A produção nacional enfrenta secas, queda nas chuvas e novas exigências da União Europeia que podem alterar o mercado global do café
O Brasil, responsável por cerca de um terço do café mundial, vive um dos momentos mais delicados da sua história agrícola.
A degradação ambiental nas principais regiões produtoras do Sudeste, somada à intensificação das secas, ameaça a base produtiva do setor.
Além disso, esse segmento sustenta milhões de famílias e movimenta bilhões de reais em exportações, o que torna a crise ainda mais preocupante.
Produção sob pressão ambiental e climática
De acordo com relatório divulgado em 22 de outubro de 2025 pela ONG Coffee Watch, o desmatamento nas áreas cafeeiras brasileiras já ultrapassou 737 mil hectares desde 2002. Ao mesmo tempo, o impacto se concentra principalmente nos biomas Cerrado e Mata Atlântica, onde a expansão agrícola avança rapidamente.
À medida que as florestas foram removidas para abrir espaço às plantações, as chuvas diminuíram e o solo perdeu umidade, o que, consequentemente, provocou redução de produtividade e alta nos preços do café.
Além disso, pesquisadores da NASA confirmaram, por meio da missão SMAP, uma queda de até 25% na umidade do solo nas zonas cafeeiras de Minas Gerais e Espírito Santo.
Em consequência direta, o ciclo de chuvas deixou de coincidir com o período de floração e maturação dos grãos, tornando as colheitas cada vez mais imprevisíveis. Como resultado, o custo de produção subiu e a rentabilidade dos agricultores diminuiu.
Impactos crescentes e riscos até 2050
A ONG Coffee Watch alerta que, caso o padrão atual se mantenha, os preços extremos do café podem se tornar rotina até 2050.
Dessa forma, o relatório reforça que o desmatamento para ampliar o cultivo está matando as chuvas, as quais são essenciais para a lavoura. Desde a seca de 2014, considerada o ponto de virada para o setor, as estiagens tornaram-se quase anuais, prejudicando o solo e reduzindo o rendimento das plantações.
Como consequência, essas secas constantes dificultam a recuperação natural do solo e comprometem a qualidade do grão.
Além disso, um estudo da revista Climatic Change, publicado em 2025, estima que a produção de arábica em Minas Gerais pode cair 13% nas próximas décadas. Isso ocorre porque o regime de chuvas está colapsando, o que agrava ainda mais os efeitos climáticos sobre o cultivo.
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Pressão internacional e desafios do mercado europeu
O problema ambiental se soma, portanto, a um embate comercial.
Em 2023, a União Europeia aprovou uma lei que exige comprovação de que produtos como café, cacau e soja não são provenientes de áreas desmatadas.
O Brasil, por sua vez, considerou a medida unilateral e punitiva, argumentando que ignora legislações nacionais e aumenta os custos de exportação.
Ainda assim, o bloco europeu, que é o maior consumidor de café do mundo, mantém a implementação das regras.
Essa legislação obriga produtores e exportadores a fornecer dados de geolocalização das fazendas. Portanto, o novo sistema impõe um desafio adicional para o setor brasileiro, já pressionado pelas mudanças climáticas e pela necessidade de transparência nas cadeias produtivas.
Enquanto isso, as cooperativas e exportadores buscam se adaptar, investindo em certificações e rastreabilidade.
O futuro da maior potência cafeeira do planeta
Especialistas alertam que a resiliência do café arábica é limitada diante das variações climáticas. Além disso, o modelo atual de expansão agrícola está se tornando insustentável, pois destrói os recursos naturais que sustentam o próprio cultivo.
As florestas, que antes garantiam o equilíbrio das chuvas e protegiam o solo, estão sendo substituídas por monoculturas vulneráveis.
Segundo a Coffee Watch, a destruição das florestas compromete o próprio microclima necessário ao cultivo, criando um ciclo vicioso entre desmatamento, seca e perda de produtividade.
Em 2024 e 2025, a escassez de chuva elevou os preços globais, prenunciando o que pode se tornar um padrão permanente. Por isso, especialistas afirmam que é urgente mudar o modelo de produção, sob o risco de colapso da principal cultura do país.
Se nada mudar, a base ambiental que sustenta a produção de café brasileira pode desaparecer. Dessa forma, o país precisará adotar políticas agrícolas mais sustentáveis e ampliar o reflorestamento em áreas estratégicas.
Só assim o Brasil poderá garantir o futuro do seu café e preservar sua posição de liderança global.