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Brasil pode sofrer novo apagão neste ano por uma razão impensável, segundo alerta do setor elétrico

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 28/10/2025 às 12:54
Brasil enfrenta risco de apagão em 2025 por excesso de energia renovável e baixa demanda, segundo alerta do setor elétrico.
Brasil enfrenta risco de apagão em 2025 por excesso de energia renovável e baixa demanda, segundo alerta do setor elétrico.
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Especialistas alertam que a combinação de alta oferta de energia renovável e baixa demanda pode gerar desequilíbrios inéditos no sistema elétrico brasileiro, elevando o risco de blecautes e prejuízos bilionários às usinas solares e eólicas.

O sistema elétrico brasileiro vive uma combinação atípica entre alta oferta de energia renovável e demanda reduzida em 2025, o que tem elevado o risco de blecautes em horários específicos, especialmente nas manhãs de domingos e feriados.

De acordo com informações do site NeoFeed, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) intensificou os cortes de geração como medida preventiva, enquanto agentes do setor relatam prejuízos bilionários nas usinas eólicas e solares centralizadas.

Segundo especialistas, o país pode enfrentar um apagão não por escassez, mas por excesso de energia em momentos de baixo consumo.

Entenda o desequilíbrio no sistema elétrico

O sistema elétrico precisa operar de forma equilibrada, mantendo a frequência em 60 Hertz (Hz).

Quando a geração supera o consumo, a frequência sobe.

Acima de 60,5 Hz, proteções automáticas desligam usinas, o que pode provocar desligamentos em cascata e afetar o fornecimento nacional.

O risco é maior entre 10h e 12h, faixa em que a geração solar atinge o pico e o consumo de energia costuma ser mais baixo.

De acordo com o ONS, o avanço da geração renovável deslocou parte significativa da produção para horários de baixa demanda, o que amplia o descompasso em domingos e feriados.

O fenômeno é reforçado pelo crescimento da geração distribuída (GD) — painéis solares em telhados e pequenas usinas conectadas diretamente às distribuidoras —, que injeta mais energia na rede sem controle centralizado pelo operador.

Medidas do ONS para evitar apagões

Painéis solares de grande escala no Brasil evidenciam avanço das renováveis, elemento central do desequilíbrio entre geração e consumo. (Imagem: Divulgação usina solar)
Painéis solares de grande escala no Brasil evidenciam avanço das renováveis, elemento central do desequilíbrio entre geração e consumo. (Imagem: Divulgação usina solar)

Diante do aumento da instabilidade, o ONS ampliou o uso do curtailment (redução temporária da geração) em grandes usinas.

Em pelo menos quatro domingos de 2025, o operador chegou ao limite máximo de corte para equilibrar carga e oferta.

Em agosto, os cortes representaram cerca de 7% do consumo nacional, e em setembro, 8,8%.

No Dia dos Pais (10 de agosto), o corte chegou a 98% da geração renovável disponível, segundo o órgão, em razão da baixa demanda naquele domingo.

Após esse episódio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou o ONS a realizar cortes emergenciais em qualquer tipo de geração, inclusive de micro e minigeração distribuída (MMGD), quando tecnicamente possível.

Em nota, o ONS afirmou que não há mecanismos técnicos e regulatórios para controlar diretamente os excedentes da MMGD, por estarem ligados às redes das distribuidoras.

O órgão disse ainda que atua, junto ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), na elaboração de um plano emergencial para dar mais flexibilidade à operação.

Geração distribuída e concentração de oferta

A capacidade instalada da geração distribuída já se aproxima da soma das usinas eólicas e solares centralizadas.

Especialistas afirmam que essa coincidência de produção amplia o pico de oferta no fim da manhã.

“O problema é que tanto a GD quanto as usinas solares centralizadas produzem simultaneamente, com pico entre 10h e 12h”, explicou Donato Filho, CEO da consultoria Volt Robotics.

Segundo ele, essa concentração em horários de baixa demanda cria o excedente que ameaça o equilíbrio da rede.

O controle desse volume é mais difícil porque a MMGD não é despachada pelo ONS.

Nas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), o monitoramento também é limitado, já que os dados são repassados pelas distribuidoras e não diretamente pelo operador.

Impacto financeiro nas usinas renováveis

A redução forçada de geração tem afetado a receita de usinas eólicas e solares.

Segundo estimativa da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), os prejuízos às usinas solares centralizadas já somam R$ 1,9 bilhão.

