Nova descoberta em Caçapava do Sul revela concentração de terras raras até 6 vezes superior à da China. Brasil pode se tornar protagonista global na mineração estratégica.
Uma nova pesquisa científica liderada por universidades brasileiras revelou a existência de solos e rochas com altíssima concentração de elementos de terras raras (ETRs) em Caçapava do Sul, na região central do Rio Grande do Sul. A descoberta pode colocar o Brasil entre os principais protagonistas mundiais da mineração desses elementos essenciais para a indústria de alta tecnologia.
Uma descoberta promissora no interior do RS
A expedição científica que resultou nessa identificação foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e segue em andamento até dezembro de 2026. A frente de pesquisa é composta por cientistas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade do Pampa (Unipampa).
O foco principal está nas rochas de carbonatito, especialmente na formação conhecida como Picada dos Tocos, rica em minerais estratégicos como apatita, pirocloro, monazita-(Ce) e aeschynita-(Ce). Também foram identificadas concentrações importantes de nióbio e tântalo, outros elementos de alto valor industrial.
-
O ‘lítio verde’ tem suas polêmicas: em salares como o do Atacama, a mineração consome centenas de m³ de salmúria e água doce por tonelada e já afeta populações de flamingos
-
Vale anuncia R$ 67 bilhões em Minas até 2030 com mineração sem barragens e meta de 10% da produção via reaproveitamento de rejeitos
-
Mineração brasileira cria 5.085 vagas de emprego em seis meses e fatura R$ 48 bilhões no primeiro semestre de 2025
-
Porto Sudeste dispara e bate recordes históricos na movimentação de minério em agosto
Segundo o professor Marcelo Barcellos da Rosa, do Departamento de Química da UFSM e coordenador do projeto, o solo local apresenta níveis de terras raras até 12 vezes superiores aos encontrados em Cuba e seis vezes maiores que os da China, país que lidera atualmente a produção global.
Por que “terras raras” são tão valiosas?
Apesar do nome, os elementos de terras raras não são escassos na natureza — o termo se refere à dificuldade de extração e separação dos elementos, geralmente encontrados em concentrações muito diluídas ou em locais de difícil acesso.
Esses elementos são indispensáveis para a fabricação de uma vasta gama de produtos tecnológicos e sustentáveis, como:
- Imãs permanentes de alto desempenho usados em motores elétricos e turbinas eólicas;
- Sensores de movimento e velocidade;
- Dispositivos eletrônicos como notebooks, smartphones, câmeras e discos rígidos;
- Catalisadores automotivos e baterias de veículos elétricos;
- E até mesmo tecnologias militares e aeroespaciais.
Ou seja, dominar a cadeia produtiva das terras raras é sinônimo de soberania tecnológica.
Brasil: segundo maior em reservas, mas ainda dependente de importações
Com essa nova descoberta, o Brasil reforça seu papel como potência mineral ainda adormecida. Segundo dados da UFSM e do Serviço Geológico do Brasil, o país possui cerca de 23% das reservas conhecidas de terras raras no mundo, atrás apenas da China. No entanto, produz e exporta muito pouco — a maior parte da atividade mineradora nacional na área ainda depende de investimentos estrangeiros.
As principais jazidas brasileiras de terras raras estão localizadas em:
- Araxá, Poços de Caldas e Tapira (MG);
- Catalão e Minaçu (GO);
- Jacupiranga e Itapirapuã (SP);
- Pitinga (AM).
Com a identificação do potencial em Caçapava do Sul, o Rio Grande do Sul pode se tornar o novo epicentro da mineração estratégica no Brasil.
Sustentabilidade e pesquisa ambiental também fazem parte da missão
Além de medir a concentração de terras raras, o projeto também estuda a relação dos minerais com o ecossistema local. A UFSM está coordenando a coleta de amostras de solo, água e vegetação, enquanto a Unipampa realiza estudos sobre impactos ambientais e biodiversidade. A UFRGS, por sua vez, é responsável pela caracterização mineralógica das rochas.
De acordo com o pesquisador Lucas Mironuk Frescura, uma das plantas nativas analisadas foi a carqueja, que absorveu as terras raras do solo, o que pode representar um bioindicador natural de presença desses elementos — uma ferramenta poderosa para futuras prospecções com menor impacto ambiental.
Um avanço em meio a uma crescente corrida internacional por minerais críticos
A identificação de novas descobertas de terras raras em solo brasileiro é um avanço estratégico em meio a uma crescente corrida internacional por minerais críticos. Com a transição energética global e o avanço da eletrificação, o domínio sobre esses elementos será crucial.
Se o Brasil conseguir explorar suas reservas de forma sustentável, ética e com participação nacional significativa, pode se tornar um dos protagonistas da nova economia verde global. A descoberta em Caçapava do Sul é apenas o começo de uma mudança profunda que pode gerar empregos, atrair indústrias e colocar o país como fornecedor estratégico de tecnologia limpa.
Não adianta eles enfiam no **** dos estrangeiros