China avança na transição energética ao inaugurar a maior fábrica de hidrogênio verde e amônia, com produção inicial de 320 mil toneladas por ano e meta de 5 milhões.
Nos últimos anos, a busca por fontes de energia mais limpas e sustentáveis ganhou força em todo o mundo. À medida que os impactos das mudanças climáticas se intensificam, cresce também a pressão para que países e empresas invistam em alternativas que reduzam as emissões de carbono.
Nesse contexto, dois elementos surgem como soluções promissoras e estratégicas: o hidrogênio verde e a amônia.
Por essa razão, a China, que já ocupa posição de destaque em diversas áreas tecnológicas e industriais, deu um passo crucial. Em Chifeng, a maior fábrica do mundo dedicada à produção de hidrogênio verde e amônia entrou em operação.
A empresa responsável pelo projeto, Envision Energy, iniciou suas atividades oficialmente em julho de 2025. Assim, o país reforça sua liderança na transição para uma matriz energética mais limpa.
Hidrogênio verde e amônia: o que são e por que são tão importantes?
Antes de mais nada, é essencial compreender o que torna o hidrogênio verde e a amônia tão relevantes. O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo, contudo, raramente está disponível isoladamente na natureza.
Para utilizá-lo como fonte de energia, é necessário extraí-lo de substâncias como a água ou o gás natural. Embora o método mais barato envolva o uso de gás natural — o chamado hidrogênio cinza — ele libera grandes quantidades de dióxido de carbono.
Por outro lado, o hidrogênio verde é produzido por meio da eletrólise da água, utilizando apenas energia renovável, como solar e eólica. Portanto, esse processo não gera emissões, o que o torna uma peça-chave no combate ao aquecimento global.
A amônia verde, por sua vez, é obtida ao se combinar esse hidrogênio limpo com o nitrogênio do ar. Como resultado, temos um composto que serve tanto como combustível quanto como matéria-prima industrial.
Além disso, tanto o hidrogênio quanto a amônia atuam como vetores energéticos. Isso significa que armazenam e transportam energia de forma eficiente, inclusive entre países.
Dessa forma, essas tecnologias contribuem para superar um dos principais desafios das energias renováveis: a intermitência e a dificuldade de armazenamento em larga escala.
Adicionalmente, a amônia possui vantagens logísticas consideráveis. Ela é mais fácil de transportar, liquefazer e armazenar do que o hidrogênio puro.
Por esse motivo, diversos países já vêm utilizando a amônia como meio de exportar energia limpa. Em muitos casos, ela pode ser usada diretamente em motores adaptados ou convertida de volta em hidrogênio, dependendo da necessidade.
O megaprojeto da Envision Energy em Chifeng
No caso da Envision Energy, a empresa não apenas apostou na tecnologia — ela também entregou resultados. Em sua primeira fase, a produção anual estimada chega a 320.000 toneladas.
No entanto, o plano de expansão é ainda mais ousado: atingir 5 milhões de toneladas por ano até 2028. Dessa maneira, o projeto se consolida como uma referência global em inovação energética.
Desde o início da construção, em abril de 2023, o progresso foi impressionante. Em março de 2024, a fábrica iniciou seus primeiros testes, ainda em pequena escala.
Pouco depois, em julho de 2025, a operação começou oficialmente — dois meses antes da data prevista. Isso mostra, portanto, o comprometimento da China com a inovação sustentável.
Historicamente, a China se destacou entre os maiores emissores de CO₂ do mundo, principalmente devido à sua industrialização acelerada. Ainda assim, o país tem demonstrado esforços crescentes para reduzir sua pegada ambiental.
Desde o Acordo de Paris, assinado em 2015, o governo chinês passou a estabelecer metas climáticas mais ambiciosas. Projetos como o de Chifeng evidenciam esse compromisso.
Estrutura 100% limpa e impacto ambiental direto
Para viabilizar esse megaprojeto, o governo e a Envision Energy investiram mais de 40 bilhões de yuans (cerca de 5,6 bilhões de dólares). Com esse investimento, a estrutura foi projetada para operar totalmente fora da rede elétrica convencional.
Ou seja, ela utiliza 1,43 gigawatts de energia solar e eólica, somados a 680 megawatts-hora de armazenamento, o que garante operação contínua e sem sobrecarga no sistema local.
Como resultado direto, estima-se uma redução de 9,12 milhões de toneladas de CO₂ por ano. Isso equivale a retirar mais de dois milhões de veículos das ruas anualmente. Portanto, os ganhos ambientais são expressivos.
Além disso, a fábrica vai produzir metanol verde e combustível sustentável de aviação (SAF). Esses derivados são vitais para descarbonizar setores difíceis, como o transporte aéreo e marítimo.
Outro ponto de destaque envolve os impactos socioeconômicos. Grandes projetos como esse geram empregos qualificados, promovem inovação e fortalecem a economia regional.
Engenheiros, técnicos e cientistas encontram novas oportunidades em setores com alta demanda por conhecimento especializado.
Um movimento global pela energia limpa
Ainda que o hidrogênio verde e a amônia não sejam invenções recentes, sua importância cresceu com a urgência da crise climática. A amônia já possui aplicações consolidadas na agricultura, enquanto o hidrogênio é comum na indústria.
Contudo, com a produção renovável e sem emissões, essas substâncias ganham papel central na nova economia energética.
Globalmente, diversos países também aceleram seus projetos. A Austrália, por exemplo, planeja iniciar em 2026 a construção de uma planta capaz de produzir até 9 milhões de toneladas de hidrogênio e amônia verdes por ano.
Da mesma forma, nações como Alemanha, Japão, Estados Unidos e Arábia Saudita integram iniciativas similares em seus planos de transição energética.
Portanto, a corrida pelo domínio na produção de hidrogênio verde e amônia representa um marco estratégico. Quem liderar essa nova indústria poderá redefinir sua posição geopolítica no cenário energético mundial.
Isso porque, diferentemente do petróleo, essas fontes oferecem energia limpa e mais estável.
Liderança chinesa na nova revolução energética
Considerando todos esses avanços, a China não quer apenas participar da transição — ela pretende liderá-la. Ao inaugurar a maior fábrica do mundo nesse setor, o país envia uma mensagem clara: está pronta para comandar a revolução da energia limpa e sustentável.
Com sua experiência industrial, capacidade de investimento e visão estratégica, a China amplia sua presença como referência global em energia renovável.
Se esse ritmo continuar, o projeto de Chifeng poderá servir de modelo para o mundo inteiro.