Organização criminosa usava plataforma falsa de Bitcoin para atrair vítimas, simulava altos retornos e exigia pagamentos extras. Operação em cinco estados resultou em prisões, apreensão de bens de luxo e investigação sobre lavagem de dinheiro.
A Polícia Civil do Distrito Federal desarticulou uma organização criminosa que, segundo as investigações, enganou investidores por meio de uma plataforma falsa de criptomoedas e movimentou mais de R$ 1 bilhão no ano passado.
O grupo, liderado por estrangeiros que atuavam no centro de São Paulo e se apresentavam como “doutor em economia da USP”, captava vítimas em aplicativos de mensagem e direcionava os recursos para a chamada Ebdox.
De acordo com o portal CNN Brasil, a operação, deflagrada na quarta-feira (3), cumpriu mandados no Distrito Federal, Bahia, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Roraima.
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Como o golpe funcionava
As apurações começaram após moradores do DF relatarem perdas financeiras em grupos de WhatsApp administrados por um suposto especialista com título acadêmico de alto prestígio.
Primeiro, o personagem se consolidava como referência, distribuindo dicas e análises de mercado.
Em seguida, indicava a plataforma Ebdox, que prometia ganhos elevados com operações em Bitcoin e simulava, em tempo real, saldos e rentabilidade.
O método de retirada expunha a farsa. Toda vez que as vítimas solicitavam saque, aparecia a alegação de um bloqueio imposto por uma força-tarefa da Polícia Federal.
A liberação, diziam, exigiria um pagamento adicional de 5% sobre o montante aplicado. Mesmo após a quitação dessa suposta caução, os valores não eram devolvidos. Pouco depois, a página saiu do ar, encerrando o contato com os investidores.
A Operação Ebdox
A ação policial recebeu o nome de Operação Ebdox e executou 21 mandados de busca e apreensão e três de prisão temporária.
Até o momento, duas pessoas foram presas. Em endereços ligados aos investigados, equipes recolheram cédulas em espécie e itens de luxo.
Todo o material apreendido será periciado para reconstruir o caminho do dinheiro e identificar a participação de outros envolvidos.
Estrutura do esquema criminoso
Pelo que foi identificado, os líderes do esquema são cidadãos chineses que operavam a partir do centro paulistano.
O grupo contava ainda com brasileiros responsáveis por traduzir e intermediar contatos, além de alimentar grupos on-line nos quais as orientações eram repassadas.
Segundo a PCDF, “havia uma estrutura rígida de monitoramento dessas pessoas”, que seguiam catálogos de respostas em chinês e recebiam em criptomoedas.
Essa dinâmica ajudava a padronizar abordagens e dificultar o rastreamento. A narrativa do falso currículo acadêmico desempenhava papel central na captação.
O suposto “doutor da USP” falava em termos técnicos, mantinha presença constante nas conversas e reforçava a ideia de que a Ebdox seria uma oportunidade exclusiva.
Enquanto isso, a plataforma exibia telas que imitavam corretoras legítimas, incluindo gráficos e extratos, o que ampliava a confiança de quem aportava valores crescentes.
Vítimas e prejuízos
Os resultados da fraude se espalharam por diferentes regiões. Já foram registradas mais de 400 queixas de vítimas da Ebdox.
Em Taguatinga (DF), um investidor relatou prejuízo superior a R$ 220 mil após seguir as instruções do grupo e realizar sucessivos aportes.
Casos como esse indicam que o golpe se sustentava por meses de relacionamento digital, com o uso de jargões financeiros e promessas de retorno acima da média do mercado.
Lavagem de dinheiro
No mapa do dinheiro, a polícia aponta o uso de múltiplas frentes para dar aparência de legalidade aos valores obtidos.
Entre as práticas relatadas, estão a compra de criptomoedas, a negociação de créditos de carbono e a exportação de alimentos como instrumentos de lavagem de capitais.
Ao combinar operações em diferentes setores, os suspeitos teriam reduzido a visibilidade das transferências e dificultado o rastreio.
Investigação em andamento
Com a deflagração da operação, os investigadores concentram esforços na análise de celulares, computadores, documentos e extratos apreendidos.
A expectativa é identificar a cadeia completa de repasses, mapear carteiras de criptoativos associadas ao grupo e localizar intermediários que auxiliavam na captação e na movimentação dos recursos.
Eventuais bens de alto valor recolhidos poderão, por decisão judicial, ser destinados ao ressarcimento das vítimas.
Quanto à responsabilização, os integrantes do esquema devem responder por estelionato (fraude eletrônica), organização criminosa e lavagem de capitais.
A PCDF também avalia a necessidade de cooperação com outras forças de segurança para aprofundar linhas que envolvem transações internacionais e a participação de estrangeiros.
A confirmação da identidade real de quem se passava por acadêmico e o papel de tradutores e recrutadores estão entre os pontos prioritários do inquérito.
Provas e desafios
O núcleo probatório reúne elementos recorrentes. De um lado, relatos convergentes de vítimas sobre a promessa de retorno e a exigência de 5% para liberar saques supostamente bloqueados pela PF.
De outro, o desaparecimento da plataforma após nova cobrança e o padrão de movimentações identificado pelo setor de inteligência.
Com o avanço do caso, a polícia trabalha para mensurar quantos investidores foram efetivamente alcançados pelo golpe e qual foi a extensão nacional da atuação, já que mandados foram cumpridos em quatro estados, além do Distrito Federal.
Ainda não há, publicamente, detalhes sobre valores recuperados.
A evolução dessa etapa depende da quebra de sigilo de contas, do rastreio de carteiras digitais e de cooperação com instituições financeiras e órgãos de controle.
Enquanto isso, vítimas seguem registrando boletins e informações que possam colaborar com a investigação, inclusive prints de conversas, endereços de e-mail, perfis usados pelos aliciadores e comprovantes de transferência.