Bosch anuncia cortes expressivos em sua divisão de mobilidade, impactando principalmente fábricas na Alemanha, em meio à concorrência chinesa crescente, demanda fraca no mercado europeu e altos custos de energia e mão de obra.
A Robert Bosch GmbH vai eliminar 13 mil postos de trabalho adicionais na divisão de mobilidade até 2030, cerca de 3% do quadro global, em resposta à concorrência crescente e ao enfraquecimento do mercado europeu de automóveis.
A medida, anunciada nesta quinta-feira (25), recai majoritariamente sobre unidades na Alemanha e busca reduzir um déficit anual de € 2,5 bilhões na operação de autopeças.
Cortes se concentram no polo de Stuttgart
Os ajustes mais profundos atingem a base histórica da Bosch na região de Stuttgart.
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O que é extraído nesse local do Nordeste o coloca entre os lugares mais perigosos
Em Feuerbach, onde a empresa produz componentes para diesel e investiu em hidrogênio, serão reduzidos cerca de 3.500 empregos até 2030 por causa da subutilização das fábricas.
Em Schwieberdingen, as áreas de Power Solutions, Electrified Motion e Mobility Electronics devem cortar aproximadamente 1.750 vagas, pressionadas por carteira de pedidos mais fraca e pela lenta adoção de novas tecnologias.
Ainda no entorno de Stuttgart, a Bosch pretende encerrar, até 2028, a fábrica de Waiblingen, que emprega cerca de 560 pessoas e produz conectores para a indústria automotiva, após anos de queda de volumes.
Outras localidades também serão enxugadas: em Bühl, especializado em pequenos acionamentos elétricos, devem ser eliminados cerca de 1.550 postos.
Em Homburg, onde peças para caminhões a diesel ainda predominam, saem cerca de 1.250 vagas.
Por que a empresa está apertando o passo
A direção atribui o plano à combinação de demanda fraca, barreiras comerciais e competição mais agressiva — sobretudo de fabricantes chineses com baterias, motores e eletrônicos mais baratos, que comprimem margens dos fornecedores tradicionais.
O ambiente de custos segue pressionado por tarifas e por energia mais cara desde a invasão da Ucrânia.
“Desenvolvimentos geopolíticos e barreiras comerciais, como tarifas, estão criando incertezas significativas com as quais todas as empresas precisam lidar”, afirmou Markus Heyn, responsável global pela área de mobilidade.
Segundo ele, a Bosch espera “concorrência ainda mais intensa” e pretende posicionar suas unidades para aproveitar nichos de crescimento.
Indústria alemã sob estresse
O movimento da Bosch aprofunda a pressão sobre a base industrial alemã, que enfrenta reajustes de produção, renegociação de custos e programas de eficiência.
Volkswagen e Porsche reduziram turnos e reveram projeções diante da fraqueza na China e do impacto de tarifas nos Estados Unidos.
A VW deve pausar linhas em plantas de EVs na Alemanha, enquanto a Porsche atrasou lançamentos elétricos e cortou margem prevista para 2025.
Em paralelo, fornecedores como Continental e ZF Friedrichshafen aceleram cortes de despesas e pessoal.
Hidrogênio e eletrificação avançam menos que o esperado
Além do ciclo fraco de veículos, a Bosch reconhece que a rampa do mercado de hidrogênio na Europa tem sido mais lenta do que se antecipava, mantendo capacidade ociosa em sites que receberam investimentos recentes.
A empresa afirmou que precisa “reduzir custos o mais rápido possível” para recuperar competitividade e, por isso, combina o enxugamento de pessoal com cortes em materiais, operações, logística e capex em prédios e instalações.
O que acontece com os trabalhadores
A companhia informou ter comunicado empregados e representantes e disse buscar “soluções socialmente responsáveis” quando possível, como realocação interna e programas de aposentadoria parcial.
Ainda assim, a gestão sustenta que ação rápida é necessária para fechar o gap de custos na mobilidade e garantir viabilidade no longo prazo.
“A Alemanha continua sendo fundamental para a Bosch”, declarou o diretor trabalhista Stefan Grosch.
“Mas precisamos nos tornar mais eficientes para manter nossa posição na competição global.”
Tamanho da Bosch e frente de investimentos
A Bosch, empresa de capital fechado e entre os maiores nomes de autopeças do mundo, empregava cerca de 417,9 mil pessoas ao fim de 2024 e faturou € 90,3 bilhões no ano passado.
A divisão Mobility reúne mais de 230 mil colaboradores e segue como o principal braço do grupo.
Nos últimos anos, a companhia direcionou recursos para software, eletrificação e hidrogênio, enquanto ajusta operações legadas de combustão.
Contexto político-econômico: “Made for Germany” e competitividade
No plano doméstico, o governo do chanceler Friedrich Merz tenta reanimar o ambiente de negócios com medidas de desburocratização e estímulos a investimento.
Em julho, 61 empresas anunciaram a iniciativa “Made for Germany”, com € 631 bilhões em aportes até 2028, apresentada na chancelaria e apoiada pela Bosch.
O esforço busca sinalizar previsibilidade regulatória e acelerar digitalização, infraestrutura e inovação — pontos vistos pelo setor como cruciais para recuperar produtividade e custo de energia competitivos.
Próximos passos da reestruturação
A Bosch deixou claro que, além dos 13 mil cortes previstos, seguirá avaliando estruturas, cadeia de suprimentos e níveis de investimento para adequar a operação ao novo patamar de demanda e preços.
O objetivo declarado é fechar o déficit da divisão e sustentar rentabilidade em um mercado com pressão permanente por preço e tecnologia.
O comunicado também cita que os ajustes serão distribuídos ao longo de vários anos, com efeitos graduais nas localidades atingidas até 2030.
Diante desse cenário de competição global mais dura, tarifas e transição tecnológica mais lenta que o previsto, como as cadeias automotivas da Europa devem se reorganizar para preservar empregos qualificados sem perder velocidade em inovação?