Em entrevista ao programa Roda Viva, o climatologista Carlos Nobre afirmou que explorar petróleo na Margem Equatorial do Amapá é um erro climático. O pesquisador defende o fim da exploração de combustíveis fósseis para conter o aquecimento global.
O renomado climatologista Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), fez um forte alerta sobre os riscos climáticos associados à exploração de petróleo na Margem Equatorial do Amapá. A declaração foi dada durante sua participação no programa Roda Viva, exibido na última segunda-feira (13), na TV Cultura.
De acordo com o especialista, insistir na abertura de novas frentes de exploração petrolífera não faz sentido do ponto de vista climático. Ele ressaltou que o mundo precisa urgentemente reduzir o uso de combustíveis fósseis se quiser conter o aumento da temperatura média global.
Reduzir exploração é essencial para estabilizar o planeta, diz climatologista
Carlos Nobre destacou que a exploração de novas reservas de petróleo contraria os esforços internacionais de mitigação do aquecimento global. Segundo ele, mesmo que apenas os poços e minas já existentes continuem sendo explorados, o impacto ambiental seria catastrófico.
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“Se a gente explorar todas as minas de carvão, poços de petróleo e gás natural que existem hoje, não estou falando de nenhum novo, nós vamos chegar a 2050 ainda emitindo 9 ou 10 bilhões de toneladas de gás carbônico. Será impossível manter a temperatura do planeta”, alertou o climatologista.
O pesquisador acrescentou que o planeta já enfrenta eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, como secas prolongadas, enchentes e ondas de calor recordes. Para ele, a prioridade global deve ser parar de explorar novas reservas e investir em fontes de energia limpa, como solar e eólica.
“Para manter a temperatura do planeta, temos que parar de explorar o que já é explorado em todo o mundo”, reforçou.
Governo e Petrobras insistem em licenciamento na Margem Equatorial
Apesar dos alertas de cientistas e ambientalistas, o governo federal e a Petrobras seguem em busca de autorização do Ibama para realizar a prospecção de petróleo na Margem Equatorial, uma das novas fronteiras energéticas do país. A iniciativa é alvo de críticas de especialistas em clima e organizações ambientais, que alertam para os riscos de vazamentos e danos irreversíveis ao ecossistema marinho da região amazônica.
A área em questão é considerada de alta sensibilidade ambiental, abrigando espécies ameaçadas e ecossistemas únicos, que poderiam ser afetados por eventuais acidentes. Para Nobre, além do risco local, o projeto representa um retrocesso nas políticas de combate à crise climática.
O episódio do Roda Viva contou com uma bancada composta por Laís Duarte (TV Cultura), Tayguara Ribeiro (Folha de S.Paulo), Juliana Domingos de Lima (Estadão), Cristiane Prizibisczki (site O Eco) e Giovana Girardi (Agência Pública). O grupo discutiu com o climatologista o papel do Brasil na transição energética global e os desafios de conciliar crescimento econômico com responsabilidade ambiental.
Durante o programa, Carlos Nobre também ressaltou a importância de o país investir em tecnologias verdes e se tornar uma referência na produção de energia sustentável. Ele defendeu que o Brasil tem potencial para ser uma potência mundial em energias renováveis, desde que abandone progressivamente sua dependência de combustíveis fósseis.