Em Juiz de Fora (MG), monges redentoristas produzem cervejas artesanais desde 1894. A Cervejaria Hofbauer, instalada no porão da Igreja da Glória, une devoção, história e cultura europeia em cada garrafa produzida
No porão da Igreja Nossa Senhora da Glória, em Juiz de Fora (MG), funciona uma cervejaria artesanal administrada por religiosos. Chamada Hofbauer, ela é um dos poucos conventos produtores de cerveja ainda ativos no Brasil e mantém viva uma tradição europeia que une fé e fermentação.
Tradição centenária de devoção e sabor
A história da cervejaria começou em 1894, quando os missionários holandeses Padre Mathias Tulkens e Padre Francisco Lohmeyer decidiram fundar uma pequena fábrica.
A ideia era unir a devoção religiosa à cultura cervejeira que já fazia parte da rotina dos conventos europeus.
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No início, a produção acontecia em caldeirões simples, mas, em 1907, chegaram máquinas importadas da Holanda que, surpreendentemente, continuam em funcionamento.
“Aqui, cada detalhe importa. Não é só cerveja, é história que se bebe”, afirma o irmão Taylor Bertoli, mestre cervejeiro e atual responsável pela produção.
Na Igreja Católica, “irmão” é o nome dado aos religiosos que não são padres. Eles vivem em comunidade e seguem votos de pobreza, castidade e obediência.
Fé e cerveja: uma combinação possível
Muitos se perguntam se religiosos podem beber. A resposta é sim. O consumo de álcool nunca foi proibido pela Igreja.
Em séculos passados, a cerveja era considerada alimento e fazia parte das refeições diárias dos monges. Produzir e compartilhar a bebida era também uma forma de sustento espiritual e de gratidão.
Portanto, a produção da Hofbauer mantém viva essa herança. Além de um ofício, ela representa um elo entre o passado monástico e o presente comunitário da Igreja da Glória.
Homenagem a São Clemente Hofbauer
O nome da cervejaria é uma homenagem a São Clemente Maria Hofbauer, sacerdote austríaco do século XVIII. Antes disso, o local era conhecido apenas como “Cerveja do convento da Glória”.
O santo ficou famoso por renovar a vida religiosa em Viena, defendendo que os conventos deveriam ser autossuficientes.
Canonizado em 1909, tornou-se patrono da cidade e um dos nomes mais respeitados da Congregação do Santíssimo Redentor.
“Oferecemos cervejas que encantam não apenas pelo sabor, mas pela herança cultural. É motivo de orgulho manter viva essa tradição artesanal”, destaca o irmão Taylor.
Produção artesanal de cerveja que atravessa gerações
A produção da Hofbauer foi preservada ao longo das gerações, mas precisou ser interrompida em alguns períodos por falta de religiosos com conhecimento técnico.
Em 2009, o padre Flávio Leonardo Santos Campos restaurou as antigas máquinas e retomou o processo de fabricação artesanal. Depois, o padre Jonas Pacheco Machado assumiu a continuidade.
Desde 2024, o irmão Taylor Bertoli coordena o trabalho, com apoio de quatro colaboradores e acompanhamento técnico especializado.
Cada lote produz cerca de 350 litros, quatro vezes ao ano. O processo completo leva 40 dias, respeitando o tempo natural de fermentação e maturação.
Sete estilos e um propósito
Atualmente, a Hofbauer fabrica sete tipos de cerveja artesanal: Pilsen, Belgian Blond Ale, Belgian Pale Ale, Belgian Dubbel, Wassbier, Session IPA e Russian Imperial Stout. Cada garrafa custa a partir de R$ 25.
As vendas começaram timidamente, mas, segundo Taylor, o interesse do público cresceu rapidamente. “Nos últimos dois anos ganhamos espaço e, neste ano, participamos pela primeira vez de festivais e concursos em Juiz de Fora”, diz.
Toda a renda obtida é destinada a projetos sociais mantidos pela Igreja.
Hofbauer: De mistério a atração turística
Durante muito tempo, o porão da Igreja da Glória permaneceu cercado de mistério. Em 2024, o espaço foi aberto ao público, revelando ao visitante uma tradição que mistura história, religião e cultura cervejeira.
“Abrimos para mostrar a importância dessa herança para Juiz de Fora”, afirma o mestre cervejeiro.
A iniciativa chamou a atenção da Secretaria de Turismo do município, que passou a incluir a Hofbauer no programa “Caminhando pela História”. O roteiro oferece visitas gratuitas a pontos históricos da cidade.
Hoje, o porão da Igreja é um dos destinos mais procurados pelos visitantes, que saem encantados com o aroma do malte, as antigas máquinas holandesas e o espírito de fraternidade que envolve cada garrafa produzida pelos religiosos.
Com informações de TNH1.