ANP apresenta novo mapa exploratório que marca a era pós-Margem Equatorial e impulsiona a diversificação energética do país
Enquanto o licenciamento ambiental da Margem Equatorial segue em análise pelo Ibama desde abril de 2023, o governo federal, por meio da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), apresentou em 9 de outubro de 2025 uma das maiores expansões de sua Oferta Permanente de Concessão (OPC).
A atualização inclui 275 novos blocos exploratórios e cinco áreas de acumulação marginal, distribuídos em 11 bacias sedimentares em todo o país. Assim, o Brasil inicia uma nova fase de exploração menos concentrada em megaprojetos offshore e mais aberta a fontes limpas e a operadores independentes.
Novas fronteiras e diversificação geológica
Segundo o diretor da ANP, Pietro Mendes, a medida é “fundamental para reconstruir o portfólio exploratório do Brasil e fortalecer a competitividade do setor energético”.
Entre as novidades mais expressivas está a Bacia do Tacutu, em Roraima, localizada na fronteira com a Guiana.
Pela primeira vez, o Brasil disponibiliza blocos nessa região, considerada geologicamente similar àquela que transformou a Guiana em uma potência petrolífera.
Desde 2015, empresas como ExxonMobil, Hess e CNOOC realizam descobertas que colocaram o país vizinho entre as principais potências produtoras de petróleo do mundo.
Além disso, a superintendente de Promoção de Licitações da ANP, Marina Abelha, destacou que “as descobertas guianenses indicam forte potencial exploratório também do lado brasileiro”.
Por esse motivo, a expectativa é que o avanço atraia investidores internacionais interessados em novas fronteiras.
Dessa forma, o Brasil amplia sua competitividade na corrida global por recursos energéticos.
Gás natural e hidrogênio em destaque
Simultaneamente, a Bacia do Parnaíba, no Maranhão e Piauí, volta a ganhar relevância.
O modelo reservoir-to-wire (R2W), operado pela Eneva, transforma gás natural em eletricidade diretamente nas usinas.
Por consequência, 24 novos blocos foram incluídos em uma área estratégica, consolidando o gás como vetor de segurança energética e transição.
Por outro lado, a Bacia do São Francisco, que se estende por Minas Gerais e Bahia, recebeu 36 blocos exploratórios.
A superintendente ambiental da ANP, Vanessa Lemos, explicou que ajustes técnicos evitaram sobreposições com áreas sensíveis e conflitos locais.
Além disso, ressaltou que “o São Francisco desponta não apenas como fronteira de gás, mas também como região promissora para o hidrogênio natural”.
O Ministério de Minas e Energia (MME), em conjunto com a ANP, prepara um decreto inédito para regulamentar a exploração do hidrogênio natural.
A medida atribuirá à agência a função de autoridade reguladora.
Conforme Mendes, “essa medida abre caminho para um futuro energético mais diversificado e seguro”, alinhado às metas da transição energética nacional.
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Reforço às bacias maduras e estímulo aos independentes
Paralelamente, a ANP reabriu oportunidades em bacias maduras, como o Recôncavo (BA) e a Potiguar (RN).
Essas regiões são conhecidas por custos operacionais reduzidos e infraestrutura consolidada.
O Recôncavo recebeu 57 blocos, enquanto a Potiguar incorporou 33 blocos e uma área de acumulação marginal.
O objetivo é fortalecer operadoras independentes e médias, como PetroReconcavo, 3R Petroleum e Origem Energia, que ampliaram a produção onshore entre 2021 e 2024.
De acordo com o coordenador de Planejamento da ANP, Vitor Bourbon, a atualização “visa ampliar o conhecimento geológico e atrair empresas de diferentes perfis e capacidades de investimento”.
Além disso, as condições foram flexibilizadas.
As garantias mínimas partem de R$ 10 mil, e os bônus de assinatura variam entre R$ 50 mil e R$ 47 milhões.
Essas medidas incentivam a entrada de novos players no mercado nacional.
Margem Equatorial ainda indefinida
Apesar da expansão da OPC, o impasse ambiental na Margem Equatorial continua.
A Petrobras, após realizar simulações de emergência e estudos técnicos na Bacia da Foz do Amazonas durante 2023 e 2024, ainda aguarda a decisão do Ibama sobre o bloco FZA-M-59.
Esse é o mais sensível da região e segue em avaliação.
Enquanto o governo busca equilibrar segurança energética e compromissos climáticos, a ANP oferece uma alternativa regulatória para manter os investimentos e evitar retração exploratória.
Em suma, a nova oferta de blocos da ANP, apresentada em outubro de 2024, sinaliza que o Brasil entra em uma fase estratégica de diversificação energética.
O país agora integra hidrogênio, gás natural e bacias maduras em uma agenda de expansão responsável, transparente e compatível com as diretrizes climáticas globais.
Texto elaborado com base em dados oficiais da ANP, MME e declarações de Pietro Mendes, Marina Abelha e Vanessa Lemos, publicadas em 9 de outubro de 2024 pelo Brazil Stock Guide.