Projeto nacional pretende substituir geradores a diesel e garantir fornecimento contínuo com baixa emissão
O Brasil avança no desenvolvimento de microrreatores nucleares com o objetivo de levar energia elétrica limpa a regiões remotas.
Em 2024, nove instituições públicas e privadas, incluindo universidades, institutos de pesquisa e a Marinha do Brasil, uniram forças para criar reatores compactos e autônomos.
Esses equipamentos serão capazes de operar por até 10 anos sem recarga.
Com dimensões semelhantes a um contêiner de 40 pés, eles fornecerão entre 1 e 5 megawatts por unidade.
Essa potência é suficiente para abastecer mil pessoas, conforme explicou o físico João Manoel Losada Moreira, da UFABC.
Esses reatores utilizarão tecnologia inspirada em sistemas espaciais.
Eles funcionarão sem emissão de gases do efeito estufa e com operação contínua e segura.
Equipamento compacto garante segurança e estabilidade energética
A tecnologia está atualmente no nível 3 da escala TRL, ainda em fase de testes laboratoriais.
O objetivo é atingir o nível 6 até 2027, validando funções críticas em ambiente real.
Os microrreatores usarão grafita ou berílio para desacelerar nêutrons durante a fissão nuclear.
Essa estratégia substitui a água aquecida usada em reatores tradicionais.
O calor gerado pode chegar a 800 °C e será transferido por heat pipes com sódio puro.
Esse método elimina a necessidade de pressurização, aumentando a segurança da operação.
Segundo Jesualdo Luiz Rossi, do IPEN, o controle da fissão utilizará carboneto de boro, material cerâmico de alta dureza.
Essa tecnologia é conhecida no exterior, mas ainda não é produzida no Brasil.
Microrredes e controle remoto ampliam a autonomia do sistema
Para operar com eficiência em locais remotos, os microrreatores contarão com controle remoto digital desenvolvido pelo Inatel e pelo IEN.
Esse sistema permitirá operação à distância e integração com microrredes locais de energia.
As microrredes podem combinar energia solar, eólica e nuclear.
Essa junção garante estabilidade ao fornecimento, especialmente em locais com energia intermitente.
O projeto inclui uma estrutura de contenção em aço, que isolará o reator em caso de falhas.
De acordo com Moreira, a baixa potência operacional e a ausência de líquidos refrigerantes facilitam o resfriamento em desligamentos.
Isso torna os microrreatores mais seguros que grandes reatores tradicionais.
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Resultados nacionais superam referências internacionais
Um estudo publicado em 2024 na revista Nuclear Engineering and Design comprovou que o reator brasileiro pode operar por 8,7 anos sem reabastecimento.
Esse desempenho supera modelos internacionais, que alcançam cinco anos.
O reator utilizará dióxido de urânio (UO₂) com enriquecimento de até 20%, enquanto Angra 1 e 2 operam com apenas 5%.
A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) fornecerá o combustível inicial.
Futuramente, será possível reciclar rejeitos das usinas de Angra, como já ocorre na Europa e Ásia.
O físico Claudio Schön, da Poli-USP, afirmou que os microrreatores são extremamente seguros.
Eles operam com baixa carga de urânio e não utilizam líquidos refrigerantes, reduzindo significativamente os riscos de acidentes.
Perspectiva comercial impulsiona soberania tecnológica brasileira
Embora ainda não existam modelos comerciais ativos, empresas como Westinghouse e Rolls-Royce já desenvolvem tecnologias semelhantes.
Além disso, o microrreator brasileiro custa cerca de US$ 10 milhões, mas esse valor deve cair com a produção em escala.
Por outro lado, a geração custará R$ 990 por MWh, abaixo do diesel, que supera R$ 1.000, segundo dados de 2025.
Em maio, o presidente Lula reafirmou interesse em parcerias com a estatal russa Rosatom.
Portanto, o plano inclui integrar reatores modulares (SMR) à matriz energética brasileira.
A Petrobras e a Coppe-UFRJ também estudam o uso de SMR em plataformas offshore.
Assim, segundo o físico Giovanni Stefani, o Brasil pode se tornar fornecedor global da tecnologia.