Entenda como a mudança da legislação abriu espaço para novos operadores no setor de petróleo e gás
A descoberta realizada pela BP no bloco Bumerangue, anunciada em 2019, sem a participação da Petrobras, simboliza uma transformação regulatória marcante. Até 2016, a Petrobras era obrigada a atuar como operadora em todos os blocos do pré-sal. Entretanto, a Lei nº 13.365/2016 converteu essa obrigação em direito de preferência, alterando profundamente a forma como o setor funciona. Assim, quando a estatal decidiu não exercer tal direito no Bumerangue, a BP pôde assumir integralmente a operação.
Críticas e questionamentos sobre a ausência da Petrobras
Naturalmente, essa ausência gerou críticas, sobretudo de entidades como a Federação Única dos Petroleiros (FUP). A organização entende que há risco de perda de controle nacional sobre recursos estratégicos, caso empresas estrangeiras assumam protagonismo. Contudo, é necessário destacar que a Petrobras enfrenta limitações financeiras e operacionais. Portanto, torna-se impossível que a estatal explore sozinha toda a extensão do pré-sal.
Corrida contra o tempo diante da transição energética
Além disso, o contexto mundial impõe pressa. A partir de 2020, ficou evidente que a demanda global por combustíveis fósseis tende a cair com o avanço das energias renováveis. Por isso, especialistas defendem que o Brasil precisa acelerar a monetização das reservas de petróleo, para evitar que parte significativa delas perca valor econômico e estratégico nos próximos anos.
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Debate regulatório e mudanças legislativas
Do ponto de vista regulatório, o Congresso Nacional ainda discute os rumos do setor. O Projeto de Lei nº 3.178/2019, em tramitação desde 2019, propõe retirar da Petrobras o direito de preferência. Caso aprovado, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) passaria a decidir o modelo de exploração em cada leilão. Essa discussão segue em destaque até hoje, pois representa uma mudança significativa no equilíbrio de forças do setor.
Impactos para o setor e a cadeia produtiva
Na prática, a entrada de diferentes operadores, nacionais e internacionais, gera efeitos importantes:
- Aumento da competitividade, pois empresas disputam projetos estratégicos.
- Novos investimentos estrangeiros e nacionais, que ampliam a base de exploração.
- Arrecadação maior de royalties e participações especiais, beneficiando União, estados e municípios.
- Fortalecimento da cadeia de fornecedores, desde a indústria naval até a metalurgia.
Ainda que a Petrobras siga como peça central, sua estratégia agora se concentra nos projetos mais lucrativos e estratégicos. Enquanto isso, o Brasil diversifica seus parceiros para aproveitar a janela de oportunidade antes da queda global no consumo de petróleo.
Um setor em transição acelerada
Em resumo, a operação da BP no bloco Bumerangue, fruto direto da flexibilização da lei em 2016, mostra como o pré-sal se tornou um ambiente plural de investimentos. Assim, ao mesmo tempo em que a Petrobras foca na rentabilidade, o país garante a presença de diferentes atores. Desse modo, fortalece-se a arrecadação pública e acelera-se a monetização de reservas, diante de um cenário global cada vez mais competitivo e em transição para fontes de energia limpas.
Crédito: Julia Borges da Mota – Advogada e Sócia-fundadora do escritório Murayama, Affonso Ferreira e Mota Advogados, especialista no setor de petróleo e gás.