Brasil tem mais empresas de gás natural, mas infraestrutura e regulação inibem queda de preço. Número de companhias cresce no setor, mas barreiras logísticas e regras estaduais mantêm custo elevado para indústria e consumidores.
O Brasil tem mais empresas de gás natural, resultado de um processo de abertura iniciado com a Nova Lei do Gás em 2021. Dados do Observatório do Gás Natural, divulgados pelo g1, mostram que o número de companhias autorizadas a comercializar o insumo cresceu em média 15% ao ano desde então. No transporte, o avanço é ainda maior, com aumento de 19% ao ano.
Apesar desse movimento, os preços seguem altos e a concorrência ainda não se reflete no bolso do consumidor, principalmente devido a entraves regulatórios, concentração de mercado e gargalos de infraestrutura.
O crescimento do setor de gás natural no Brasil
A abertura do mercado reduziu a participação da Petrobras nos contratos de longo prazo com distribuidoras, que caiu de 100% em 2021 para 69% no fim de 2024. Esse cenário estimulou a entrada de novos agentes e maior diversidade de fornecedores.
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Outro destaque é o avanço dos consumidores livres, grandes empresas que compram diretamente dos fornecedores. Esse grupo cresceu, em média, 70% ao ano, sinalizando maior busca por alternativas para reduzir custos energéticos.
Ainda assim, o Brasil paga em média R$ 43 por milhão de BTUs a mais que os Estados Unidos, segundo Andrea Macera, secretária de Competitividade e Política Regulatória do MDIC. O impacto é estimado em quase R$ 2,5 bilhões em “Custo Brasil”, que reduz a competitividade da indústria.
Por que a concorrência ainda não derruba os preços
Especialistas apontam que ainda que haja mais agentes no setor, a concorrência real não se consolidou. Segundo Rogério Caiuby, do Movimento Brasil Competitivo, as barreiras regulatórias, operacionais e comerciais impedem uma redução efetiva no valor final.
Outro fator é a regulação desigual entre estados. Em algumas regiões, como no Nordeste, o preço médio do gás chega a ser 20% menor que no Sudeste. Isso acontece porque cada estado estabelece regras próprias para que empresas possam migrar ao mercado livre, exigindo muitas vezes um volume mínimo elevado de consumo, o que limita o acesso de pequenas e médias companhias.
O desafio da infraestrutura
Além das regras, a limitação da infraestrutura é um entrave central. A malha de gasodutos e os terminais de regaseificação ainda são insuficientes para atender de forma competitiva todas as regiões do país.
De acordo com o MDIC, não basta extrair o gás natural; é preciso investir em transporte, tratamento e distribuição. Sem expansão logística, os novos agentes ficam restritos e os custos seguem elevados.
Transparência e dados para avançar
O lançamento do Observatório do Gás Natural tem o objetivo de centralizar informações sobre oferta, demanda, transporte, distribuição e regulação do setor. A expectativa do governo é que a maior transparência ajude a reduzir custos e ampliar a competição entre fornecedores.
Com dados organizados em sete módulos, o observatório permitirá diagnósticos regionais mais precisos, além de subsidiar políticas públicas e investimentos privados no setor.
O fato de que o Brasil tem mais empresas de gás natural representa um avanço importante, mas insuficiente para reduzir preços sem resolver gargalos de infraestrutura e harmonizar a regulação entre estados. Para indústria e consumidores, a expectativa é de que a concorrência real só se concretize quando esses obstáculos forem superados.
E você, acredita que a abertura do mercado de gás natural vai realmente reduzir preços nos próximos anos ou que o Brasil continuará preso ao “Custo Brasil”? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive essa realidade na prática.