar (14%), a precariedade da infraestrutura (12%), o acesso a serviços públicos (10%), a baixa integração internacional (4%) e as dificuldades para abrir, retomar ou encerrar negócios (3%).
CNI lança campanha sobre o Custo Brasil
A pesquisa integra a nova campanha “Custo Brasil”, lançada nesta segunda-feira (15) pela CNI. A iniciativa busca mostrar o impacto desse conjunto de problemas na rotina das empresas e na vida dos consumidores, além de propor caminhos para superar as ineficiências.
O termo “Custo Brasil” surgiu no fim da década de 1990 para descrever as dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem os custos das empresas, prejudicam investimentos e comprometem a competitividade do país.
“Todos os anos, jogamos fora mais de 20% do PIB brasileiro por não resolvermos dificuldades estruturais, como tributos, financiamento, qualificação de pessoas e infraestrutura”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban. Segundo ele, esse valor equivale a todos os gastos da máquina estatal com servidores públicos em 2025.
Impacto direto para os consumidores
O levantamento mostrou que 77% dos empresários acreditam que o Custo Brasil aumenta os preços finais pagos pelos consumidores. No Nordeste, essa percepção é ainda maior: 93% dos respondentes afirmaram que o problema resulta em aumentos expressivos nos preços.
No Sul, esse índice chega a 87%, seguido pelo Sudeste (78%) e Norte/Centro-Oeste (76%). Para 64% dos empresários, o impacto do Custo Brasil cresceu nos últimos três anos, contribuindo para a elevação dos preços. Por isso, 78% consideram reduzir esse custo uma prioridade estratégica para as empresas.
Principais fatores que elevam o custo
A pesquisa também comparou a percepção dos empresários brasileiros com a realidade de países ricos. Segundo os entrevistados, os fatores que mais encarecem a competitividade internacional são pagar tributos (66%), financiar o negócio (66%) e retomar ou encerrar um negócio (60%).
“Precisamos reduzir o Custo Brasil para promover a competitividade da indústria e um ambiente de negócios mais eficiente, estimulando a indústria brasileira tanto no mercado interno quanto externo”, afirmou o vice-presidente da CNI, Léo de Castro. Segundo ele, isso permitiria que os brasileiros tivessem acesso a produtos mais baratos e melhor qualidade de vida.
Quando questionados sobre os riscos de não enfrentar o problema, os empresários apontaram como principal consequência o aumento de falências e fechamento de empresas (24%), seguido de crise e recessão econômica (19%) e perda de competitividade (10%).
Redução de juros e processos trabalhistas
A pesquisa também abordou as medidas que poderiam estimular os investimentos no setor industrial. Para 77% dos empresários, haveria aumento no nível de investimento caso a taxa de juros sobre empréstimos para empresas fosse reduzida pela metade.
Entre esses, 31% afirmaram que o investimento “aumentaria muito” e 46% disseram que “aumentaria”. Além disso, 56% acreditam que a redução dos processos trabalhistas impulsionaria a contratação de mão de obra.
Outros 46% indicaram que adotariam a estratégia de empregar mais trabalhadores e investir simultaneamente. “A pesquisa revela um forte consenso no setor empresarial: a redução dos processos trabalhistas e das taxas de juros são um gatilho direto para um ciclo virtuoso de crescimento econômico”, concluiu Léo de Castro.