EUA ampliam cooperação com o Brasil no hidrogênio verde para conter China e Europa. Disputa bilionária define quem dominará a transição energética global.
Em 2025, o hidrogênio verde deixou de ser apenas promessa tecnológica e passou a ser tratado como ativo geopolítico. Países que liderarem sua produção e exportação terão não apenas vantagens econômicas, mas também influência estratégica na transição energética global. Nesse jogo, o Brasil surge como peça-chave, e os Estados Unidos correm para reforçar laços e não deixar que China e Europa avancem sozinhas sobre o potencial brasileiro.
A Casa Branca enxerga no Brasil o parceiro ideal: um país com matriz elétrica renovável em mais de 80%, abundância de sol e vento no Nordeste, portos estratégicos como Pecém (CE) e Suape (PE) e projetos já avaliados em mais de US$ 30 bilhões até 2030. O risco para os americanos é claro: se não firmarem cooperação imediata, correm o perigo de ver europeus e chineses dominarem contratos, tecnologia e exportações a partir do território brasileiro.
O apetite da Europa e da China
A União Europeia já anunciou pacotes de subsídios bilionários para garantir importações de hidrogênio verde até 2030. A Alemanha, por exemplo, assinou memorandos com estados nordestinos brasileiros, reservando áreas em portos e financiando infraestrutura logística.
-
Brasil pode liderar exportações globais de hidrogênio verde até 2030, mas especialistas alertam: ‘risco de repetir o erro histórico do minério e virar apenas fornecedor barato’ para Europa e China
-
Do sertão para o mundo: multinacionais da Europa, China e Austrália investem bilhões em usinas solares e eólicas no Nordeste para transformar vento e sol em hidrogênio verde e colocar o Brasil na vitrine global da energia limpa
-
Portos de Pecém e Suape passam por transformação bilionária para exportar hidrogênio verde. Obras, usinas e contratos prometem colocar Brasil no centro da revolução energética
-
Cortes de energia renovável geram conflito e prejuízo entre governo e Aneel
A China, por sua vez, atua com outra estratégia: fornece eletrolisadores em grande escala, financia usinas solares e eólicas e injeta capital em parcerias com empresas brasileiras. O objetivo é simples: assegurar moléculas baratas de hidrogênio e transformá-las em produtos de alto valor agregado em suas indústrias de aço, química e transportes.
Enquanto isso, os EUA percebiam que estavam ficando para trás. Mas a partir de 2024 e 2025, a Casa Branca começou a agir.
A resposta americana: acordos e bilhões em jogo
Nos últimos meses, missões diplomáticas e empresariais americanas desembarcaram em Brasília, Fortaleza e Recife para discutir projetos conjuntos. O Departamento de Energia dos EUA anunciou planos de cooperação em pesquisa, financiamento de projetos piloto e transferência de tecnologia para o hidrogênio verde no Brasil.
A ideia é apoiar não apenas a produção de moléculas para exportação, mas também a criação de hubs industriais locais, que possam usar o hidrogênio como vetor para desenvolver cadeias produtivas de alto valor. Isso inclui:
- Siderurgia verde no Nordeste, produzindo aço com hidrogênio em vez de carvão.
- Indústria química baseada em amônia verde e fertilizantes sustentáveis.
- Transporte pesado (ônibus, caminhões e até aviação regional) movido a células de hidrogênio.
Ao investir nessas frentes, os EUA tentam contrapor a estratégia europeia, mais voltada à importação, e a chinesa, centrada em exportação de equipamentos.
O Brasil no centro da disputa
O Brasil se vê, talvez pela primeira vez em décadas, em uma posição rara: não como dependente de acordos externos, mas como país cortejado por várias potências ao mesmo tempo. A questão central é como transformar esse assédio em vantagens reais para a economia nacional.
Se depender apenas das pressões externas, há risco de o Brasil virar fornecedor barato de moléculas, exportando energia em estado bruto e deixando a industrialização ocorrer fora de suas fronteiras. Mas se houver planejamento, o país pode negociar contrapartidas, como instalação de indústrias locais, capacitação tecnológica e investimentos em infraestrutura.
Um mercado trilionário até 2050
A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que o mercado global de hidrogênio verde pode superar US$ 500 bilhões anuais até 2050. A fatia brasileira pode chegar a dezenas de bilhões se os projetos avançarem.
Hoje, já existem mais de 20 memorandos de entendimento assinados com multinacionais, distribuídos principalmente no Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco. Mas, até o momento, nenhum projeto de grande escala entrou em operação comercial. Tudo depende de financiamento, definição regulatória e clareza sobre incentivos.
É nesse ponto que os EUA veem a oportunidade: ao oferecer crédito, tecnologia e acordos estratégicos, querem garantir que, quando os projetos saírem do papel, a bandeira americana esteja presente.
O que está em jogo para o Brasil
A disputa global pelo hidrogênio verde é uma chance única para o Brasil mudar de patamar na economia mundial. Mas também carrega armadilhas. Três caminhos estão em aberto:
Fornecedor bruto: o Brasil exporta hidrogênio e amônia em estado básico, reproduzindo o erro histórico do minério de ferro.
Plataforma industrial: o país aproveita os investimentos externos para criar polos industriais verdes no Nordeste, agregando valor.
Protagonista estratégico: o Brasil negocia acordos que garantam acesso a mercados globais, mas com independência tecnológica e política industrial própria.
Se escolher o segundo ou terceiro caminho, pode se tornar um dos maiores vencedores da transição energética.
A aproximação dos EUA em 2025 revela um jogo geopolítico claro: nenhuma potência quer ficar de fora do potencial brasileiro no hidrogênio verde. Enquanto Europa financia portos e a China instala eletrolisadores, Washington aposta em cooperação estratégica para não perder espaço.
O desafio para o Brasil é negociar com inteligência. O país pode aceitar ser apenas fornecedor barato de energia limpa ou usar essa disputa para exigir investimentos locais, geração de empregos e transferência de tecnologia.
Se souber jogar suas cartas, o Brasil pode transformar o hidrogênio verde não apenas em produto de exportação, mas em motor de uma nova revolução industrial limpa no sertão nordestino.