Expansão ferroviária no Brasil promete modernizar a logística, reduzir impactos ambientais e criar milhares de empregos com investimentos bilionários no setor até 2030.
O Brasil pode transformar sua logística e avançar na modernização da infraestrutura nacional ao expandir em até 19 mil quilômetros a malha ferroviária, segundo estimativas do Plano Nacional de Ferrovias lançado pelo governo federal em junho de 2025.
A iniciativa promete retirar cerca de 5 mil caminhões de minério diariamente das rodovias, contribuir para a geração de 4 mil novos empregos e impulsionar o setor ferroviário como alternativa sustentável ao transporte rodoviário.
Plano nacional de ferrovias: investimentos e metas até 2030
O novo plano, desenvolvido sob coordenação do Ministério dos Transportes, pretende simplificar normas e acelerar a liberação de licenças ambientais, facilitando o investimento privado e público no setor.
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O foco está na descentralização e diversificação da matriz logística, historicamente dependente das rodovias, e no estímulo ao transporte ferroviário para reduzir custos operacionais, aumentar a eficiência e diminuir impactos ambientais.
O valor total previsto para os investimentos chega a R$ 138,6 bilhões, distribuídos em 15 projetos prioritários, entre novos empreendimentos, ampliações e modernizações, além da repactuação de concessões já em andamento.
O Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) reúne atualmente 39 iniciativas ligadas ao modal ferroviário, abrangendo estudos, construção de novos trechos e revitalização de linhas existentes.
Expansão da malha ferroviária e modernização das concessões
Entre as principais medidas anunciadas está a transferência de aproximadamente 4.700 quilômetros de ferrovias para o controle da iniciativa privada, com previsão de realização de seis leilões até 2027.
O governo também prevê a conclusão de obras paradas e a integração de diferentes trechos, superando desafios históricos como a falta de padronização das bitolas – largura dos trilhos – e a dificuldade para concessão de direito de passagem entre operadoras distintas, questões que tradicionalmente dificultam a interoperabilidade da malha ferroviária nacional.
De acordo com especialistas, o aumento da participação do transporte ferroviário pode proporcionar ganhos expressivos para a economia brasileira.
A movimentação de grandes volumes de minério e produtos agrícolas pelo país, atualmente concentrada em rodovias, causa desgaste acelerado da infraestrutura viária, congestionamentos e altos índices de emissão de poluentes.
Com a retirada dos caminhões pesados das estradas, estima-se redução significativa de acidentes e de custos logísticos, além de menor emissão de gás carbônico.
Banco de projetos e fortalecimento do setor ferroviário
O secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, destacou em eventos recentes que o fortalecimento do setor passa pela criação de um banco de projetos ferroviários em diferentes níveis de maturidade técnica.
Segundo ele, a experiência dos últimos anos mostrou que projetos mal estruturados dificultam a viabilidade dos leilões e atrasam o avanço dos investimentos.
“É fundamental investir tempo na elaboração de projetos consistentes para garantir que os recursos se transformem efetivamente em obras e serviços”, afirmou.
O plano também abre espaço para parcerias internacionais, como as tratativas em curso com a União Europeia para a ampliação de acordos técnicos e de investimentos no setor.
A inspiração em modelos internacionais de sucesso, como o das shortlines — ferrovias de curta distância integradas à malha principal —, surge como alternativa para ampliar o alcance dos trilhos e viabilizar operações mais eficientes em regiões estratégicas.
Ramal Ferroviário Serra Azul e impacto ambiental
Um exemplo prático dessa abordagem é o Ramal Ferroviário Serra Azul, projeto da Cedro Participações, conglomerado brasileiro com atuação nos setores de mineração, logística, agronegócios e saúde.
Com investimento estimado em R$ 1,5 bilhão, o ramal terá 26,47 quilômetros de extensão, conectando os municípios de Mateus Leme e São Joaquim de Bicas, em Minas Gerais, à Malha Regional Sudeste.
A ligação direta ao Porto de Itaguaí (RJ), onde a empresa constrói um terminal de minério de ferro, permitirá transportar até 24 milhões de toneladas por ano, retirando das rodovias cerca de 5 mil carretas diariamente e contribuindo para uma redução de aproximadamente 40 mil toneladas de emissões anuais de CO2.
Além do impacto ambiental, a operação desse ramal ferroviário promete contribuir para a segurança viária, especialmente na BR-381, rodovia conhecida pelos altos índices de acidentes e apelidada de “Rodovia da Morte”.
A expectativa é que a transferência do transporte pesado para os trilhos resulte em diminuição do número de acidentes e preservação de vidas.
Conforme o presidente do conselho da Cedro Participações, Lucas Kallas, a iniciativa segue exemplos de países como os Estados Unidos, onde há centenas de ramais desse tipo.
Segundo ele, a economia gerada com a substituição do transporte rodoviário por ferrovia pode atingir milhões de reais, além dos benefícios sociais associados à segurança.
O cronograma do Ramal Ferroviário Serra Azul prevê início das obras em 2027 e início das operações em 2030.
Estudos fundiários estão em andamento para minimizar o impacto sobre propriedades e populações locais, priorizando traçados que aproveitam caminhos naturais e evitam áreas densamente habitadas.
O projeto deve ainda gerar cerca de 4 mil empregos, diretos e indiretos, e impulsionar a arrecadação de impostos nos municípios envolvidos.
Desafios para a integração e futuro da logística ferroviária
A aposta no modal ferroviário, além de responder ao desafio logístico, está alinhada ao esforço global pela descarbonização e pela adoção de práticas mais sustentáveis na economia, especialmente nos setores de mineração, agronegócio e transporte de cargas de longa distância.
O Brasil, que conta com uma das maiores malhas ferroviárias da América Latina, vê nos novos investimentos uma oportunidade para reverter o histórico de lentidão em obras do setor e modernizar sua matriz de transporte.
Os desafios, no entanto, seguem sendo consideráveis.
Especialistas apontam que a integração da malha ferroviária exige políticas de longo prazo, cooperação entre os setores público e privado, além de regras claras para garantir previsibilidade e segurança jurídica aos investidores.
A falta de unificação de bitola, a necessidade de interoperabilidade e a burocracia em processos de licenciamento ambiental continuam entre os principais entraves, embora o novo plano nacional de ferrovias apresente caminhos para superá-los.
O Brasil está diante de uma nova era ferroviária, que pode redefinir o futuro da logística, do emprego e do desenvolvimento sustentável do país.
Diante desse cenário de transformação, quais outras regiões e setores poderiam se beneficiar diretamente da ampliação da malha ferroviária nacional?