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Célula inédita encontrada em pítons revela como essas cobras conseguem digerir ossos inteiros

Escrito por Sara Aquino
Publicado em 14/07/2025 às 10:09
Atualizado em 13/07/2025 às 10:26
Pesquisadores descobriram uma célula única no intestino da píton que consegue digerir completamente os ossos de suas presas!
Foto: Free Pik
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Cientistas dos Estados Unidos e da França fizeram uma descoberta surpreendente: uma célula nunca antes vista em vertebrados, capaz de ajudar a píton a digerir completamente os ossos de suas presas.

O achado, publicado no final de junho no Journal of Experimental Biology, revela que as pítons-birmanesas (espécie Python molurus bivittatus) possuem um tipo especial de célula no intestino, responsável por lidar com os altos níveis de cálcio e fósforo resultantes da ingestão de esqueletos inteiros.

O estudo foi conduzido por uma equipe internacional de especialistas que analisaram o trato intestinal das cobras em diferentes dietas.

A descoberta pode ajudar a explicar como essas serpentes conseguem processar grandes quantidades de minerais sem prejudicar o organismo — um desafio biológico que poucos animais enfrentam.

Como a píton digere ossos sem deixar rastros

As pítons-birmanesas são conhecidas por engolir presas inteiras, incluindo seus ossos. Isso gera um acúmulo de minerais como cálcio, fósforo e ferro em seu sistema digestivo.

No entanto, diferentemente de outros animais, elas não eliminam fragmentos ósseos nas fezes — o que despertou a curiosidade dos cientistas.

A chave está em uma célula intestinal especializada, localizada no epitélio (camada que reveste o intestino) da píton. Essa estrutura é responsável por absorver nutrientes e bloquear organismos causadores de doenças.

Dentro dessas células, os pesquisadores encontraram partículas grandes formadas por cálcio, fósforo e ferro — acumuladas em compartimentos chamados “criptas”.

Segundo Jehan-Hervé Lignot, professor da Universidade de Montpellier e autor do estudo, esse tipo de célula nunca havia sido identificado antes em vertebrados. “Nunca havia visto isso em outros animais”, declarou ele ao portal EurekAlert.

Três dietas e um segredo escondido no intestino

Para entender o comportamento dessas células, os cientistas alimentaram as cobras com três tipos de dieta:

  • Dieta padrão: roedores inteiros, com ossos;
  • Dieta pobre em minerais: roedores desossados;
  • Dieta rica em cálcio: roedores desossados suplementados com cálcio via injeções.

Os resultados foram reveladores. Nas pítons que consumiram roedores inteiros ou a dieta suplementada, as criptas celulares estavam repletas das partículas ricas em minerais. Já nas cobras alimentadas com presas desossadas, essas partículas não se formaram.

Além disso, não foi encontrado nenhum fragmento ósseo nas fezes das cobras, o que confirmou que o esqueleto das presas havia sido totalmente dissolvido durante a digestão.

Isso reforça a hipótese de que essas células desempenham um papel crucial na metabolização dos ossos.

O que torna essas células tão especiais?

Essas células não são como as células intestinais tradicionais. Em cobras que estavam em jejum, por exemplo, as criptas se mostraram completamente vazias — sinal de que sua função está diretamente ligada à ingestão de ossos.

A função dessas estruturas ainda está sendo investigada. Acredita-se que elas sejam responsáveis por armazenar e controlar a liberação de cálcio e fósforo de maneira segura, evitando que esses minerais entrem em excesso na corrente sanguínea da píton.

Descoberta vai além das pítons-birmanesas

A pesquisa não se limitou à Python molurus bivittatus. Após a descoberta inicial, a mesma célula foi encontrada em outras espécies de pítons e até em jiboias.

Curiosamente, também foi identificada no monstro-de-gila, um lagarto venenoso que habita regiões dos Estados Unidos e México.

Essa conexão indica que a adaptação pode estar presente em diferentes animais carnívoros que consomem presas inteiras — especialmente aquelas ricas em ossos.

Animais que podem ter o mesmo mecanismo

A descoberta levanta uma questão importante: será que outros predadores possuem a mesma célula? De acordo com os pesquisadores, há grandes chances de que sim.

“Predadores marinhos que comem peixes ósseos ou mamíferos aquáticos devem enfrentar o mesmo problema [altos níveis de cálcio e fósforo no sangue]. Aves que se alimentam principalmente de ossos, como o abutre-barbudo, também seriam candidatas fascinantes”, comentou o professor Lignot.

Esse novo campo de pesquisa pode revelar uma adaptação até então desconhecida em outros grupos de animais vertebrados.

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Sara Aquino

Farmacêutica Generalista e Redatora. Escrevo sobre Empregos, Cursos, Ciência, Tecnologia e Energia. Apaixonada por leitura, escrita e música.

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