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Cidade que sustenta 20% da sua economia com exportações para os EUA enviou carta a Trump pedindo socorro: tarifaço já causou demissões e prejuízos

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 30/07/2025 às 16:45
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Cachoeiro de Itapemirim implora ajuda a Trump com carta oficial após tarifa de 50%: cidade capixaba perdeu exportações, cortou empregos e teme colapso econômico

A cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, tornou-se o retrato mais dramático das consequências econômicas imediatas do novo tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra o Brasil. Com uma dependência quase total do mercado americano para a exportação de rochas ornamentais, o município já começou a sentir os impactos da medida antes mesmo de ela entrar oficialmente em vigor.

Desde que o ex-presidente Donald Trump enviou ao governo brasileiro, no início de julho, uma carta anunciando a criação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, mais de 1.200 contêineres com blocos e chapas de granito, mármore e quartzito deixaram de ser embarcados. A maioria desses produtos seguiria rumo à indústria da construção civil norte-americana, um dos principais consumidores das rochas brasileiras.

A interrupção nas exportações provocou demissões diretas em empresas locais, como a Lime Stone, que cortou 31 dos seus 57 funcionários em apenas uma semana. Fundada em 2024 por uma família tradicional no setor de extração, a empresa decidiu pausar as exportações e buscar alternativas, voltando o foco para o mercado interno e estudando possibilidades na Europa e Oceania.

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“É uma situação muito triste, a gente não fica feliz com isso”, afirmou o empresário responsável pela Lime Stone, que não descarta recontratar os funcionários caso as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos sejam normalizadas. Para ele, o clima de incerteza remete ao caos vivido durante os piores momentos da pandemia.

Cidade envia apelo direto a Trump: “Esperança e desespero”

O prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, Theodorico Ferraço (PP), tomou uma atitude pouco comum: redigiu e enviou uma carta diretamente ao gabinete de Donald Trump, pedindo que o setor de rochas fosse poupado do aumento tarifário. No documento, Ferraço cita ícones culturais locais como o cantor Roberto Carlos e o escritor Rubem Braga para tentar sensibilizar o ex-presidente norte-americano.

Trecho da carta enviada pela prefeitura de Cachoeiro a Trump

Segundo ele, quase 700 empresas da cidade trabalham diretamente com o beneficiamento de mármore e granito, empregando cerca de 9.500 pessoas — número que corresponde a aproximadamente 20% da população economicamente ativa do município. A cadeia de produção é tão relevante que uma paralisação mais duradoura poderia comprometer até 30% da arrecadação local.

“Se não puder tirar o tarifaço de tudo, que tire pelo menos do nosso mármore e granito. A esperança e o desespero estão muito grandes no meio empresarial, e isso automaticamente se transmite para os empregados”, afirmou Ferraço em entrevista.

Apesar de ainda não haver uma definição oficial sobre quais produtos exatamente serão afetados a partir de 1º de agosto, a incerteza já é suficiente para paralisar operações. Nesta semana, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, chegou a declarar que alguns itens — como café e manga — poderiam ser isentos da nova taxa, mas não mencionou explicitamente o Brasil ou as rochas ornamentais.

Além do Espírito Santo, outros estados também devem ser afetados pela medida, como o Ceará, que lidera as exportações de pescados. Ferraço estima que, no ranking de prejuízos, o Espírito Santo aparece logo atrás.

Empresas buscam alternativas para sobreviver ao tarifaço

Entre as companhias que operam quase exclusivamente com foco no mercado norte-americano, a Brothers in Granite é um exemplo emblemático. Com sede industrial em Serra (ES) e centro de distribuição próprio em Houston, Texas, a empresa embarca mensalmente até 15 contêineres com chapas de rochas naturais para os EUA.

“Nós dependemos 110% dos EUA”, declarou Daniel Salume, um dos fundadores da empresa, ao explicar a vulnerabilidade do negócio diante da nova taxação. Ele e o irmão criaram a empresa em 2007, após deixarem uma exportadora de rochas onde trabalhavam.

Blocos de granito empilhados no pátio de uma empresa em Cachoeiro de Itapemirim (ES), prontos para exportação — setor já afetado pelas novas tarifas dos EUA

Com 30 funcionários no Brasil e sete nos Estados Unidos, a Brothers in Granite já colocou parte de sua equipe em férias coletivas, aproveitando o momento de pausa para substituir maquinário. No entanto, a empresa também está analisando um plano B: importar rochas de outros países e manter a distribuição a partir da base em solo americano.

Segundo Salume, ainda há muitas dúvidas quanto à aplicação prática da tarifa de 50%. “Ninguém sabe exatamente qual é a data que conta para a taxação: se é a saída do porto no Brasil, a entrada no primeiro porto dos EUA ou a chegada ao destino final. Até agora isso não está claro para a gente.”

Setor se mobiliza internacionalmente por uma solução

A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) tem liderado um esforço internacional para tentar barrar ou ao menos postergar a aplicação das tarifas. Representantes da entidade embarcaram para Washington nesta quarta-feira, onde participarão de um encontro na embaixada brasileira.

A estratégia envolve também o apoio de entidades americanas interessadas na manutenção do fluxo de importações brasileiras. Entre elas, destacam-se o Natural Stone Institute (NSI), que representa a indústria de pedras naturais, e a National Association of Home Builders (NAHB), ligada ao setor da construção civil.

Fábio Cruz, vice-presidente da Centrorochas, explica que a ideia é negociar uma extensão de 90 dias no prazo de implementação da medida. Esse período seria crucial para estabelecer um novo acordo com tarifas mais compatíveis com as aplicadas a países concorrentes, como Índia e Turquia.

“Eu gostaria muito de acreditar que isso ainda é possível”, declarou Cruz. “A proposta é garantir que o Brasil continue competitivo no jogo internacional.”

Para muitas empresas do setor, sobretudo as de médio e grande porte, a possibilidade de redirecionar rapidamente sua produção para outros mercados é limitada. “Você tem toda uma estrutura voltada exclusivamente para exportar. E os prejuízos já estão acontecendo”, completou.

Com a proximidade da data de início da vigência das novas tarifas, reina um sentimento ambíguo entre os empresários capixabas: esperança de um acordo de última hora e desespero diante da ameaça de uma crise generalizada no setor.

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Maria
Maria
30/07/2025 17:13

QUANDO O.BOLZANARO ESTAVA . “COMANDANDO” O PAIS .. A METADE DAS LOJAS DA MINHA CIDADE FECHARAM. . MUITOS DESEMPREGOS EM SEGUIDA . COM AJUDA DO NOVO GOVERNANTE .NOSSA CIDADE VOLTOU A CRESCER.. MAIS O ,*EX TEM O PRAZER DE DESTRUIR O PAIZ ABERTAMENTE. ECONOMICAMENTE. * TRAI A NAÇÃO DA MANEIRA MAIS VIL. E O POVO AINDA PERECE COM A SOMBRA DO MAL.!!..

Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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