O evento GW190521 surpreendeu astrônomos por não apresentar o sinal de “inspiral” típico de fusões de buracos negros, levantando hipóteses que vão desde fenômenos astrofísicos raros até a possibilidade de um eco gravitacional vindo por um túnel cósmico teórico.
Quando o Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro a Laser (LIGO) registrou pela primeira vez uma onda gravitacional em 2015, abriu-se uma nova era para a astronomia.
Desde então, centenas de eventos foram observados, a maioria proveniente da fusão de buracos negros ou estrelas de nêutrons. Mas em 21 de maio de 2019, um sinal específico, chamado GW190521, intrigou a comunidade científica por não seguir o padrão esperado.
Normalmente, essas detecções apresentam o chamado “inspiral”, um aumento progressivo na frequência da onda gravitacional à medida que os objetos se aproximam antes da fusão. No entanto, GW190521 mostrou apenas um curto “ringdown”, sem o característico “canto” inicial. A informação foi publicada por Popular Mechanics
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O enigma por trás da fusão
Esse detalhe é intrigante porque o evento resultou em um buraco negro de massa intermediária, com 142 vezes a massa do Sol. Numa situação como essa, os cientistas esperavam capturar o inspiral de forma clara. Algumas hipóteses foram levantadas: talvez os buracos negros tenham se fundido dentro de um núcleo galáctico ativo (AGN) ou em um poço gravitacional mútuo, o que teria encurtado a fase de aproximação.
Porém, uma equipe de cientistas chineses publicou recentemente no arXiv uma hipótese ainda mais ousada: e se o sinal fosse, na verdade, um eco gravitacional atravessando um buraco de minhoca?
Buracos de minhoca e ecos cósmicos
De acordo com os pesquisadores, o sinal de ringdown poderia ter se originado da fusão de buracos negros em outro universo, com a onda gravitacional atravessando a “garganta” de um buraco de minhoca, uma estrutura prevista pela relatividade geral, mas até hoje puramente teórica.
Embora os modelos de fusão binária de buracos negros ainda sejam considerados a explicação mais provável, a análise estatística mostrou resultados muito próximos, sem excluir totalmente a possibilidade de uma passagem por um Einstein-Rosen bridge, como os físicos chamam matematicamente esse tipo de túnel cósmico.
Os próprios autores ressaltam que melhorias nos modelos de eco gravitacional podem no futuro aumentar a força estatística da hipótese do buraco de minhoca.
O futuro da astrofísica de ondas gravitacionais
GW190521 não é o único caso estranho. Em novembro de 2023, outro evento de curta duração também foi registrado, indicando que a ciência ainda tem muito a descobrir sobre os mecanismos cósmicos que geram essas ondulações no espaço-tempo.
Seja como for, cada nova detecção amplia o horizonte da astrofísica. E se algum dia os buracos de minhoca forem confirmados, GW190521 poderá entrar para a história como a primeira pista de um atalho cósmico entre universos.