Com a dívida dos EUA ultrapassando US$ 36 trilhões, países como China e Japão já reduzem sua exposição aos títulos americanos. Mas o que ocorre se o mundo todo parar de financiá-la?
A dívida dos EUA é hoje um dos pilares do sistema financeiro global. Mais de cem países mantêm parte de suas reservas internacionais em títulos do Tesouro americano, confiando na segurança da moeda e na previsibilidade de sua economia. Mas essa confiança vem sendo abalada por ações unilaterais, disputas comerciais e um endividamento crescente.
Desde o colapso do sistema de Bretton Woods em 1971 até as tensões mais recentes com China, México e União Europeia, a dívida dos EUA se tornou um tema geopolítico. A pergunta que se impõe agora é: e se os credores decidirem parar de financiar essa máquina trilionária?
O colapso da confiança e o início do risco sistêmico
A dívida pública americana atingiu US$ 36 trilhões em 2024, equivalente a cerca de 120% do PIB do país, segundo o Tesouro dos EUA. Essa escalada começou a ganhar força nos anos 70, após o fim da conversão do dólar em ouro. Desde então, o governo dos EUA financia déficits recorrentes com a emissão de títulos como os T-Bonds e T-Bills, vendidos a investidores e bancos centrais ao redor do mundo.
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Por décadas, isso funcionou bem. O dólar era a principal moeda de comércio internacional, e os EUA, um porto seguro para investimentos. Mas, com o aumento da imprevisibilidade política e fiscal — como os pacotes agressivos de tarifas de Donald Trump ou o “One Big Beautiful Bill Act” — a percepção de risco aumentou. Investidores passaram a exigir juros maiores, e países como China, Japão e Rússia começaram a reduzir sua exposição à dívida americana.
Se o mundo parar de comprar a dívida dos EUA: os impactos diretos
Se a demanda global por títulos americanos continuar caindo, os efeitos seriam imediatos. O Tesouro dos EUA teria que elevar os juros para atrair compradores, tornando mais caro o financiamento da própria dívida. Isso aumentaria o custo de empréstimos, afetando consumidores, empresas e até o orçamento militar — que sozinho responde por cerca de 40% dos gastos militares do mundo.
Além disso, a inflação poderia disparar se o dólar enfraquecer frente a outras moedas, reduzindo seu poder de compra. Isso forçaria o Federal Reserve a subir ainda mais os juros, agravando o problema. Em um cenário extremo, se os EUA não conseguirem rolar a dívida, o país enfrentaria risco de calote, abalo sem precedentes para os mercados globais.
A crescente desdolarização e os riscos de um mundo multipolar
A queda na confiança já se reflete nas reservas internacionais. A China, segundo maior credor da dívida dos EUA, reduziu sua participação de 79% em 2005 para 58% em 2015. Em 2024, o país manteve cerca de US$ 759 bilhões em títulos americanos, menor nível desde 2009, conforme dados do Tesouro norte-americano. Ao mesmo tempo, Pequim vem aumentando suas reservas em ouro e moedas alternativas, sinalizando um movimento de desdolarização.
O grupo dos BRICS e países asiáticos como Vietnã e Coreia do Sul também vêm ampliando acordos em moedas locais, o que reduz a dependência do dólar. Isso pressiona ainda mais os EUA, que historicamente contavam com o fato de que seu déficit poderia ser financiado por países interessados em manter reservas em dólares.
Efeitos globais de um eventual colapso da dívida americana
Caso os EUA cheguem ao ponto de não conseguir mais financiamento externo suficiente, o país teria que cortar gastos públicos ou imprimir mais moeda, o que levaria à desvalorização do dólar e fuga de capitais. Isso abalaria a posição do dólar como moeda de reserva global, abrindo espaço para o euro, yuan ou moedas de blocos econômicos regionais.
Num cenário extremo, o mundo migraria para um sistema financeiro multipolar, com novas moedas ganhando relevância no comércio global. Isso também traria instabilidade: grande parte dos contratos internacionais, reservas cambiais e transações de commodities ainda são lastreadas em dólar. Uma crise da dívida dos EUA geraria efeito dominó em bancos, fundos de pensão e governos ao redor do mundo.
Você acha que a dívida dos EUA já passou do limite? O dólar continuará sendo a moeda dominante nos próximos anos? Comente abaixo e compartilhe sua visão!