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Brasil paga R$ 6 milhões por mês por eletricidade da Venezuela, que sofre interrupções a cada 48 horas

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 14/08/2025 às 11:55
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Roraima vive rotina de blecautes enquanto Brasil paga mais de R$ 6 milhões por energia venezuelana

O Brasil gasta em média R$ 6 milhões por mês para importar energia da Venezuela, mas a instabilidade no fornecimento tem se tornado um problema recorrente. Entre 14 de fevereiro e 8 de junho de 2025, a linha de transmissão que conecta o país vizinho ao estado de Roraima registrou 62 desligamentos — uma média de uma falha a cada dois dias, segundo números apresentados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), vinculado ao Ministério de Minas e Energia.

No período analisado, 32 desses episódios resultaram em cortes diretos no fornecimento, que somaram 309 megawatts-hora interrompidos. Para a população roraimense, os transtornos vão de quedas abruptas de energia a apagões que atingem regiões inteiras.

Como funcionam os cortes automáticos

Quando ocorrem oscilações no fornecimento vindo da Venezuela, entra em ação o Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), sistema de proteção da distribuidora Roraima Energia. Esse mecanismo é ativado de forma automática para evitar um colapso ainda maior, cortando temporariamente o fornecimento em áreas específicas e restabelecendo o equilíbrio entre geração e consumo.

O processo é escalonado e planejado com antecedência: a concessionária define quais regiões ficam sujeitas ao desligamento em cada estágio. Enquanto isso, o ONS determina que alguma usina local aumente sua produção ou entre em operação emergencial para reverter a perda.

A Hidrelétrica de Guri, localizada no rio Caroní, na Venezuela, é uma das maiores do mundo, com capacidade instalada superior a 10.000 MW. É dessa usina que o Brasil importa energia para abastecer o estado de Roraima, apesar das frequentes falhas na transmissão internacional.

Um exemplo emblemático ocorreu em fevereiro, quando uma falha na linha internacional provocou um blecaute geral em Roraima. Nesse episódio, a queda instantânea foi de 158,9 megawatts, derrubando a energia em todo o estado.

Causas e impacto no sistema elétrico

De acordo com o CMSE, os desligamentos tiveram origem em falhas estruturais no sistema vizinho. A ata da reunião de 11 de junho, que analisou o apagão de fevereiro, destacou:

“Esses desligamentos foram causados principalmente por instabilidades no sistema venezuelano, que geraram eventos de sobrefrequência e subfrequência. A UTE [Usina Termelétrica] Jaguatirica II apresentou respostas bruscas às variações no sistema, comprometendo a reserva de potência da região”, consta no documento.

Apesar dos problemas, o relatório do ONS apontou que a importação evitou a interrupção de aproximadamente 252 megawatts-hora, funcionando como um alívio parcial para a rede local. Ainda assim, a dependência energética da Venezuela segue como um ponto sensível para Roraima, único estado brasileiro ainda não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

Perspectiva de mudança: Linhão de Tucuruí

A solução definitiva para o estado deve vir com a inauguração do Linhão de Tucuruí, que vai integrar Roraima ao SIN. Nos bastidores, técnicos afirmam que os testes começam em setembro, enquanto o governo federal prevê a inauguração oficial em dezembro de 2025, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Até lá, a importação de energia da Venezuela continuará sendo mantida, mas com a ressalva de que pode ser suspensa caso o desempenho da transmissão caia abaixo do esperado. O CMSE atualiza o balanço da importação a cada dois meses, e a decisão final dependerá da confiabilidade do serviço.

Custos e dependência energética

Desde janeiro, o Brasil importou mais de 26 mil megawatts-hora da Usina Hidrelétrica de Guri, na Venezuela, por meio da Bolt Energy, responsável pela operação. No mesmo período, o governo brasileiro destinou R$ 28,5 milhões em subsídios à importadora.

Descontados os meses iniciais de testes, a fatura mensal ficou em torno de R$ 6,1 milhões — um gasto significativo, especialmente diante das interrupções que têm prejudicado o cotidiano dos consumidores de Roraima.

Enquanto o linhão não entra em operação, a realidade é clara: o Brasil continua pagando caro por uma energia instável, vinda de um sistema estrangeiro fragilizado, para garantir o mínimo de segurança elétrica a um estado isolado do restante do país.

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Arildo Alves Cardarelli
Arildo Alves Cardarelli
14/08/2025 12:31

Energia elétrica eólica e foto voltaica e hidroelétrica são capazes de abastecer a Região Norte do Rio Amazonas

Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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