Chegada do gás natural em Barcarena é celebrada por políticos, mas moradores e especialistas temem novos impactos ambientais.
No início desse ano (dia 28/02), uma comitiva composta por figuras políticas importantes celebrou a chegada do gás natural em Barcarena, no Pará. Estavam presentes o governador Helder Barbalho, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o prefeito de Barcarena, Renato Ogawa. O evento marcou a inauguração do primeiro terminal de importação de gás natural liquefeito (GNL) da região Norte, prometendo uma “nova era energética” para a região.
Novo projeto de gás natural
O terminal de GNL é apenas o começo dos projetos relacionados ao gás natural em Barcarena.
Está em construção uma usina termelétrica (UTE) com capacidade inicial de 630 gigawatts (GW), prevista para começar a operar em julho de 2025.
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Há planos de ampliação que podem elevar essa capacidade para 2,6 GW, tornando-a a maior termelétrica da América Latina.
A chegada do gás natural e a construção da UTE Novo Tempo são vistas com preocupação por especialistas e moradores locais devido ao histórico socioambiental de Barcarena.
A cidade já sofreu com 29 acidentes ambientais desde o início deste século, incluindo contaminação de água e ar, e desastres como o naufrágio de um navio com 5 mil bois vivos.
Barcarena, vizinha a Belém, que sediará a COP30, atrai investimentos em combustíveis fósseis, contribuindo para o aquecimento global.
A construção da UTE pode piorar os impactos socioambientais em uma região já afetada por desastres ambientais frequentes.
O procurador da República Igor Lima aponta que a população está saturada de empreendimentos poluidores e que há impacto significativo na pesca e nas atividades produtivas das comunidades locais.
Desde 2000, Barcarena tem sido palco de diversos acidentes ambientais graves.
Novos empreendimentos e interesses econômicos
A Centrais Elétricas Barcarena, subsidiária da New Fortress Energy (NFE), é a responsável pela UTE. A NFE também possui uma Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação (FSRU) e gasodutos para transporte do gás.
A Norsk Hydro, multinacional norueguesa, é a principal interessada no gás natural para reduzir as emissões de suas operações de alumínio em Barcarena.
O governador Helder Barbalho celebra os projetos de gás natural como um marco histórico, com planos para expandir o uso do combustível para veículos e residências.
A Gás do Pará, concessionária público-privada, é responsável pela distribuição do gás natural no estado.
A UTE Novo Tempo demandará grande quantidade de água para resfriamento das turbinas, utilizando 26,2 bilhões de litros por ano.
Barcarena já enfrenta estresse hídrico, com frequentes denúncias de contaminação da água. Estudos mostraram contaminação significativa em corpos hídricos locais.
População em alerta para o gás natural
Euniceia Fernandes Rodrigues, líder comunitária, relata que a água dos rios está imprópria para consumo, e a contaminação afeta a saúde e a subsistência das comunidades.
A implementação de novos empreendimentos sem controle adequado dos impactos preocupa os moradores.
Desde a década de 1980, Barcarena viu sua população crescer mais de 500%, impulsionada pela instalação de indústrias.
O distrito industrial de Barcarena hoje abriga quase uma centena de empresas, com recorrência de acidentes ambientais.
Licenciamento ambiental
Especialistas defendem um licenciamento ambiental conjunto para o distrito industrial de Barcarena, considerando os impactos cumulativos dos empreendimentos.
Em 2016, um termo de compromisso foi firmado para realizar esse licenciamento, mas até agora não foi concluído.
A chegada do gás natural e a construção da UTE Novo Tempo em Barcarena trazem promessas de uma nova era energética, mas também levantam preocupações significativas sobre os impactos ambientais e sociais na região.
A população local, já afetada por décadas de desastres ambientais, teme que novos empreendimentos agravem ainda mais a situação.
Fonte: Agência Pública.