Comac avança no desenvolvimento dos widebodies C929 e C939 para quebrar o duopólio ocidental, mas enfrenta um grande obstáculo: a dependência de motores e certificações internacionais. Sem a tecnologia do Ocidente, a China pode realmente tirar seus jumbos do chão?
A China quer mudar o jogo na aviação comercial. E não é de hoje. A ambição do país de entrar no seleto grupo de fabricantes de aeronaves de fuselagem larga está mais viva do que nunca. Mas, pera lá… não é qualquer avião. Pequim não quer apenas fabricar modelos regionais ou de corredor único – como o C919, que já está no mercado. O plano agora é bem mais ousado: construir um jumbo chinês capaz de competir diretamente com a Airbus e a Boeing.
A estatal Comac (Commercial Aircraft Corporation of China) já tem projetos concretos nesse sentido, os C929 e C939. Só que tem um problema: fazer um widebody de sucesso sem a ajuda do Ocidente não vai ser nada fácil.
Os novos gigantes do ar: C929 e C939
A Comac não está só brincando de aviãozinho de papel. O C929, por exemplo, promete transportar até 440 passageiros e alcançar 12.000 km de autonomia, o que significa que ele conseguiria voar de Xangai para Nova York sem precisar parar no meio do caminho. Na prática, seria um rival direto do Boeing 787 Dreamliner e do Airbus A350.
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Já o C939, ainda em fase de estudo, deve ser ainda maior, com porte semelhante ao Boeing 777 e até mesmo ao icônico 747. A China quer esses aviões voando o quanto antes, de preferência, num prazo menor do que os fabricantes ocidentais levaram para desenvolver seus primeiros modelos de fuselagem larga. Mas a questão é: será que dá pra fazer isso sozinho?
Obstáculos no caminho: A dependência do Ocidente
Aqui começa a parte complicada da história. Construir um widebody não é só montar fuselagem e asas – a coisa é bem mais complexa. O maior desafio? Os motores. Sem eles, um avião é só um monte de metal caro estacionado no hangar.
E adivinha? A China ainda depende de motores ocidentais. O C919, por exemplo, usa turbinas fabricadas pela CFM International, uma joint venture entre a americana GE e a francesa Safran. Ou seja, se os EUA e a Europa resolverem fechar a torneira tecnológica, o sonho chinês pode ficar bem complicado.
Existe outro detalhe que muita gente esquece: a certificação internacional. Para competir no mercado global, qualquer avião precisa da aprovação de reguladores como a FAA (Administração Federal de Aviação, dos EUA) e a EASA (Agência Europeia para a Segurança da Aviação). Sem isso, esquece voar para grandes mercados como os Estados Unidos e a União Europeia. E, convenhamos, de que adianta um jumbo que não pode cruzar os principais céus do mundo?
O caso dos motores: Um gargalo tecnológico
Segundo SCMP, motores são, de longe, o maior ponto fraco da China nessa corrida. Fabricar um widebody já é complicado, mas desenvolver motores confiáveis, eficientes e competitivos é outra história. Não dá pra simplesmente colocar qualquer turbina e sair voando, segurança e eficiência são tudo nesse mercado.
A China até tenta correr atrás do prejuízo. O país está investindo no ACAEE CJ-2000, um motor de fabricação nacional. Mas, sejamos realistas, mesmo que fique pronto, vai levar anos até alcançar o nível dos motores da Rolls-Royce ou da GE. E tempo, nesse mercado, significa dinheiro – muito dinheiro.
A estratégia da China para romper barreiras
A Comac sabe que não pode se dar ao luxo de esperar a tecnologia nacional amadurecer. Então, qual é o plano? Bom, basicamente três coisas:
Dominar o mercado doméstico – A China tem um tráfego aéreo gigantesco, e widebodies já são usados em rotas internas de alta demanda, como Pequim-Shanghai. Ou seja, mesmo que o C929 e o C939 não tenham aprovação no Ocidente, sempre haverá um mercado interno garantido.
Apostar em mercados emergentes – Enquanto Airbus e Boeing dominam os céus da América do Norte e Europa, a Comac pode mirar em países da Ásia, África e América Latina, onde as exigências regulatórias são menos rigorosas. E, claro, estamos falando de mercados que têm fortes laços econômicos com a China.
Fomentar cooperação internacional – Quanto mais empresas ocidentais participarem do projeto, menor será a resistência política ao avanço da aviação chinesa. Algumas gigantes da indústria, como a alemã Liebherr, já demonstraram interesse em colaborar.