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‘Casamento’ entre Brasil e China chega a 50 anos e movimenta mais de 800 bilhões com produtos como soja, petróleo e minério de ferro! Quem depende de quem?

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 18/08/2024 às 21:21
Relação Brasil-China chega a 50 anos, movendo bilhões em comércio, mas há riscos de dependência econômica. Qual será o futuro dessa aliança? (Imagem: reprodução)
Relação Brasil-China chega a 50 anos, movendo bilhões em comércio, mas há riscos de dependência econômica. Qual será o futuro dessa aliança? (Imagem: reprodução)

A parceria entre Brasil e China, que inicialmente era um reflexo das necessidades estratégicas e econômicas do século passado, agora se transformou em um dos relacionamentos comerciais mais significativos do mundo.

No último dia 15 deste mês, Brasil e China celebram 50 anos de relações diplomáticas, um marco histórico que não apenas solidificou laços comerciais, mas também reconfigurou o papel do Brasil no cenário global.

Desde o restabelecimento das relações em 1974, durante o governo de Ernesto Geisel, até os dias atuais, essa parceria tem sido marcada por uma série de mudanças e desafios.

Atualmente, o comércio bilateral supera os impressionantes 800 bilhões de reais, com produtos como soja, petróleo e minério de ferro dominando as exportações brasileiras. Mas, como essa relação evoluiu e o que o futuro reserva?

O início de uma aliança estratégica

Em 1974, o Brasil e a China começaram oficialmente a reconstruir suas relações diplomáticas. Naquele período, a China estava saindo de um isolamento internacional, enquanto o Brasil, em plena ditadura militar, buscava afirmar sua autonomia global.

Conforme o professor Renato Ungaretti, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), esse foi um momento crucial em que ambos os países viram na parceria uma oportunidade de enfrentar os desafios globais da época. Segundo ele, o pragmatismo do governo brasileiro foi fundamental para superar as diferenças ideológicas e consolidar essa aliança.

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Nos anos que se seguiram, a relação foi se fortalecendo, especialmente com a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban) e a assinatura de diversos acordos bilaterais. A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 marcou um ponto de virada significativo, ampliando o comércio entre os dois países.

O boom comercial entre Brasil e China de 2004 a 2014

Marina Moreno, especialista em relações internacionais e residente do think tank Observa China, destaca que foi entre 2004 e 2014 que as relações comerciais entre Brasil e China atingiram um novo patamar.

Durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), especialmente sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, o comércio e os investimentos bilaterais expandiram de maneira sem precedentes.

Segundo Moreno, além das trocas comerciais, houve uma aproximação mais estratégica, com a criação de mecanismos como a Cosban e a participação conjunta em fóruns internacionais como o G20 e o BRICS.

Durante a crise financeira global de 2008, enquanto grande parte do mundo sofria com os impactos econômicos, a China continuou a crescer, impulsionada por um modelo de desenvolvimento liderado pelo investimento.

O Brasil, como um dos principais fornecedores de commodities para a China, se beneficiou enormemente dessa fase de expansão econômica chinesa. Atualmente, o comércio bilateral entre os dois países ultrapassa os US$ 150 bilhões, com o Brasil consolidando sua posição como um dos principais parceiros comerciais da China.

Desafios e oportunidades futuras

Apesar dos números impressionantes, Renato Ungaretti alerta para a necessidade de diversificar as exportações brasileiras.

Atualmente, produtos como soja, petróleo e minério de ferro dominam as vendas para a China, criando uma dependência arriscada de poucas commodities. Ungaretti defende que o Brasil deve buscar formas de agregar mais valor às suas exportações, explorando outros setores da economia.

Outro ponto de discussão é a adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota, conhecida como Nova Rota da Seda. Até o momento, o Brasil ainda avalia os prós e contras dessa adesão.

Embora existam vantagens potenciais, como investimentos em infraestrutura, também há riscos relacionados à percepção geopolítica e à eficácia dos compromissos que o Brasil poderia assumir, conforme destaca Ungaretti.

A influência cultural e os primeiros contatos

A influência cultural chinesa no Brasil ainda é limitada, em grande parte devido à distância geográfica e às barreiras linguísticas.

No entanto, Ungaretti acredita que a crescente interação econômica entre os dois países pode fortalecer esses laços culturais no futuro.

Ele também relembra os primeiros contatos entre Brasil e China nos anos 1960, antes do restabelecimento formal das relações. Segundo ele, esses contatos foram limitados pelo isolamento da China e pelas políticas anticomunistas da Guerra Fria.

Brasil e China: quem depende de quem?

Moreno argumenta que o Brasil depende muito mais da China do que o contrário. Ela ressalta que, embora o Brasil registre superávits comerciais em termos de valores, a China está muito mais bem posicionada nas cadeias globais de valor.

A especialista observa que a importância do Brasil para a China se deve, em parte, à necessidade chinesa de garantir o fornecimento de produtos de parceiros confiáveis, especialmente em um contexto onde as relações entre China e Estados Unidos permanecem tensas.

Essa dependência, segundo Moreno, tende a continuar, especialmente se o Brasil não avançar em áreas como transferência de tecnologia e desenvolvimento técnico. Ela alerta que o Brasil corre o risco de se manter preso a um modelo de exportação baseado em commodities, o que pode limitar o crescimento econômico do país a longo prazo.

O que esperar dos próximos 50 anos?

Para o futuro, Moreno aposta que a agenda de sustentabilidade ganhará destaque nas relações entre Brasil e China. A transição energética, a restauração da biodiversidade e a responsabilidade dos países mais ricos na poluição global são temas que já estão sendo abordados por ambos os países.

Ela acredita que a China, com seu foco no desenvolvimento verde, e o Brasil, com sua vasta biodiversidade, podem liderar uma nova fase de cooperação internacional nesse sentido.

Além disso, as exportações de commodities brasileiras para a China devem continuar sendo uma parte importante da relação comercial entre os dois países.

No entanto, setores mais tecnológicos e de maior valor agregado também estão sendo cada vez mais importados da China, especialmente para apoiar a transição energética no Brasil.

Diante da crescente dependência do Brasil em relação à China, você acredita que nosso país está tomando as decisões certas para garantir um crescimento sustentável? O que pode ser feito para diversificar nossas exportações e reduzir essa dependência?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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