1. Início
  2. / Mineração
  3. / Chile e Argentina mostram como fazer do lítio um negócio bilionário — e o Brasil ainda exporta só o mineral bruto
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

Chile e Argentina mostram como fazer do lítio um negócio bilionário — e o Brasil ainda exporta só o mineral bruto

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 10/10/2025 às 15:38
Mineração de lítio no deserto do Atacama simboliza avanço de Chile e Argentina na cadeia produtiva do mineral
Minas de lítio no deserto do Atacama refletem o avanço tecnológico e industrial do Chile e da Argentina — enquanto o Brasil ainda exporta o mineral bruto.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Enquanto países vizinhos investem na indústria e geram valor agregado, o Brasil segue vendendo lítio em estado natural e perde espaço no mercado global

Nos últimos meses de 2025, Chile e Argentina intensificaram seus investimentos na verticalização da cadeia do lítio, enquanto o Brasil mantém foco na extração do mineral. Embora o triângulo do lítio — formado por Chile, Argentina e Bolívia — concentre mais de 60% das reservas mundiais, o Brasil ainda não deu passos firmes rumo à industrialização.

No Chile, o setor aguarda a aprovação do acordo entre a SQM e a estatal Codelco, líderes mundiais em mineração. Esse projeto prevê ampliar a produção nacional até 2030, consolidando o país como referência global. Segundo a Agência Nacional de Mineração Chilena, a parceria deve adicionar 300 mil toneladas de carbonato de lítio por ano até 2060.

Argentina amplia investimentos e mira baterias

Simultaneamente, a Argentina acelera sua estratégia para produzir produtos de maior valor agregado. A mineradora Rio Tinto anunciou US$ 2,5 bilhões em investimentos para fabricar 60 mil toneladas anuais de carbonato de lítio em grau de bateria. Em março de 2025, a companhia comprou a Arcadium, maior produtora argentina do mineral, fortalecendo a produção nacional.

De acordo com o Instituto Nacional de Mineração Argentino, o país extrai lítio em larga escala desde a década de 1990, muito antes da ascensão dos veículos elétricos. Essa vantagem inicial permitiu o domínio das etapas avançadas de refino e processamento químico, garantindo maior competitividade global.

Bolívia tenta salvar acordos e enfrenta instabilidade política

Enquanto isso, a Bolívia, mesmo sob tensões políticas, busca preservar acordos assinados em 2023 com empresas chinesas e russas para produzir 49 mil toneladas anuais de carbonato de lítio. O governo de Luis Arce destaca que o país possui 30% das reservas mundiais do mineral. No entanto, a oposição promete revisar os contratos por supostas irregularidades.

A estatal YLB (Yacimientos de Litio Bolivianos) produziu 2 mil toneladas em 2024, número ainda pequeno. Mesmo assim, o modelo estatal boliviano, em que o governo retém 51% dos lucros, busca assegurar soberania sobre os recursos naturais e promover uma indústria nacional mais sólida.

Brasil segue atrás na corrida do lítio

Em contraste, o Brasil continua restrito às etapas iniciais da cadeia produtiva. Das três mineradoras em operação, apenas uma fabrica carbonato e hidróxido de lítio, e ainda em escala reduzida. A Companhia Brasileira de Lítio (CBL), criada nos anos 1990, produz cerca de 1.500 toneladas anuais, enquanto a chilena SQM atinge 210 mil toneladas.

Para Leandro Gobbo, vice-presidente da PLS Lithium no Brasil, “não é errado exportar concentrados, embora o ideal fosse desenvolver capacidade de processamento local”. Segundo ele, o mercado global valoriza eficiência e custo, não apenas níveis avançados de industrialização.

Desafios e custos da verticalização

Conforme dados da iLi Markets (2025), o custo para montar uma refinaria de carbonato de lítio chega a US$ 11 por quilo no Chile, US$ 15 na Argentina e apenas US$ 5 na China. Já o custo operacional sustentável é de US$ 7,6 por quilo no Chile, US$ 9,6 na Argentina e US$ 7 na China. Esses valores evidenciam o desafio competitivo da América do Sul diante da eficiência chinesa.

O consultor Daniel Jimenez, da iLi Markets, reforça que “a China domina o refino e a fabricação de baterias”, e competir exige apoio estatal e incentivos econômicos.

Perspectivas para o Brasil

Embora o Brasil tenha potencial expressivo, a ausência de políticas públicas consistentes e incentivos industriais reduz sua competitividade. Para Adriano Drummond Trindade, advogado do Mattos Filho, “forçar a verticalização sem base econômica pode ser prejudicial”. Ele defende um modelo que equilibre aproveitamento mineral, sustentabilidade e retorno financeiro.

Assim, enquanto Chile e Argentina consolidam suas cadeias de alto valor agregado, o Brasil ainda precisa decidir se quer ser exportador de matéria-prima ou protagonista na indústria de baterias.

Resumo e contexto global

A corrida pelo lítio é um dos temas mais estratégicos do século XXI. Com a expansão dos carros elétricos e o avanço da transição energética, dominar a cadeia completa de produção significa controlar o futuro da mobilidade sustentável.

Os avanços do Chile e da Argentina representam um novo capítulo geopolítico, enquanto o Brasil ainda observa o cenário de fora.

O desafio agora é transformar o potencial mineral em desenvolvimento industrial, equilibrando eficiência econômica e preservação ambiental.

Banner quadrado em fundo preto com gradiente, destacando a frase “Acesse o CPG Click Petróleo e Gás com menos anúncios” em letras brancas e vermelhas. Abaixo, texto informativo: “App leve, notícias personalizadas, comentários, currículos e muito mais”. No rodapé, ícones da Google Play e App Store indicam a disponibilidade do aplicativo.
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Caio Aviz

Escrevo sobre o mercado offshore, petróleo e gás, vagas de emprego, energias renováveis, mineração, economia, inovação e curiosidades, tecnologia, geopolítica, governo, entre outros temas. Buscando sempre atualizações diárias e assuntos relevantes, exponho um conteúdo rico, considerável e significativo. Para sugestões de pauta e feedbacks, faça contato no e-mail: avizzcaio12@gmail.com.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x