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Brasil tem mais terras raras que Índia, Austrália, Rússia e Vietnã juntos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 10/11/2025 às 19:08
Brasil supera Índia, Austrália, Rússia e Vietnã em reservas de terras raras, consolidando-se como potência global na produção estratégica desses minerais
Brasil supera Índia, Austrália, Rússia e Vietnã em reservas de terras raras, consolidando-se como potência global na produção estratégica desses minerais
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O Brasil se destaca como uma das maiores potências minerais do planeta, concentrando mais reservas de terras raras do que Índia, Austrália, Rússia e Vietnã juntos, segundo dados atualizados do USGS de 2024

O Brasil está às portas de um salto estratégico. Com reservas estimadas em cerca de 21 milhões de toneladas de óxidos de terras-raras, segundo o relatório USGS de 2024.

Esse volume coloca o país entre os mais relevantes do planeta – atrás apenas da China – e abre uma janela de oportunidade histórica para agregar valor, diversificar cadeias globais de insumos e romper com o padrão tradicional de exportador de matéria-prima.

O cenário, porém, está longe de ser simples: apesar das reservas, a produção efetiva brasileira ainda é quase simbólica.

As decisões que o Brasil tomar nos próximos anos podem definir se ele será participante ou protagonista neste mercado de altíssima relevância para a transição energética, mobilidade elétrica, defesa e tecnologia.

O dado se torna ainda mais expressivo quando comparado à soma das reservas de Índia (6,9 milhões), Austrália (5,7 milhões), Rússia (3,8 milhões) e Vietnã (3,5 milhões). Juntos, esses quatro países totalizam 19,9 milhões de toneladas, ou seja, ainda menos do que o Brasil concentra sozinho.

Reservas, produção e o “gap Brasil”


Entretanto, a produção brasileira em 2024 foi de apenas cerca de 20 toneladas – um volume verdadeiramente simbólico frente ao potencial. Ou seja: isto revela um enorme “gap” entre o que o Brasil possui em reservas e o que efetivamente está sendo explorado e comercializado.

Esse número representa menos de 1% da produção mundial, que foi de 390 mil toneladas.

Esse descompasso decorre de múltiplos fatores: tecnologia, investimento, licenciamento ambiental, construção de cadeias de beneficiamento e, também, questões regulatórias.

Por exemplo, a matéria-prima pode estar lá, mas se não houver processamento, refino ou magnetização local – atividades que agregam valor – o país continuará exportando apenas “minério bruto” ou depender de terceiros para finalizar o produto.

Brasil no mapa geopolítico das terras-raras

As terras-raras são hoje um insumo estratégico: usadas em ímãs permanentes para veículos elétricos, turbinas eólicas, sistemas de defesa, eletrônica de alto desempenho.

A China domina grande parte da cadeia – tanto extração quanto refino e magnetização. Por isso, países como o Brasil são vistos como “alternativas” ou “diversificadores” críticos.

Em junho de 2024 a Reuters noticiou que o Brasil está “se juntando à corrida para enfraquecer o controle da China” sobre as terras-raras, destacando que o país pode ter duas ou três minas em operação até 2030, o que potencialmente faria com que superasse a Austrália em produção anual em futuras projeções.

Outro dado relevante: as exportações brasileiras de terras-raras para a China cresceram cerca de 48,6% no primeiro semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024.

Esses movimentos demonstram que já há dinâmica internacional e interesse em torno do Brasil – embora ainda tudo esteja em estágio inicial.

Oportunidades para o Brasil – uma agenda com múltiplas frentes

Exploração e mineração: Com reservas tão expressivas, o Brasil tem a oportunidade de explorar depósitos em regiões como Goiás, Minas Gerais e Bahia, inclusive em formações de argilas iônicas (ionic clays) que têm geologia semelhante à de grandes depósitos da Ásia.

Beneficiamento local e valor agregado: Ao invés de simplesmente exportar minério bruto, o Brasil poderia construir refinarias, instalação de magnetos, separar e produzir materiais finais – capturando assim mais valor dentro da cadeia.

Isso exige políticas industriais, tecnologia, parcerias internacionalizadas. Grande parte da vantagem global está em quem “transforma” e não apenas em quem mineria.

Inserção estratégica no mercado global da transição energética: Com a mobilidade elétrica, energia renovável, conectividade 5G/6G, e aplicações militares, a demanda por terras-raras está projetada para continuar em forte crescimento.

O Brasil, tendo vantagens comparativas (energia hídrica abundante, trabalhado geológico, localização hemisférica), pode construir um papel relevante – desde que avance.

Políticas públicas, parcerias estrangeiras e financiamento: Fontes recentes indicam que o governo brasileiro está estruturando políticas de incentivo para minerais estratégicos, incluindo garantias financeiras e incentivos fiscais.

Também existem grandes fluxos de investimento internacional olhando o Brasil – o que pode facilitar a construção de infraestrutura de mineração e processamento.

Riscos e “por que até aqui tão pouco”

Minerar e sobretudo processar terras-raras não é simplesmente extrair rocha. Muitas vezes há necessidade de separação química, refino, tratamento de resíduos (que podem ser radioativos ou ambientalmente sensíveis), e panorama ambiental-social complexo.

O Brasil já viu problemas em outros minerais. Portanto, há desafios para evitar que o ciclo vire apenas mais uma “mineração de baixa agregação” com impactos negativos.

Mineração de terras-raras requer grandes investimentos e horizontes longos de retorno. Em períodos de preço baixo ou incerteza regulatória, o capital pode recuar. Alguns projetos brasileiros ainda lutam para viabilização.

D. Dependência de China para refino

Mesmo que o Brasil extraia mais minas, sem a cadeia de refino e magnetos local ele continuará dependente da China ou de terceiros para parte do valor agregado. Muitos analistas lembram que “extrair é fácil, refinar é difícil”.

Como mineral estratégico, as terras-raras entram em disputa entre grandes potências. O Brasil precisará navegar entre investidores estrangeiros, políticas de soberania, meio ambiente, comunidades locais – sem repetir erros de “boom e bust” de outros recursos minerais.

O Brasil está numa encruzilhada estratégica: com reservas que poderiam torná-lo um protagonista global nas terras-raras, mas com produção ainda residual e uma cadeia de valor desarticulada.

Se conseguir superar os gargalos – investimento, processamento local, políticas industriais, sustentabilidade – o país não estará apenas minerando mais, estará entrando em um novo patamar de valor agregado, geopolítico e industrial.

Caso contrário, há o risco de permanecer como fornecedor de matéria-prima de baixo valor e perder, para sempre, a oportunidade de capturar a transformação tecnológica que está em curso.

O relógio está correndo.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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