Não existe empreendimento que consiga suportar cortes nessa proporção, já que apenas 10% das perdas podem ser ressarcidas”, disse Barbara Rubim, vice-presidente da entidade.

A Resolução 1.030 da Aneel limita o ressarcimento médio a 10% do volume cortado.

A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) também manifesta preocupação e defende compensações mais adequadas.

Para a presidente da entidade, Elbia Gannoum, o problema está no Sistema Interligado Nacional (SIN), em que os geradores devem cumprir contratos, mas não têm controle sobre as decisões operacionais do ONS.

Segundo ela, quando o operador impede a entrega de energia contratada, o gerador deve ser compensado.

Estados mais atingidos pelos cortes

Dados do setor apontam que Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco estão entre os estados com maiores reduções de geração renovável.

Em evento setorial, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, relatou que o parque solar Arinos, em Minas Gerais, teve 70% da produção cortada após investimento de R$ 1,5 bilhão em parceria com a Newave Energia.

Ele afirmou ter “dificuldade de entender” por que usinas renováveis ficam paradas enquanto térmicas são despachadas.

A Eneva informou que o parque Futura 1, em Juazeiro (BA), deixou de gerar 185 GWh no terceiro trimestre de 2025, o maior corte de sua série histórica.

Já a Comerc Energia revisou a projeção de Ebitda para R$ 1,05 bilhão a R$ 1,15 bilhão, ante expectativa inicial de R$ 1,3 bilhão, devido ao aumento de curtailment.

A companhia afirmou, em nota, que discute soluções no Congresso e nos órgãos reguladores para tornar o processo “mais previsível e equilibrado”.

Discussões no Congresso e ações da Aneel

O tema está em discussão no Congresso Nacional, dentro da MP 1.304, que trata de mudanças estruturais no setor elétrico.

O relator da proposta, senador Eduardo Braga (MDB-AM), defende a criação de sinais econômicos adequados para geração, armazenamento e consumo, além da modernização das redes e da melhoria da eficiência operacional.

A Aneel informou que estuda aprimoramentos regulatórios e ações operacionais para mitigar os impactos do curtailment.

A diretora Agnes da Costa pediu avaliação jurídica sobre a inclusão da micro e minigeração distribuída no rateio de eventuais compensações, reconhecendo, porém, as restrições técnicas para desligar fisicamente essa geração.

Em nota, a agência reforçou que a segurança do Sistema Interligado Nacional é responsabilidade do ONS.

A Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) divulgou comunicado afirmando “profunda preocupação” com propostas que poderiam impor restrições à GD.

A entidade considera que a modalidade, composta por milhares de empresas e consumidores, não deve ser responsabilizada por desequilíbrios estruturais do sistema.

Soluções técnicas em debate

Especialistas sugerem medidas de curto prazo para reduzir o risco de apagão.

Entre as propostas estão a criação de tarifas inteligentes para incentivar o consumo entre 8h e 14h, redução do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) nesse período e remuneração adicional para hidrelétricas e térmicas que forneçam mais energia no fim da tarde, quando a demanda aumenta.

Também é defendido o uso de baterias de armazenamento em usinas solares, permitindo que a energia gerada pela manhã seja injetada à noite.

Para viabilizar isso, empresas pedem redução de impostos de importação sobre baterias, que ainda representam parcela significativa do custo final.

No longo prazo, a proposta de modernização inclui transformar distribuidoras em operadoras locais de sistema, com tecnologia e autonomia para gerenciar fluxos de energia em tempo real, além de oferecer incentivos para consumidores e geradores colaborarem no equilíbrio da rede.

Risco de sobrecarga no fim do ano

Com a chegada do fim de ano, período de baixa atividade industrial e férias coletivas, o consumo tende a cair ainda mais nas manhãs de domingos e feriados.

Segundo especialistas, isso aumenta o risco de sobregeração solar e exige monitoramento constante.

A chance de cortes adicionais nas usinas eólicas e solares é real, e as distribuidoras podem ser chamadas a intervir na geração distribuída”, disse Donato Filho, da Volt Robotics.

Técnicos do setor apontam que ainda não há consenso se as medidas emergenciais serão suficientes para evitar interrupções e preservar a estabilidade do sistema nacional.

Em um cenário de matriz cada vez mais renovável e desafios de controle, como equilibrar segurança elétrica e expansão da energia limpa nos próximos meses?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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