Governo chinês reforça parceria com o Brasil após novas tarifas dos EUA e intensifica presença diplomática em meio à tensão global.
O governo chinês reafirmou publicamente seu apoio ao Brasil diante da nova rodada de tarifas impostas pelos Estados Unidos.
De acordo com o portal g1, em matéria publicada nesta quarta-feira (06), o gesto, articulado pelo ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, ocorreu em meio a uma conversa telefônica com Celso Amorim, assessor especial da Presidência brasileira.
Na ocasião, Wang Yi destacou que a China apoia o Brasil na “defesa dos seus próprios direitos” e em sua resistência ao que classificou como “comportamento de intimidação” por parte das tarifas americanas.
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A manifestação do governo chinês veio após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, medida que entrou em vigor nesta quarta-feira (6).
Segundo comunicado oficial do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Yi também afirmou ser contrário à “interferência externa irracional” nos assuntos internos do Brasil, ainda que não tenha citado diretamente o governo norte-americano.
O texto, amplamente divulgado em veículos oficiais chineses, reforçou o alinhamento estratégico entre Brasil e China em meio a tensões internacionais.
O apoio chinês foi reiterado em outras frentes diplomáticas.
A Embaixada da China no Brasil, em mensagem publicada na rede social X, destacou: “A união faz a força“, sugerindo cooperação e solidariedade diante do cenário adverso.
O posicionamento da China se conecta diretamente à histórica parceria comercial entre os dois países.
Atualmente, o gigante asiático é o principal destino das exportações brasileiras, movimentando, apenas em 2024, mais de US$ 100 bilhões em comércio bilateral, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Brasil sob impacto das tarifas dos Estados Unidos
O aumento das tarifas por parte dos Estados Unidos teve origem em decisões unilaterais do presidente Donald Trump desde julho.
O republicano enviou cartas aos principais parceiros comerciais dos EUA, justificando as novas taxas em questões políticas e críticas ao processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro, conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Trump classificou a investigação como “caça às bruxas” e exigiu o fim imediato das ações judiciais.
No mesmo período, Bolsonaro se tornou réu por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, resultando em sua prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos não passou despercebida pela China.
Em julho, quando Trump anunciou o chamado “tarifaço” – que atingiu o Brasil com a maior alíquota entre todos os países taxados –, Pequim já havia criticado publicamente o uso de tarifas como instrumentos de coerção e pressão diplomática.
Em resposta oficial, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, declarou: “A igualdade de soberania e a não intervenção em assuntos domésticos são princípios importantes da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e normas básicas nas relações internacionais”.
China amplia protagonismo nas disputas internacionais
Além das declarações institucionais, Wang Yi salientou que “as tarifas dos Estados Unidos minam a ordem do comércio internacional”, ressaltando preocupações de que o aumento de barreiras poderia gerar impactos globais para países emergentes.
Esse posicionamento ecoa a atuação da China em disputas comerciais recentes, nas quais Pequim buscou fortalecer alianças estratégicas e defender princípios multilaterais de comércio.
A relação entre China, Brasil e Estados Unidos se insere em um contexto de disputa mais ampla no cenário global.
Desde o início do ano, a China também enfrentou elevação de tarifas norte-americanas sobre seus produtos, chegando a 34% em alguns casos.
Diferentemente de outros países, Pequim reagiu de forma contundente, aumentando tarifas sobre produtos dos Estados Unidos, o que desencadeou uma escalada de retaliações.
Esse movimento levou a uma disputa tarifária que atingiu 145% para determinados itens chineses nos EUA e 125% para produtos norte-americanos importados pela China.
Negociações e efeitos para o comércio brasileiro
As negociações entre Pequim e Washington avançaram apenas em maio, quando ambas as potências decidiram reduzir parcialmente as tarifas, estabelecendo 30% sobre produtos chineses nos Estados Unidos e 10% sobre bens americanos na China.
A resolução parcial desse impasse demonstra como a guerra comercial entre China e Estados Unidos influencia diretamente outros parceiros, como o Brasil, que busca manter acesso a mercados estratégicos e proteger sua economia de pressões externas.
No centro dessas disputas, a China reforça sua posição de principal parceira comercial do Brasil.
O fluxo de exportações brasileiras para o país asiático, composto majoritariamente por soja, minério de ferro e carne, representa mais de 30% do total vendido pelo Brasil ao exterior.
Essa dependência comercial torna a relação sino-brasileira ainda mais relevante diante de instabilidades provocadas por tarifas norte-americanas.
Perspectivas para o Brasil na parceria com a China
Diante do cenário atual, autoridades brasileiras observam a movimentação diplomática com cautela, ressaltando a importância de diversificar mercados e fortalecer a presença internacional.
Segundo economistas e analistas de comércio exterior, a postura chinesa de apoio ao Brasil pode contribuir para amenizar os efeitos negativos do tarifaço dos Estados Unidos, mas não elimina os desafios impostos pela dependência de poucos mercados.
A disputa tarifária evidencia a crescente complexidade das relações internacionais, nas quais decisões unilaterais podem gerar consequências amplas para países emergentes.
Especialistas apontam que a postura da China visa consolidar sua influência global e promover uma agenda de defesa do multilateralismo no comércio internacional.
Com a intensificação do apoio chinês, o Brasil encontra respaldo estratégico para resistir às pressões externas e buscar alternativas no cenário global.
No entanto, as dúvidas permanecem: a China pode ser considerada, de fato, a melhor amiga do Brasil em um ambiente internacional marcado por disputas e interesses cruzados? Até que ponto essa aliança garantirá a proteção dos interesses brasileiros no longo prazo?