Copom manteve a Selic em 15% ao ano e consolidou o Brasil como o 2º país com maior juro real entre 40 economias, atrás apenas da Turquia, deflação de agosto e atividade fraca ajudam a explicar o cenário
O Brasil manteve nesta semana a taxa Selic em 15% ao ano e, com isso, consolidou a 2ª posição no ranking mundial de juros reais, segundo o levantamento MoneYou & Lev Intelligence. O país soma 9,51% de juro real (descontada a inflação projetada), ficando atrás apenas da Turquia (12,34%).
A decisão do Banco Central ocorre em meio a inflação ainda acima da meta no horizonte relevante e sinais de desaceleração econômica.
O que muda com a Selic parada em 15%
A decisão unânime do Copom reforça que o país seguirá por mais tempo com custo do crédito elevado, afetando financiamento de empresas, consumo das famílias e investimentos de longo prazo. Na prática, o rendimento real de aplicações atreladas à Selic continua alto, enquanto o crédito fica mais caro e seletivo.
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O Banco Central pontuou que, embora as projeções de inflação tenham melhorado marginalmente, a convergência à meta de 3% exige cautela. Ou seja: não há promessa de cortes no curto prazo e, se o cenário piorar, novas altas seguem no radar.
Esse ambiente ajuda a ancorar expectativas e segurar repasses de preços, mas cobra um preço na atividade. Entre os efeitos colaterais, o encarecimento de capital de giro e do financiamento habitacional tende a esfriar a economia nos próximos trimestres.
Brasil x mundo: por que estamos em 2º no ranking de juro real
O ranking da MoneYou & Lev combina a inflação projetada para 12 meses (via Focus) com a taxa de juros a mercado. É um indicador de comparação internacional que mostra o poder de compra do juro em cada país. No recorte mais recente, Turquia lidera, Brasil vem na 2ª posição, seguido por Rússia, Colômbia, México e Índia. Argentina, Indonésia, Hungria e África do Sul completam o top 10.
Na América Latina, o Brasil supera Colômbia (4,38%) e México (3,77%) em juro real. Entre os Brics ampliados, fica à frente de Rússia (4,79%), Índia (3,54%), Indonésia (2,73%) e África do Sul (2,29%). Em termos nominais, a Selic de 15% coloca o Brasil em 4º lugar, abaixo de Turquia, Argentina e Rússia.
Para o investidor estrangeiro, esse diferencial atrai fluxo para renda fixa e bolsa, especialmente quando grandes bancos centrais começam a cortar juros, caso dos EUA, cujo Fed reduziu a taxa pela primeira vez em 2025, movimento que tende a aliviar o dólar global e favorecer emergentes com prêmios altos de juros.
Inflação dá trégua, mas serviços ainda pressionam
O IPCA caiu 0,11% em agosto, a primeira deflação do ano, puxada por habitação, alimentação e transportes. No acumulado de 12 meses, a inflação está em 5,13%, acima da meta, o que ajuda a explicar a postura cautelosa do BC. Ainda assim, serviços seguem mais pressionados e a desinflação é desigual entre grupos.
A leitura de deflação não garante cortes imediatos. O BC destacou que choques externos — como tarifas e incertezas globais, e a resiliência de preços internos exigem prudência. Em outras palavras, o comitê quer ver mais meses de inflação comportada, com núcleos arrefecendo, antes de iniciar alívio relevante na Selic.
Para famílias e empresas, a combinação de juros altos e inflação recuando aumenta o juro real de curto prazo, reforçando o freio na demanda, mas eleva o ganho real de quem está posicionado em pós-fixados. Esse balanço é central para entender a dinâmica de consumo e investimento até o fim do ano.
Atividade dá sinais de cansaço: IBC-Br cai pelo 3º mês
O IBC-Br, indicador do Banco Central que antecipa o PIB, caiu 0,5% em julho na comparação mensal, terceira queda seguida e pior do que o esperado pelo mercado. A fraqueza foi disseminada, atingindo agro, indústria e serviços. O dado reforça que a economia perde tração sob juros elevados.
Com a atividade arrefecendo, parte do mercado já especula cortes no início de 2026, caso a inflação siga cedendo e o cenário externo colabore. Por ora, o BC prefere aguardar mais evidências de desinflação sustentada antes de virar a mão.
Para o investidor, o quadro sugere seleção mais cuidadosa de ativos: renda fixa pós-fixada segue atrativa no curto prazo, enquanto a bolsa tende a oscilar conforme os sinais do Fed, o balanço entre crescimento e inflação e a leitura dos resultados corporativos.
E o efeito do corte do Fed?
O Federal Reserve reduziu os juros nesta semana, num gesto para amparar um mercado de trabalho mais fraco e combater riscos à atividade. Para o Brasil, a tendência de menor juro nos EUA pode aliviar o câmbio e baratear parte do financiamento externo, abrindo espaço à frente para uma Selic menos restritiva, se a inflação doméstica cooperar.
Ainda assim, a persistência de tarifas e incertezas globais mantém o cenário volátil. O BC seguirá olhando o balanço de riscos (domésticos e externos) antes de qualquer mudança na taxa básica. Por isso, o recado do Copom foi de vigilância e paciência.
Você concorda com a estratégia do BC de manter a Selic em 15% mesmo com deflação em agosto e atividade em queda? Acha que o corte do Fed abre espaço para aliviar os juros por aqui mais cedo, ou o risco inflacionário ainda fala mais alto? Deixe seu comentário.