Lula convoca países do BRICS para reagir ao tarifaço de Trump, que pode gerar perdas bilionárias no comércio global e acende alerta contra o protecionismo dos EUA.
O governo brasileiro entrou em modo de alerta máximo após o anúncio de Donald Trump de aplicar tarifas de 50% sobre exportações brasileiras. A medida, oficializada em julho por ordem executiva da Casa Branca, atinge setores estratégicos e aprofunda a crise comercial entre os dois países.
A decisão de Trump, justificada de forma polêmica como resposta ao que chamou de “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, provocou uma reação imediata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil convocou para a próxima segunda-feira (8/9) uma reunião virtual de emergência com os países do BRICS, com o objetivo de discutir uma resposta conjunta contra as medidas protecionistas norte-americanas.
O papel do BRICS na crise
A convocação acontece em um momento de fortalecimento do bloco, que hoje reúne 11 países: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia. Juntos, esses países concentram mais de 40% da população mundial e grande parte das reservas globais de petróleo e gás.
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Na última cúpula, realizada no Rio de Janeiro em julho, os líderes já haviam divulgado uma declaração criticando o “aumento indiscriminado de tarifas” no comércio global. Sem citar diretamente os EUA, o documento reforçou o compromisso com o multilateralismo e defendeu o fortalecimento do Sul Global.
Com a escalada tarifária de Trump, a expectativa é de que a reunião convocada por Lula resulte em uma carta conjunta mais dura, condenando o protecionismo americano e discutindo medidas de retaliação coordenada.
O impacto para o Brasil
As tarifas de 50% impostas pelos EUA têm potencial de causar perdas bilionárias. Produtos como aço, alumínio, calçados e carnes estão entre os mais afetados, setores que empregam centenas de milhares de brasileiros.
Segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o tarifaço pode representar perda de até 0,2 ponto percentual no PIB e risco de 100 mil empregos. Essa previsão acendeu um debate interno sobre a necessidade de ampliar parcerias comerciais fora da órbita americana.
Lula tem intensificado contatos diplomáticos não apenas dentro do BRICS, mas também com líderes como Emmanuel Macron (França) e chefes de Estado da Nigéria, Equador e Panamá, em busca de apoio político e novas rotas comerciais.
A escalada entre Lula e Trump
O clima entre os dois presidentes nunca foi de aproximação, mas a situação piorou com os últimos episódios. Além da imposição de tarifas, Trump chegou a ameaçar taxar em 10% países que se alinhassem a políticas “antiamericanas” do BRICS.
Lula, por sua vez, reforçou em diversos eventos internacionais que “o Brasil não se humilha” e que o país defenderá seus interesses comerciais em conjunto com seus parceiros estratégicos.
O discurso tem ecoado entre as economias emergentes, que veem no BRICS uma alternativa ao sistema dominado pelo dólar e pelas instituições financeiras tradicionais.
O que está em jogo
A convocação da reunião não é apenas uma resposta emergencial. Para o Brasil, trata-se de uma oportunidade de reafirmar seu papel de liderança no Sul Global e ampliar a relevância diplomática no cenário internacional.
Se houver consenso, o BRICS pode adotar medidas coordenadas que vão desde retaliações tarifárias até o fortalecimento de novos mecanismos de comércio em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar.
O tarifaço de Trump abre um novo capítulo nas tensões comerciais entre os EUA e o bloco emergente liderado por Brasil, China, Índia e Rússia. Se por um lado o impacto imediato preocupa a indústria brasileira, por outro, a crise pode acelerar a busca por novos mercados e alianças estratégicas.
A reunião de segunda-feira será decisiva para medir o grau de coesão do BRICS diante da pressão americana. Mais do que tarifas, o que está em disputa é o papel do bloco no redesenho da ordem econômica mundial.