Com 16 cabos submarinos, Fortaleza é a principal porta de entrada da internet no Brasil e destaque global em conectividade digital
Mesmo com o avanço das redes móveis e da computação em nuvem, a internet global ainda depende de conexões físicas. A espinha dorsal que liga continentes permanece sendo formada por quase 600 cabos submarinos de fibra óptica.
Esses cabos são os verdadeiros caminhos por onde viajam dados de filmes, mensagens, arquivos e todos os tipos de informação digital.
No Brasil, grande parte dessa conexão internacional chega por um único ponto: a praia do Futuro, em Fortaleza. Ali, 16 cabos submarinos conectam o país a outras partes do mundo, como Europa, África, Caribe e Estados Unidos.
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Fortaleza: ponto de conexão do mundo
A concentração de cabos faz da capital do Ceará uma das cidades mais importantes do planeta em termos de conectividade.
Segundo a consultoria TeleGeography, Fortaleza é a primeira colocada na América Latina em número de cabos submarinos e ocupa o 17º lugar no ranking mundial. Cingapura lidera com 28 cabos.
Antonio Moreiras, gerente do NIC.br, afirma que cerca de 90% do tráfego internacional de internet no Brasil passa por Fortaleza. A cidade abriga a maioria dos cabos que chegam ao país.
A posição geográfica da capital cearense é um dos principais fatores para esse destaque. Segundo Rodrigo Porto, professor de Telecomunicações da UFC, Fortaleza é um dos centros urbanos brasileiros mais próximos dos EUA, Europa e África.
Além disso, a praia do Futuro tem características ideais: solo oceânico estável, baixa densidade populacional e terrenos disponíveis para obras.
Energia renovável e baixa especulação
Outro fator que favorece Fortaleza é o clima. A região tem alta concentração de maresia, o que impediu o avanço da especulação imobiliária na praia do Futuro. Isso manteve o espaço acessível para construções relacionadas à infraestrutura da internet.
A produção de energia renovável, com destaque para as fontes solar e eólica, também fortalece a posição do Ceará como polo digital. Segundo o professor Porto, isso reforça a escolha da região por grandes empresas do setor.
Data centers: os cérebros da rede
Os cabos submarinos transportam dados entre grandes centros de dados, também conhecidos como data centers.
Essas instalações funcionam como o “cérebro” da internet. Empresas como Google, Meta, Amazon e Netflix armazenam informações nesses espaços altamente seguros.
O controle de acesso em centros de dados pode chegar ao uso de biometria ocular. Em Fortaleza, seis data centers já funcionam com alto nível de certificação. Um deles é operado pela Angola Cables e fica a menos de 1 km da praia do Futuro.
O local ocupa 3 mil metros quadrados e mantém temperatura e umidade controladas dia e noite. A entrada é restrita. Equipamentos eletrônicos são deixados do lado de fora, e o acesso é feito por porta giratória monitorada.
Segundo a Etice, há pelo menos três novos centros de dados em construção no Ceará, com investimento de R$ 2,1 bilhões. Há ainda um projeto maior, avaliado em R$ 50 bilhões, planejado para a região do porto do Pecém.
Gigantes de olho no Ceará
Esse megaempreendimento pode atrair empresas como a chinesa ByteDance, dona do TikTok. A informação foi divulgada pela agência Reuters. O TikTok, porém, afirmou que não confirma nem nega o interesse.
A responsável pelo projeto, Casa dos Ventos, informou que a obra começa no segundo semestre de 2025 e deve entrar em operação em 2027.
Como a internet chega até o usuário
O data center da Angola Cables também é o ponto final de um dos 16 cabos que chegam a Fortaleza, o cabo que vem de Angola. Ele foi desenrolado por um navio até o fundo do mar e chegou à costa cearense, sendo enterrado na praia do Futuro até alcançar o prédio.
Esse cabo foi conectado à rede brasileira em 2018. Uma pequena parte visível fica protegida em um armário de ferro.
A partir dali, os dados trafegam por mais cabos até chegar às redes sem fio, como wi-fi ou 5G, usadas pelos usuários finais.
Quando um filme é iniciado na Netflix, por exemplo, o conteúdo sai do data center mais próximo, percorre os cabos até a casa do assinante e chega ao aparelho.
Caso o título esteja armazenado fora do Brasil, os dados atravessam o oceano por um dos cabos submarinos até alcançar a rede nacional.
Graças à fibra óptica, isso tudo acontece em frações de segundo, com velocidade próxima à da luz.
A nuvem tem infraestrutura física
Embora a “nuvem” pareça algo abstrato, o professor Rodrigo Porto lembra que tudo depende de engenharia. “Tudo tem meio físico, tem equipamento”, afirma.
A Enisa, agência europeia de segurança digital, informa que 97% dos dados entre continentes são transportados por cabos submarinos. Apenas 3% passam por satélites, usados principalmente em áreas onde a fibra óptica não chega.
Quando há defeito no cabo submarino
Os cabos submarinos duram, em média, 25 anos. Mesmo antes disso, podem ter falhas ou sofrer sabotagem. Em regiões costeiras, mergulhadores conseguem fazer reparos. Em grandes profundidades, é necessário usar robôs ou trazer o cabo à superfície.
Desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, pelo menos 11 cabos no mar Báltico foram danificados, com suspeitas de sabotagem.
No caso de Fortaleza, uma falha em um dos cabos pode afetar a atualização de plataformas como a Netflix, por exemplo. No entanto, como a maioria do tráfego de internet no Brasil vem de servidores dentro do país, o impacto seria limitado.
Antonio Moreiras explica que entre 70% e 80% dos dados consumidos pelos brasileiros são gerados no próprio território.
A maior parte dos vídeos, redes sociais e dados em nuvem continuaria fluindo normalmente. Isso é possível graças à infraestrutura do IX.br, que garante a estabilidade do tráfego interno.
Com informações de BBC.