Economia: Câmbio valorizado, endividamento alto e capacidade ociosa reduzem o impacto da nova isenção do IR sobre a inflação e o consumo.
Isenção do IR até R$ 5 mil tem efeito menor na economia do que o esperado
O aumento da isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil promete aliviar o bolso dos brasileiros, movimento a economia.
Porém, especialistas afirmam que o impacto na economia será limitado. O câmbio valorizado, o endividamento das famílias e a capacidade ociosa da indústria explicam o motivo.
Esses fatores, segundo economistas, reduzem a chance de a medida provocar um grande aumento na demanda ou pressionar a inflação.
-
Justiça condena empresa após funcionário ser pego pela Receita Federal
-
‘Quem pode, mete o pé do Brasil’: advogado dispara ao revelar que 11 mil brasileiros e empresas já mandaram dinheiro para fora após reforma tributária
-
Congresso brasileiro quer criar nova estatal bilionária para minerais críticos e reacende disputa com China e EUA pelo subsolo do Brasil
-
Sabesp compra controle da Emae por R$ 1,13 bilhão e assume usinas que geram energia com águas do rio Pinheiros e da Billings
Medida busca justiça tributária, dizem especialistas
Para Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, a isenção do IR representa uma reorganização tributária, não um estímulo direto ao consumo.
“A isenção até R$ 5 mil deve ser vista pela ótica de justiça tributária. Assim, a economia se torna mais eficiente”, afirmou Rocha.
Segundo ele, a medida corrige distorções e amplia o poder de compra de forma mais equilibrada. No entanto, o impacto sobre a demanda será limitado.
Câmbio valorizado contém a inflação
O câmbio tem papel central neste cenário. Mesmo com o desemprego em queda, a inflação segue desacelerando.
De acordo com Rocha, a valorização do real e os juros altos atraem capital estrangeiro e fortalecem a moeda brasileira.
“Se o dólar continuar cedendo, tende a compensar as pressões inflacionárias”, disse.
Assim, o câmbio favorável ajuda a reduzir os preços, especialmente de alimentos e bens importados. Portanto, o efeito da isenção sobre a inflação deve ser pequeno.
Endividamento das famílias limita consumo
O endividamento elevado das famílias brasileiras impede que a isenção se traduza totalmente em consumo.
Segundo André Perfeito, economista da APCE, boa parte da renda extra servirá para quitar dívidas.
“As famílias estão muito alavancadas. Assim, parte do dinheiro vai para o pagamento de dívidas, não para o consumo”, afirmou.
Com isso, o aumento da isenção pode aliviar o orçamento familiar, mas não impulsionar a economia como se espera.
Capacidade ociosa da indústria absorve a demanda da economia
A indústria brasileira ainda opera com capacidade ociosa, o que evita pressões sobre os preços mesmo que a demanda suba.
Dados da Fiesp mostram que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) está em 79,4%. Isso significa que há 20,6% de ociosidade.
Na indústria de máquinas e equipamentos, o índice é de 78,8%, segundo a Abimaq. Portanto, há espaço para aumentar a produção.
“Existe ociosidade em alguns setores. Isso pode aliviar a pressão sobre a demanda”, observou Perfeito.
Além disso, o Sensor da Fiesp ficou em 49,6 pontos em setembro, indicando contração leve da atividade industrial.
Banco Central deve manter cautela sobre a economia
Diante desse cenário, o Banco Central tende a manter sua postura cautelosa.
Rocha acredita que a instituição deve observar os efeitos da política monetária antes de alterar os juros.
“O BC deve esperar para ver os efeitos do aperto monetário”, concluiu o economista.
Assim, o câmbio, o endividamento e a capacidade ociosa devem continuar orientando as decisões de política econômica.