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China cobre deserto com mais de 100 km² de painéis solares — uma área maior que toda a cidade de Paris

Publicado em 25/09/2025 às 22:35
Energia solar, deserto
Xinhua/Lian Zhen
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No deserto de Kubuqi, imensos campos solares transformam paisagem, atraem turistas, desafiam clima extremo e revelam contradições da transição energética chinesa

Um oceano de painéis azuis cobre as dunas do deserto no norte da China. Eles se espalham como ondas sobre a areia, moldando-se ao relevo e mudando para sempre a paisagem da Mongólia Interior.

Antes não havia nada aqui, era só areia”, lembra Chang Yongfei, morador local que já trabalhou no setor de carvão, símbolo histórico da economia chinesa.

Metas climáticas e expansão acelerada

A 700 quilômetros de Pequim, esses campos fazem parte da estratégia para reduzir emissões. O presidente Xi Jinping prometeu, em discurso por videoconferência na ONU, cortar entre 7% e 10% das emissões globais até 2035, em relação ao pico previsto para 2025.

Entre 2022 e 2030, a produção de energia solar em desertos deve triplicar a capacidade elétrica de um país como a França, segundo planos oficiais. Imagens de satélite confirmam a velocidade dessa expansão nos últimos dez anos.

No deserto de Kubuqi, em Ordos, mais de 100 km² já foram recobertos por placas fotovoltaicas, área semelhante à de Paris ou Lisboa.

Desafios da operação no deserto

Apesar da grandiosidade, problemas técnicos surgem. As tempestades de areia podem quebrar estruturas, enquanto as altas temperaturas reduzem a eficiência da geração elétrica.

Outro obstáculo está no acúmulo de poeira nos painéis, que exige limpeza constante. Em regiões áridas, a necessidade de água para manter as superfícies operando torna-se um desafio.

Para reduzir esses impactos, os campos solares de Kubuqi receberam painéis equipados com ventiladores de autolimpeza e tecnologia bifacial, capazes de aproveitar a luz refletida na areia.

Distância dos centros urbanos e riscos de congestionamento

Um ponto crítico é a distância até as cidades consumidoras. A energia precisa percorrer longas linhas de transmissão até abastecer regiões como Pequim, Tianjin e Hebei.

Esse fator gera risco de “engarrafamento energético”. Segundo David Fishman, da consultoria Lantau Group, algumas províncias já começaram a limitar a aprovação de novos projetos justamente para evitar sobrecarga na rede.

Turismo cresce ao redor dos painéis

Ao mesmo tempo, os desertos ganharam novo atrativo. Passeios de camelo, trilhas de quadriciclo e vídeos nas redes sociais transformaram a região em polo turístico.

Chang Yongfei, ex-minerador, hoje dirige um 4×4 para turistas. Além disso, investiu em chalés com vista para as dunas, próximos ao imenso campo solar.

Ele reconhece que a mudança trouxe ganhos, mas teme que o avanço dos painéis possa engolir o próprio deserto e reduzir a atratividade da paisagem.

O carvão ainda resiste

Apesar da virada para a energia limpa, o carvão segue ativo. Dados do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (CREA) e do Global Energy Monitor (GEM) mostram que, no primeiro semestre de 2025, a China inaugurou novas capacidades de produção de energia a carvão, em nível inédito desde 2016.

Nos arredores de Kubuqi, o contraste é visível. Trens lotados de carvão, caminhões cobertos de fuligem e grandes chaminés ainda compõem a cena.

Questões ambientais levantam debate

Pesquisadores também discutem os efeitos climáticos das megaestruturas. Zhengyao Lu, da Universidade de Lund, afirma que grandes áreas cobertas por painéis escuros podem alterar fluxos atmosféricos e até reduzir chuvas em regiões vizinhas.

Para ele, a solução seria investir em projetos mais localizados e planejados, evitando ocupação indiscriminada.

Mesmo assim, ressalta que os riscos da energia solar ainda são menores do que os impactos das emissões de gases poluentes.

Um futuro em transição

A presença simultânea de minas de carvão e extensos campos solares resume o momento chinês.
De um lado, o país aposta em energias renováveis em escala sem precedentes. De outro, mantém viva a dependência de combustíveis fósseis para sustentar sua economia.

O contraste mostra que a transição energética está em pleno curso, mas repleta de contradições. Entre dunas cobertas de painéis, turistas encantados e chaminés fumegantes, o norte da China se tornou símbolo das escolhas e dilemas que moldarão o futuro global.

Com informações de Folha de São Paulo.

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Romário Pereira de Carvalho

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