Imagens aéreas revelam detalhes surpreendentes das ruínas de locomotivas na Bolívia. O drone de exploração em Uyuni destaca o cemitério de trens como novo ícone do turismo industrial em país próximo ao Brasil.
Um dos cenários mais surreais da Bolívia, o cemitério de trens Uyuni, foi recentemente mapeado em detalhes por meio de registros feitos por drones. As imagens aéreas mostram uma impressionante coleção de cerca de 100 locomotivas enferrujadas e vagões abandonados, alinhados em meio ao deserto, próximas à cidade de Uyuni. Os registros ressaltam a dimensão e o impacto visual das ruínas locomotivas na Bolívia, que há décadas repousam sob o sol escaldante e o ar salgado do altiplano. Com esse novo ponto de vista aéreo, cresce o interesse internacional pelo turismo industrial em Uyuni, impulsionando o setor local e reacendendo o debate sobre a conservação desse patrimônio.
Um pouco de história sobre os trens abandonados na Bolívia
O surgimento do cemitério remonta ao final do século XIX, quando Uyuni se tornou um ponto estratégico no sistema ferroviário boliviano. A ferrovia tinha como objetivo principal transportar minerais — especialmente prata — da região de Potosí até os portos do Oceano Pacífico.
Durante esse período de expansão, locomotivas importadas da Inglaterra foram enviadas à Bolívia. Entretanto, com a crise da mineração nas décadas de 1940 e 1950, a infraestrutura ferroviária foi desativada, e centenas de vagões e trens ficaram sem uso, sendo abandonados a poucos quilômetros da cidade.
-
URBOS 100, 7 vagões e 400 passageiros: trens que vão transformar o transporte em Salvador já estão quase prontos
-
VLI apresenta plano de R$ 24 bi e avança na disputa para manter Ferrovia Centro-Atlântica por mais 30 anos
-
Um trem no lugar de 380 caminhões: ferrovia vai retirar veículos das estradas com composições de 126 vagões e percurso de 1.200 km
-
Sai o ônibus e entra o trem: após 25 anos, proposta quer tirar carros da rodovia (BR) e resgatar transporte sobre trilhos entre essas cidades brasileiras
Ao longo do tempo, a ação do clima e o abandono transformaram o local em um verdadeiro cemitério de trens Uyuni, cenário que parece retirado de um filme pós-apocalíptico.
Drone de exploração em Uyuni revela imagens inéditas
O avanço tecnológico e o uso crescente de drones têm proporcionado novas formas de ver o mundo — e isso inclui relíquias históricas esquecidas. No caso das locomotivas bolivianas, o uso do drone de exploração em Uyuni revelou imagens inéditas da extensão e do estado de conservação (ou deterioração) dos vagões abandonados.
As imagens mostram com mais clareza a distribuição dos trens e o quanto o tempo e o descaso afetaram a estrutura metálica dos veículos. Corroídos, enferrujados e parcialmente desmontados, os trens agora formam uma espécie de museu ao ar livre, símbolo de um passado industrial que se esvaiu com o tempo.
Turismo industrial em Uyuni cresce com a popularização das imagens
Com a viralização dos registros capturados por drone, o local ganhou mais visibilidade nos circuitos internacionais de viagem. O turismo industrial em Uyuni já vinha crescendo por conta da proximidade com o Salar de Uyuni — o maior deserto de sal do mundo — mas os vídeos recentes deram novo fôlego ao interesse no cemitério de trens.
Turistas que visitam a região têm incluído o local como parada obrigatória, seja para fotografias artísticas, exploração histórica ou simples curiosidade. A atmosfera única do lugar, combinando natureza, ferro enferrujado e silêncio, proporciona uma experiência imersiva incomum.
Além disso, o cemitério de trens é frequentemente utilizado como cenário para ensaios fotográficos, gravações de vídeos e conteúdo para redes sociais, aumentando ainda mais sua popularidade.
Como visitar o cemitério de trens Uyuni
O cemitério fica a cerca de 2,5 km do centro da cidade de Uyuni. É possível chegar a pé em cerca de 30 minutos, ou em poucos minutos de táxi, por valores acessíveis. A entrada é gratuita e o local não possui nenhuma estrutura formal — não há bilheteria, nem cercas, nem guias fixos. A visita é autoguiada.
Como o ambiente é aberto e as estruturas estão em processo de corrosão, é importante redobrar a atenção. Subir nas locomotivas pode parecer tentador para tirar fotos, mas há riscos de cortes, quedas ou ferimentos. O ideal é observar com cautela, sempre respeitando o espaço histórico.
Recomenda-se visitar nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer, quando a luz do sol projeta sombras dramáticas nas carcaças metálicas, realçando ainda mais o contraste entre as máquinas abandonadas e o céu do altiplano.
Ruínas locomotivas na Bolívia: patrimônio em risco
Apesar de sua beleza rústica, o cemitério de trens Uyuni corre sérios riscos. O local não conta com qualquer tipo de proteção legal ou programa de preservação. O tempo, o vandalismo e a retirada de peças por moradores ou visitantes têm acelerado a degradação do patrimônio.
Organizações ligadas à cultura e ao turismo boliviano já discutiram formas de proteção do local, incluindo a criação de um museu ferroviário a céu aberto, a delimitação de áreas de acesso e a colocação de placas informativas. No entanto, ainda não há ações efetivas implementadas.
A valorização desse espaço não deve ser apenas turística. É um registro físico e simbólico de uma era de progresso industrial que marcou a história econômica do país. Preservá-lo também é preservar a memória de uma fase importante da Bolívia e da América do Sul.
Impacto cultural e econômico dos trens abandonados na Bolívia
O turismo industrial em Uyuni tem potencial de gerar impacto positivo na economia da região, especialmente em setores como hotelaria, transporte e alimentação. Pequenos comércios e agências locais já oferecem roteiros personalizados que incluem a visita ao cemitério de trens.
Além do aspecto econômico, o lugar promove debates sobre patrimônio histórico, desenvolvimento sustentável e revalorização de espaços negligenciados. Com políticas públicas adequadas, esse tipo de atração pode transformar uma área degradada em centro cultural, educativo e turístico.
Iniciativas semelhantes em países europeus — como museus ferroviários ou rotas de turismo industrial — mostram que esse é um modelo viável e interessante, tanto para os moradores quanto para os visitantes.
O cemitério de trens Uyuni é mais do que uma coleção de vagões enferrujados esquecidos no deserto. É um testemunho silencioso de uma era de glória industrial boliviana, hoje redescoberto por lentes modernas, como as dos drones.
As imagens aéreas captadas recentemente transformaram o modo como o mundo enxerga esse espaço. Agora, o drone de exploração em Uyuni não apenas revelou uma dimensão maior das estruturas, mas também ampliou o alcance da mensagem que o local transmite: memória, abandono, resistência e beleza.
Para quem visita a Bolívia, especialmente a região do Salar de Uyuni, incluir esse passeio é uma oportunidade única de vivenciar história viva, ainda que em ruínas. Para o país e para a América Latina, é um alerta sobre a importância de olhar para trás com respeito — e garantir que essas histórias, embora enferrujadas, não desapareçam no tempo.