Como a China amplia sua presença nas minas do Brasil
Em 2024, mineradoras chinesas intensificaram seus investimentos no Brasil e, portanto, ampliaram o controle sobre níquel, nióbio, estanho, cobre e lítio. Esses metais são essenciais para a indústria de alta tecnologia e também para a transição energética global.
Conforme dados do Brazil-China Business Council, os aportes chineses alcançaram US$ 4,18 bilhões, o que representou um salto de 113% em relação a 2023. Esse valor, por sua vez, foi o maior desde 2021.
De acordo com a Alvarez & Marsal, a característica central dessa expansão é a concentração em setores estruturais, como energia, infraestrutura, petróleo e mineração. Assim, isso evidencia uma estratégia de Estado voltada ao domínio de cadeias produtivas globais.
A disputa pelo níquel brasileiro
O movimento mais simbólico aconteceu em 2025, com a compra da mina de Barro Alto (GO) pela estatal chinesa MMG, subsidiária da China Minmetals.
O ativo pertencia à Anglo American e foi adquirido por US$ 500 milhões. O negócio ainda aguarda aprovação do Cade, mas, se confirmado, colocará 50% da produção brasileira de níquel sob controle chinês.
Esse volume equivale a 1% da produção mundial. Além disso, o acordo incluiu a siderúrgica Codemin, em Niquelândia (GO), especializada em ferroníquel, essencial para o aço inoxidável.
O níquel brasileiro também desperta interesse da China por seu papel nas baterias de lítio, que equipam carros elétricos e celulares.
Segundo a Reuters, o país asiático domina 75% da produção global desse tipo de bateria, o que reforça a importância estratégica desse metal.
O avanço sobre o nióbio nacional
O nióbio, responsável por 90% da produção mundial concentrada no Brasil, também atrai os chineses desde 2011, quando um consórcio de cinco mineradoras comprou 15% da CBMM, em Araxá (MG).
Posteriormente, em 2016, a estatal CMOC adquiriu a mina de nióbio da Anglo American, em Catalão (GO).
Além disso, em 2024, a CNMC comprou a Mineração Taboca, produtora localizada na Amazônia, reforçando o domínio chinês.
Atualmente, um terço da produção brasileira de nióbio está sob comando de empresas chinesas.
O metal é conhecido por suportar altas temperaturas e aumentar a resistência do aço, sendo essencial para aeronaves, oleodutos e turbinas de foguetes.
Por isso, o interesse chinês é facilmente explicado: trata-se de um insumo estratégico para o desenvolvimento tecnológico e militar.
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Estanho, cobre e lítio também entram no radar
O estanho é outro alvo importante, pois a Mineração Taboca, no Amazonas, responde por 30% da produção brasileira e 8% do volume mundial.
O material é essencial nas soldas de circuitos eletrônicos, já que possui baixo ponto de fusão e alta condutividade.
Além disso, o cobre também passou ao radar chinês. Em 2024, a estatal Baiyin comprou a Mineração Vale Verde, operadora da mina de Serrote (AL), passando a controlar 5% da produção nacional.
Paralelamente, a gigante BYD, principal montadora chinesa, entrou na disputa pelo lítio, adquirindo direitos de exploração no Vale do Jequitinhonha (MG) em 2023.
Ainda em 2024, a empresa iniciou conversas com a Sigma Lithium, conforme destacou o Financial Times, o que reforça a busca pela verticalização da produção de insumos para carros elétricos.
Ferro, Geely e a nova estratégia de verticalização
Embora a China já seja o maior comprador de minério de ferro do Brasil, absorvendo 70% das exportações nacionais, ainda não operava diretamente no setor.
Entretanto, isso começou a mudar com o projeto Bloco-8, localizado no norte de Minas Gerais.
O empreendimento é conduzido pela Sul Americana de Metais, subsidiária da Honbridge Holdings, controlada pela montadora Geely.
O projeto prevê investimento de US$ 2,1 bilhões para extrair 27 milhões de toneladas por ano de minério premium.
Esse minério possui 65% de teor de ferro, qualidade similar à da Vale, em Carajás, o que eleva seu valor de mercado.
Atualmente, o projeto ainda está em licenciamento ambiental, mas, se aprovado, poderá responder por 13% da produção nacional de minério de alta pureza.
Além disso, a iniciativa marca uma integração inédita entre montadora e mineração, demonstrando a verticalização industrial chinesa.
Um domínio com implicações estratégicas
A política de investimentos chinesa evoluiu de uma busca por autossuficiência para um modelo capitalista de controle de cadeias produtivas lucrativas.
Essa estratégia, portanto, vai muito além de garantir insumos básicos. Ela busca influência geopolítica, estabilidade industrial e competitividade global.
Para o Brasil, os ganhos são claros, pois envolvem empregos, arrecadação fiscal e entrada de capital estrangeiro.
Contudo, aumentam também os desafios, como a dependência externa, as pressões ambientais e a necessidade de regras firmes para proteger a soberania sobre recursos estratégicos.
Assim, o equilíbrio entre investimento e controle nacional torna-se cada vez mais crucial para o futuro da mineração brasileira.