Déficit externo cresce acima do investimento direto, saída cambial se intensifica em 2025 e reservas internacionais seguem como principal colchão de liquidez do Brasil.
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (26) os resultados das contas externas de julho e das parciais de agosto.
Em 12 meses até julho, o déficit em transações correntes alcançou US$ 75,3 bilhões, o equivalente a 3,5% do PIB, superando os ingressos de Investimento Direto no País (IDP), que somaram US$ 68,2 bilhões no mesmo período, ou 3,17% do PIB.
Pelas parciais do câmbio contratado, agosto registra saída líquida de US$ 1,833 bilhão até o dia 22, o que leva o acumulado de 2025 a –US$ 16,674 bilhões.
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Em julho, o Brasil apresentou déficit em transações correntes de US$ 7,1 bilhões, pior que o verificado um ano antes, quando houve –US$ 5,2 bilhões.
Na comparação interanual, pesaram a redução do superávit comercial e o aumento do déficit de renda primária, enquanto serviços e renda secundária mostraram estabilidade.
No corte de 12 meses, o saldo negativo de US$ 75,3 bilhões (3,50% do PIB) ficou acima de US$ 73,3 bilhões (3,43% do PIB) medidos em junho e muito acima dos US$ 30,7 bilhões (1,37% do PIB) observados em julho de 2024.
Transações correntes: comércio no azul, mas serviços e rendas pressionam
A balança comercial de bens permaneceu superavitária em julho, com US$ 6,5 bilhões.
As exportações somaram US$ 32,6 bilhões, avanço de 4,8% ante julho de 2024, e as importações chegaram a US$ 26,1 bilhões, alta de 8,3%.
Embora positivo, o saldo comercial foi US$ 514 milhões menor do que um ano antes.
A conta de serviços exibiu déficit de US$ 5,0 bilhões, patamar semelhante ao de julho de 2024.
Dentro desse grupo, as despesas líquidas com viagens internacionais cresceram 34,1%, somando US$ 1,6 bilhão.
Despesas em telecomunicação, computação e informações aumentaram 52,7%, para US$ 791 milhões.
Propriedade intelectual avançou 26,2%, totalizando US$ 842 milhões.
Aluguel de equipamentos subiu 7,0%, para US$ 1,0 bilhão.
Em sentido oposto, houve queda de 17% em transportes, que registraram US$ 1,1 bilhão em despesas líquidas.
Renda primária: lucros e dividendos sobem, juros recuam
A conta de renda primária anotou déficit de US$ 8,9 bilhões em julho, alta de 18,1% ante os US$ 7,5 bilhões do mesmo mês de 2024.
As despesas líquidas de juros ficaram em US$ 4,2 bilhões, ligeiramente abaixo do observado um ano antes (US$ 4,4 bilhões).
Já as despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas a investimentos direto e em carteira, atingiram US$ 4,7 bilhões, acima dos US$ 3,2 bilhões de julho do ano passado.
Esse movimento refletiu, entre outros fatores, a redução das receitas de US$ 2,6 bilhões para US$ 1,5 bilhão no período.
Investimento direto no país fica abaixo do rombo externo
Os Investimentos Diretos no País somaram US$ 8,3 bilhões em julho, acima dos US$ 7,2 bilhões de julho de 2024.
No acumulado de 12 meses, o IDP totalizou US$ 68,2 bilhões (3,17% do PIB), depois de US$ 67,0 bilhões (3,14% do PIB) em junho e US$ 65,2 bilhões (2,90% do PIB) em julho de 2024.
Em julho, a maior parte dos ingressos veio de participação no capital (US$ 6,8 bilhões), dividida entre US$ 3,2 bilhões em novos aportes (excluídos lucros reinvestidos) e US$ 3,6 bilhões em lucros reinvestidos.
As operações intercompanhia somaram US$ 1,5 bilhão. Com o déficit em contas correntes acima do IDP, a diferença é coberta por outras modalidades de financiamento externo.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico tiveram saída líquida de US$ 192 milhões em julho, resultado da retirada de US$ 1,1 bilhão em ações e fundos de investimento e de ingresso de US$ 908 milhões em títulos de dívida.
No horizonte de 12 meses até julho, os investimentos em carteira acumularam ingresso líquido de US$ 3,1 bilhões.
Câmbio contratado: agosto no negativo e bancos vendidos
As parciais do câmbio contratado de agosto, até o dia 22, indicam saída líquida de US$ 1,833 bilhão.
O movimento se concentrou no segmento financeiro (–US$ 1,814 bilhão), enquanto o comercial registrou déficit leve, de US$ 19 milhões.
No mesmo intervalo, os bancos apresentavam posição líquida vendida de US$ 27,812 bilhões no mercado à vista.
No acumulado do ano, até 22 de agosto, o saldo do câmbio contratado é negativo em US$ 16,674 bilhões.
Segundo o Banco Central, o indicador de câmbio contratado reflete as contratações no mercado à vista e não é afetado por liquidações, servindo como leitura preliminar do fluxo cambial.
Reservas internacionais: estoque elevado e leve alta em julho
As reservas internacionais brasileiras totalizaram US$ 345,1 bilhões em julho, crescimento de US$ 671 milhões em relação ao mês anterior.
Contribuiu para o aumento o retorno líquido de US$ 2,1 bilhões em operações de linhas com recompra.
As variações por paridades cambiais implicaram redução de US$ 1,8 bilhão e as variações de preços diminuíram o estoque em US$ 476 milhões. As receitas de juros somaram US$ 731 milhões no mês.
Conceitos do balanço de pagamentos
As transações correntes reúnem o saldo da balança comercial de bens, a conta de serviços, as rendas (primária e secundária) e as transferências correntes.
O Investimento Direto no País (IDP) corresponde ao capital estrangeiro de longo prazo direcionado à produção e ao controle societário, incluindo participação no capital, lucros reinvestidos e operações intercompanhia.
Já o fluxo cambial contratado é a soma das entradas e saídas registradas pelos agentes no mercado à vista e, por ser preliminar, está sujeito a variações à medida que novas contratações são informadas.
Com o déficit externo superando o IDP em 12 meses e agosto registrando saídas líquidas no câmbio contratado, qual indicador você considera mais determinante para acompanhar de perto nos próximos meses?