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Brasileiro cria carro movido a água com autonomia de 1 mil km por litro e agora quer vender sua ideia por menos de R$ 2 mil

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 20/08/2025 às 11:34
Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.
Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.
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Inventor brasileiro apresenta sistema que promete mover carros com hidrogênio extraído da água, garantindo alta autonomia e custo reduzido, mas ainda enfrenta barreiras técnicas e legais antes de chegar ao mercado.

Um inventor brasileiro, Roberto de Souza, afirma ter criado um sistema que gera hidrogênio a partir de água destilada para abastecer motores de combustão e promete autonomia de até 1.000 km por litro.

Ele diz planejar vender o kit com instalação por menos de R$ 2 mil.

A proposta, que volta a circular em reportagens e redes sociais, atrai curiosidade de consumidores e oficinas, mas ainda carece de validação independente e esbarra em exigências técnicas e regulatórias do setor automotivo.

Como o sistema é apresentado

Segundo o próprio inventor, o conjunto adiciona ao veículo um reservatório e um gerador que executa eletrólise.

A água é decomposta em hidrogênio e oxigênio, e o hidrogênio seria conduzido ao coletor de admissão para queimar no motor original.

A promessa combina custo baixíssimo, ruído menor e emissões reduzidas, já que a reação gera vapor de água.

Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.
Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.

Ainda de acordo com Souza, a adaptação preserva desempenho e pode ser aplicada a motores a gasolina, etanol ou GNV.

Testes alegados e histórico recente

O caso não é novo.

Em 2016, publicações locais registraram que Roberto adaptou um Chery S18 e percorreu um trajeto até o Rio de Janeiro usando 1,5 litro de água destilada no reservatório do kit.

À época, ele repetiu a estimativa de 1.000 km por litro e disse que a água custaria cerca de R$ 3.

O relato reapareceu em 2023 e 2025 em matérias e vídeos que voltaram a difundir a experiência, sem divulgação de relatórios técnicos, medições laboratoriais ou auditoria de consumo por entidades independentes.

O que diz a ciência sobre “carro a água”

Na literatura técnica e acadêmica, água não é combustível: é o produto final da combustão do hidrogênio.

Para “tirar” hidrogênio da água por eletrólise, o sistema precisa de energia elétrica.

As perdas do processo tornam impossível obter mais energia queimando o hidrogênio do que a que foi gasta para produzi-lo.

É por isso que projetos que prometem mover o carro apenas com água são classificados como pseudociência pela comunidade científica.

A eletrólise pode ser útil em aplicações específicas, mas não elimina a necessidade de uma fonte externa de energia.

Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.
Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.

Divulgadores técnicos brasileiros reforçam que, quando a eletrólise é alimentada pelo próprio alternador do carro, “a conta não fecha” do ponto de vista energético.

Segurança e enquadramento regulatório

Para qualquer alteração em sistema de alimentação de veículos no Brasil, a regra é cumprir normas e passar por inspeções reconhecidas.

O Inmetro reafirmou neste ano seu papel na avaliação da conformidade e na supervisão da inspeção veicular, em articulação com órgãos de trânsito.

Portarias vigentes tratam de sistemas GNV e de inspeção de veículos, com requisitos de segurança e rastreabilidade em oficinas autorizadas, mas não contemplam kits de eletrólise on-board como os divulgados em vídeos.

Sem homologação específica e sem ensaios padronizados de desempenho e segurança, a comercialização em larga escala enfrenta barreiras regulatórias e de seguro, além de exigências de engenharia para armazenamento e manuseio de hidrogênio, gás inflamável que demanda componentes certificados.

Outras iniciativas e controvérsias

Ideias de “carro movido a água” ressurgem ciclicamente há quase um século.

Elas estão associadas a patentes de oxihidrogênio (HHO) voltadas sobretudo a soldagem, e não à propulsão automotiva.

Em períodos de combustível caro, multiplicam-se kits que prometem grande economia usando “hidrogênio sob demanda”.

Reportagens e análises técnicas de veículos especializados apontam falta de comprovação robusta, resultados inconsistentes em estrada e o risco de soluções comerciais que extrapolam o que é fisicamente possível.

Em 2022, a QUATRO RODAS revisitou casos de “motores a água” e destacou como o tema costuma abrir espaço para charlatanismo quando não há verificação independente.

Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.
Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.

O que o inventor diz querer fazer

De acordo com reportagens recentes, Roberto de Souza afirma que não pretende “engavetar” a ideia.

Ele diz desejar massificar o acesso ao kit por meio de treinamento de oficinas para instalação e manutenção, com preço abaixo de R$ 2 mil e início das vendas ainda neste ano.

Em declarações atribuídas a ele, a intenção seria tornar o projeto “domínio público e [fazer com que] passe a ser usado em larga escala, pois funciona”.

Até aqui, porém, não há publicação de testes padronizados por laboratórios, universidades ou órgãos acreditados que atestem a autonomia prometida.

Também não há documentação de homologação técnica para uso comercial.

Relatos, limites e o que falta comprovar

Relatos de usuários de filtros ou geradores HHO sugerem que a economia, quando existe, depende de condução muito moderada e de acerto fino do sistema original do motor.

Acelerações fortes fariam o carro voltar a consumir o combustível convencional.

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Brasileiro cria sistema que promete mover carros com água, oferecendo autonomia de 1000 km por litro e custo abaixo de R$ 2 mil.

Tais afirmações são anedóticas e não substituem ensaio de laboratório com protocolo de medições, repetibilidade e auditoria.

A experiência internacional com veículos a hidrogênio que já estão nas ruas — como modelos a célula a combustível — se baseia em abastecimento de hidrogênio comprimido produzido fora do veículo, e não em eletrólise a bordo alimentada pelo alternador.

Enquanto a proposta de Souza ganha visibilidade, a linha de base para aceitação continua a mesma do setor automotivo: laudos de segurança, relatórios de eficiência e certificação.

Sem isso, fica impossível saber se a autonomia anunciada é reprodutível, em que condições, e com que impacto em durabilidade do motor e no sistema elétrico.

Em meio a expectativas de preço baixo e economia “milagrosa”, você acredita que essa ideia pode chegar a ser feita em escala comercial?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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