Investimento bilionário promete transformar Barra do Ribeiro em polo industrial e logístico, com nova fábrica de celulose, terminal portuário e milhares de empregos que podem mudar o perfil econômico do Rio Grande do Sul.
A chilena CMPC confirmou que pretende construir uma nova fábrica de celulose em Barra do Ribeiro, município com pouco mais de 12 mil habitantes na Região Centro-Sul do Rio Grande do Sul, dentro de um pacote que totaliza R$ 27 bilhões no Estado.
No mesmo projeto, a empresa quer operar um terminal dedicado à exportação no Porto do Rio Grande, peça central para escoar a produção da futura planta industrial.
Segundo a companhia e o governo gaúcho, trata-se do maior investimento privado já anunciado no RS.
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Logística ancorada no Porto do Rio Grande
A CMPC planeja um terminal de uso privado na Ponta Sul do Porto Novo, em Rio Grande, para receber e embarcar celulose rumo ao mercado externo.
Documentos de licenciamento ambiental indicam capacidade de movimentação de até 5 milhões de toneladas por ano, com fluxo por hidrovias desde Guaíba e Barra do Ribeiro até a área portuária.
O estudo descreve operação via barcaças e armazém especializado, com carregamento em navios oceânicos.
Ainda de acordo com a empresa, o terminal integra um esforço logístico mais amplo para manter a competitividade da cadeia, com hidrovia pela Laguna dos Patos e ajustes em acessos rodoviários.
Em julho, o diretor-geral de Celulose da CMPC no Brasil, Antonio Lacerda, afirmou que os estudos ambientais avançam e que a concessão da área é tratada com os governos estadual e federal.
A previsão interna é que o edital ocorra “o mais rápido possível”, alinhado ao cronograma da fábrica.
Cronograma e licenças
O governo do Rio Grande do Sul lançou, em janeiro, consulta pública para concessão de uso da área retroportuária em Rio Grande, seguida de audiência pública em fevereiro.
Como a titularidade do porto é federal, o processo de outorga depende da esfera nacional.
A expectativa externada por representantes da empresa e autoridades locais é de que a licitação ocorra até o início de 2026, etapa considerada decisiva para viabilizar a exportação global da produção.
Enquanto isso, a CMPC mantém o planejamento industrial.
Em entrevistas recentes, a direção apontou início das obras em 2026 e operação comercial a partir de 2029, caso as autorizações sigam o ritmo esperado.
O investimento total do programa, que ficou conhecido como Projeto Natureza, foi inicialmente anunciado em R$ 24 bilhões em 2024 e, desde então, foi atualizado para R$ 27 bilhões.
Impacto regional e geração de empregos
A expansão da cadeia florestal deve repercutir diretamente no mercado de trabalho.
Durante a fase de implantação, a CMPC estima cerca de 12 mil vagas entre empregos diretos e indiretos, número que coincide com o tamanho da população local.
Em apresentações públicas e agendas com a Federação das Indústrias (Fiergs), a empresa relatou encontros semanais com a prefeitura de Barra do Ribeiro para adequações urbanas, como melhorias viárias e ciclovias, de modo a absorver o pico de mão de obra no canteiro de obras.
Por consequência, setores como comércio e construção civil já registram movimento antecipado no município, segundo reportagens econômicas publicadas em junho e julho.
A administração municipal acompanha o desenho das intervenções para reduzir impactos no cotidiano e concentrar benefícios permanentes em mobilidade e serviços.
Pesquisa, inovação e qualificação em Guaíba
Além da fábrica e do terminal, o pacote prevé dobrar a área de pesquisa da CMPC em Guaíba e implantar um laboratório fitossanitário, ambos voltados a ganhos de produtividade, controle de pragas e desenvolvimento tecnológico do eucalipto.
Segundo o secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, essa frente somará cerca de R$ 200 milhões do investimento total.
A meta é sustentar a competitividade do polo gaúcho, hoje responsável pela maior parte da celulose brasileira da companhia.
Nova capacidade e papel do RS na rede global
O Rio Grande do Sul concentra a produção de celulose da CMPC no Brasil, com a unidade de Guaíba modernizada e operando após o projeto BioCMPC.
Com a nova planta em Barra do Ribeiro, o Estado deve consolidar um eixo de 5 milhões de toneladas por ano quando consideradas, em conjunto, a fábrica atual e a futura unidade, conforme informações oficiais divulgadas pelo governo gaúcho após visita técnica à empresa no Chile.
Essa escala reposiciona o RS como hub exportador estratégico nas rotas Sul-Atlântico, em especial com o terminal dedicado no Porto do Rio Grande.
No desenho logístico proposto, a celulose sairia de Guaíba e Barra do Ribeiro por via aquaviária até Rio Grande, reduzindo custos e emissões por tonelada transportada.
O arranjo, descrito no estudo ambiental, prevê operação contínua com desembarque diário mínimo projetado e utilização de um Terminal de Todas as Condições Climáticas para assegurar regularidade mesmo em cenários meteorológicos adversos.
Governança do projeto e próximos passos
Como se trata de uma concessão em área sob administração federal, o rito envolve modelagem, consulta, audiência e licitação.
Em paralelo, o licenciamento ambiental do terminal exige a apresentação de EIA/Rima e a análise da Fepam, com medidas de mitigação, programas de monitoramento e definição de áreas de influência.
Segundo a companhia, as etapas vêm ocorrendo dentro do planejado, sem atraso em relação ao calendário interno.
No campo financeiro, declarações recentes mencionaram aporte aproximado de R$ 1,2 bilhão especificamente para o terminal portuário, enquanto estudos do Estado chegaram a citar valores de referência inferiores em cenários preliminares.
A consolidação do valor dependerá do modelo de outorga, do projeto executivo e das condicionantes ambientais.
Com a atualização do investimento total para R$ 27 bilhões e a definição do Porto do Rio Grande como porta de saída, Barra do Ribeiro se projeta como novo polo industrial e a cidade de Rio Grande reforça sua vocação portuária.
A questão central, agora, é a capacidade de Estado e municípios de alinharem infraestrutura urbana, qualificação profissional e governança ambiental no ritmo exigido pelo cronograma empresarial.
Quais prioridades — moradia, mobilidade, saneamento ou formação técnica — deveriam vir primeiro para transformar esse anúncio em desenvolvimento sustentável e duradouro?