Estruturas subaquáticas de gelo, recentemente descobertas no fundo do mar Ártico, estão deixando cientistas perplexos
Em uma expedição ao Mar de Beaufort, no Ártico canadense, pesquisadores fizeram uma descoberta surpreendente: vastas formações subaquáticas de gelo, em uma região previamente inexplorada.
Utilizando tecnologia avançada do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI), a equipe encontrou essas formações enquanto investigava o impacto do derretimento do permafrost subaquático, um fenômeno resultante de processos climáticos e geológicos antigos.
Essa descoberta chamou atenção porque revelou um processo desconhecido de formação de gelo no fundo do mar, causado pela migração e recongelamento de águas subterrâneas salobras.
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Essas águas são geradas pelo derretimento do antigo permafrost submerso, que, ao se elevar à superfície, congela ao entrar em contato com as águas frias do fundo do oceano.
A origem do gelo moderno do pernaltos submarino no Mar Ártico
As camadas de gelo observadas não são as mesmas que se formaram durante a última era glacial, mas são de origem mais recente.
Elas resultam do degelo de camadas mais profundas de permafrost subaquático, que libera água salobra. Essa água, ao subir para camadas mais frias perto da superfície do fundo do mar, recongela.
A temperatura média nessa região é de cerca de -1,4 graus Celsius, o que facilita a formação dessas novas camadas de gelo.
Essa dinâmica faz com que o fundo do mar seja moldado por um ciclo contínuo de derretimento e recongelamento, criando uma paisagem complexa e em constante mudança.
Crateras, montes e depressões são evidências visíveis dessa atividade, onde a interação entre variações na salinidade da água e mudanças na temperatura desempenha um papel crucial.
O impacto das mudanças climáticas antigas
É importante destacar que o derretimento do permafrost no fundo do mar Ártico não está diretamente relacionado às mudanças climáticas causadas pelo homem, mas sim a processos naturais que ocorreram ao longo de milênios.
Após a última era glacial, o nível do mar subiu e cobriu grandes porções do antigo permafrost que agora está lentamente descongelando devido ao calor proveniente das profundezas da Terra.
Esses eventos têm implicações diretas para a geografia submarina do Ártico. Quando a água do permafrost derretido sobe e congela novamente ao entrar em contato com as águas frias do fundo do mar, ela cria montes e cristas de gelo, enquanto bolhas de água derretem as camadas de gelo, resultando na formação de grandes crateras.
Pesquisa de longa data no Ártico
O MBARI, junto a instituições de pesquisa de diversos países, está conduzindo estudos no Ártico desde 2003, aproveitando a retração do gelo marinho que tem tornado essa área mais acessível. Em 2010, pesquisadores canadenses mapearam pela primeira vez o terreno acidentado do fundo do mar, e em 2013, o MBARI utilizou veículos subaquáticos autônomos (AUVs) para fazer levantamentos de alta resolução.
Ao longo de 12 anos, cinco levantamentos subsequentes revelaram a formação de 65 crateras, incluindo uma enorme cratera com o tamanho de um quarteirão de edifícios de seis andares. Essa atividade vulcânica submarina é um indicativo da natureza dinâmica do fundo do mar ártico.
Em 2022, uma nova expedição, a bordo do quebra-gelo de pesquisa Araon, utilizou AUVs do MBARI para identificar crateras recém-formadas e, em seguida, explorar visualmente essas áreas com o MiniROV, um veículo operado remotamente. As imagens capturadas revelaram as misteriosas formações de gelo dentro dessas crateras.
Implicações para o Ártico
As descobertas dos pesquisadores abrem uma nova perspectiva sobre o permafrost subaquático, que antes era visto como um resquício da última era glacial. Agora se sabe que a formação de gelo continua acontecendo ativamente nas condições atuais, o que desafia a compreensão anterior e requer a adaptação das ferramentas de pesquisa para mapear corretamente o permafrost submarino.
Essa revelação também traz desafios para políticas públicas e para a construção de infraestrutura no Ártico, como explica o geólogo Charlie Paull, do MBARI. “Essas mudanças drásticas no fundo do mar têm implicações para a infraestrutura submarina no Ártico”, afirma Paull. Com o aumento da exploração e do desenvolvimento na região, será necessário levar em conta a constante transformação do terreno subaquático.
Formação de gelo a partir de águas subterrâneas salobras
O estudo das camadas de gelo revelou que elas se formam a partir de águas subterrâneas salobras que, ao se aproximar da superfície, congelam novamente. Esse fenômeno é responsável pela criação de bolhas de gelo no fundo do mar, que eventualmente formam montes com núcleos de gelo cobertos por sedimentos.
As análises isotópicas feitas pelos cientistas confirmaram que o gelo era originário dessas águas subterrâneas, que se elevam devido ao degelo do antigo permafrost. Pequenas variações de temperatura e salinidade podem influenciar o processo, alternando entre o derretimento e o congelamento de diferentes camadas de gelo.
Esses processos não apenas modificam a paisagem submarina, como também levantam questões sobre a localização do permafrost em toda a plataforma Ártica. O que antes era visto como uma formação fixa e estável agora se revela como um sistema dinâmico, sujeito a mudanças constantes.