A China acelera sua infraestrutura tecnológica com foco em inteligência artificial, ampliando capacidade de computação e investindo em chips avançados. O avanço promete transformar setores como cidades inteligentes, saúde, agricultura e realidade aumentada nos próximos anos.
A China projeta um aumento de mais de 40% em seu poder de computação inteligente em 2025, segundo previsão apresentada na China Computing Power Conference, encerrada no domingo.
De acordo com o jornal Global Times, o país já ocupa a segunda posição mundial em capacidade de computação e mira a expansão acelerada da infraestrutura para sustentar aplicações de inteligência artificial em larga escala, de cidades inteligentes a realidade aumentada.
Crescimento projetado e posição global
Organizadores do evento informaram que, até junho de 2025, a China atingiu 788 EFLOPS de poder de computação inteligente, avanço expressivo frente aos 90 EFLOPS contabilizados no fim de 2024.
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No ano passado, a capacidade total de computação do país somou 280 EFLOPS, com 32% referentes especificamente à computação inteligente.
Autoridades da Administração Nacional de Dados afirmaram que a China está atrás apenas dos Estados Unidos nesse indicador, cenário que reforça a estratégia de ampliar a oferta de processamento para sustentar a nova onda de IA.
Ainda durante a conferência, Liu Liehong, chefe do órgão, destacou investimentos robustos em centros de dados e redes de alta velocidade.
A expectativa apresentada foi de crescimento anual acima de 20% na infraestrutura e aportes superiores a 500 bilhões de yuans por parte de empresas líderes da internet nos próximos três anos, comprometendo novas capacidades de armazenamento, interconexão e eficiência energética.
IA em uso: de cidades a fazendas na China
Pesquisadores ouvidos no encontro afirmaram que a expansão do processamento acompanha a rápida adoção de modelos generativos, veículos autônomos, plataformas de gestão urbana e automação industrial.
Wang Peng, da Academia de Ciências Sociais de Pequim, citou a “economia de baixa altitude” como exemplo de fronteira tecnológica que demanda alto poder de computação para navegação e segurança de aeronaves não tripuladas.
Na saúde, aplicações de imagem médica com IA aceleram a leitura de exames e auxiliam médicos em diagnósticos mais precisos.
Em educação, sistemas adaptativos ajustam conteúdos ao ritmo do aluno, enquanto ambientes imersivos de realidade virtual e aumentada ampliam o engajamento em sala de aula.
No campo, o mesmo impulso tecnológico viabiliza plantio de precisão e robôs agrícolas para colheita, reduzindo desperdícios e otimizando o uso de recursos.
Expansão em escala e casos de uso
Segundo o comitê do evento, mais de 23 mil projetos foram inscritos em competições nacionais de aplicações de poder de computação, com soluções incorporadas a setores como finanças, energia e saúde.
A leitura dos especialistas é que a IA deixou de ser concentrada em laboratórios e grandes centros urbanos e passou a permear a rotina de empresas e serviços públicos.
“O aumento da escala de poder de computação significa que uma transformação significativa está em andamento”, afirmou Zhang Xiaorong, diretor do Cutting-Edge Technology Research Institute.
Para ele, a IA “se espalha rapidamente por toda a sociedade chinesa”, sustentada por infraestrutura mais capilar e por novos modelos de negócio.
Infraestrutura e chips no foco do MIIT
O Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) anunciou diretrizes para otimizar a malha de computação inteligente, integrando recursos entre regiões e buscando complementaridade entre o leste e o oeste do país.
O vice-ministro Xiong Jijun disse que a pasta trabalhará para equilibrar oferta e demanda de recursos, construir um sistema interconectado e promover a coordenação entre polos, além de estimular avanços em chips e tecnologias de base.
A orientação é reduzir gargalos, padronizar serviços e melhorar a eficiência do uso de dados e processamento.
Essa estratégia mira não apenas novos data centers, mas também interconexões de baixa latência, otimização de redes e fontes de energia estáveis para sustentar cargas intensivas de treinamento e inferência de IA.
Ao mesmo tempo, a política industrial pretende acelerar a adoção de materiais e desenhos de processadores que contemplem eficiência energética e custo total de operação.
FP8 e DeepSeek-V3.1: eficiência no centro
Entre os destaques técnicos da conferência, o consórcio por trás do modelo DeepSeek-V3.1 apresentou otimizações para a nova geração de chips domésticos.
A tecnologia adota o formato FP8, que reduz a representação numérica a 8 bits, com o objetivo de dobrar a eficiência de processamento em determinados cenários e ampliar o treinamento de modelos em grande escala.
Pesquisadores ressaltaram que esse padrão permite melhor utilização do hardware, ao mesmo tempo que mantém a qualidade necessária para tarefas de linguagem e visão computacional.
Zhang Xiaorong enfatizou o ciclo de reforço entre chip, poder de computação e IA: aplicações cada vez mais complexas elevam a demanda por processamento; essa pressão impulsiona o desenvolvimento de chips mais potentes; e os novos chips, por sua vez, viabilizam sistemas de IA mais eficientes, realimentando a necessidade por infraestrutura.
Impacto econômico e horizonte até 2035
O reforço da infraestrutura e a difusão da computação inteligente consolidam a economia digital como vetor de crescimento.
Para Rao Shaoyang, diretor do China Telecom Research Institute, a contribuição da IA ao Produto Interno Bruto pode superar 11 trilhões de yuans até 2035, algo em torno de 4% a 5% da economia.
Em sua avaliação, a demanda por processamento tende a multiplicar por dez ou até cem vezes conforme mais setores incorporam algoritmos em atividades cotidianas, do atendimento ao cliente à manutenção preditiva em fábricas.
Enquanto isso, empresas e governos locais intensificam pilotos e escalas comerciais de soluções de IA.
Cidades adotam plataformas de gestão de tráfego, monitoramento ambiental e serviços urbanos conectados.
Indústrias ampliam a automação com manutenção baseada em dados. Redes de energia ajustam oferta e consumo em tempo real.
Em paralelo, universidades e centros de pesquisa reforçam a formação de talentos e a transferência tecnológica para o mercado.
Desafios de coordenação e próximos passos
A aceleração, no entanto, impõe desafios. A coordenação entre regiões exige padrões técnicos comuns e mecanismos de compartilhamento de recursos que evitem ociosidade.
A expansão do processamento também impõe metas de eficiência energética e sustentabilidade, tema sensível em projetos de grande porte.
Por fim, especialistas apontam a necessidade de integração entre dados, algoritmos e hardware para capturar ganhos de produtividade e evitar gargalos em etapas de treinamento e implantação dos modelos.
Ainda assim, as metas delineadas na conferência indicam uma visão de longo prazo para consolidar a infraestrutura, fortalecer a base de chips e ampliar casos de uso com impacto direto na economia real.
Se confirmados, os números projetados para 2025 e as iniciativas do MIIT podem redefinir o patamar de oferta de computação no país e acelerar a disputa por liderança em IA.