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As cinco empresas mais endividadas do Brasil somam R$ 690 bilhões em passivos, montante maior que o PIB de nações inteiras

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 08/10/2025 às 11:28
As cinco empresas mais endividadas do Brasil somam R$ 690 bilhões em passivos, montante maior que o PIB de nações inteiras
Foto: As cinco empresas mais endividadas do Brasil somam R$ 690 bilhões em passivos, montante maior que o PIB de nações inteiras
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Cinco gigantes corporativas brasileiras: Petrobras, Vale, Suzano, Eletrobras e Marfrig já somam R$ 690 bilhões em dívidas, valor superior ao PIB de vários países e reflexo da concentração financeira no país.

Mesmo com lucros expressivos e operações bilionárias, parte das maiores companhias do Brasil vive um paradoxo econômico: ostentam resultados grandiosos, mas sustentam dívidas que superam o PIB de dezenas de países. Segundo levantamentos de mercado da B3, relatórios financeiros e dados consolidados pela Economatica e pela consultoria TradeMap, Petrobras, Vale, Suzano, Eletrobras e Marfrig figuram entre as campeãs de endividamento corporativo no país, acumulando juntas mais de R$ 690 bilhões em dívidas brutas.

O número impressiona e revela a estrutura concentrada da economia brasileira, onde poucos grupos dominam o crédito, os investimentos e o risco financeiro.

Petrobras: o colosso que deve, mas também entrega lucros recordes

Na liderança do ranking está a Petrobras, que encerrou 2024 com dívida bruta superior a R$ 282 bilhões, segundo o balanço da própria companhia.

Mesmo após reduzir significativamente o endividamento em relação ao pico de 2015 (quando ultrapassava R$ 500 bilhões), a estatal ainda responde por cerca de 40% da dívida total das 100 maiores empresas listadas na B3.

O peso financeiro, entretanto, vem acompanhado de uma rentabilidade igualmente robusta: a Petrobras segue como a empresa mais lucrativa da América Latina, com mais de R$ 124 bilhões de lucro líquido em 2024, impulsionada pela exportação de petróleo e derivados.

O endividamento elevado se deve, em parte, à estrutura de capital intensiva em investimentos e à política de dividendos agressiva adotada nos últimos anos, que drenou parte do caixa para acionistas e reduziu margem para amortização antecipada.

Vale: expansão global e dívida que ainda assombra

Logo atrás vem a Vale, gigante da mineração com dívida bruta próxima de R$ 130 bilhões. A empresa mantém uma posição financeira sólida e boa geração de caixa, mas ainda carrega passivos expressivos, em especial após os desembolsos bilionários ligados às indenizações e obras de reparação pelos desastres de Mariana e Brumadinho.

A companhia tem buscado reposicionar sua estrutura financeira, alongando prazos e investindo em descarbonização e mineração sustentável, mas segue exposta à volatilidade dos preços do minério de ferro que ainda representam mais de 70% da receita.

A dívida, embora controlada, mostra como o modelo de grande capital intensivo torna empresas brasileiras dependentes de crédito externo e vulneráveis a oscilações cambiais.

Suzano: a campeã do papel e celulose que opera com alavancagem alta

A Suzano S.A., maior produtora de celulose do mundo, figura em terceiro lugar, com R$ 98 bilhões em dívida bruta segundo o relatório do 2º trimestre de 2025. Diferente das demais, a Suzano utiliza a dívida como ferramenta estratégica financiando expansão e fusões, como a aquisição da Kimberly-Clark no Brasil e novos projetos industriais no Maranhão e Espírito Santo.

Boa parte dos passivos está indexada em dólar, já que a empresa é fortemente exportadora e opera com receita cambial superior a 80%. Esse modelo protege parcialmente os riscos financeiros, mas eleva o valor contábil da dívida quando o real se desvaloriza.

Mesmo assim, a Suzano mantém lucros consistentes e alta liquidez, reforçando a tese de que dívida elevada nem sempre é sinal de fragilidade — mas sim de aposta agressiva em crescimento.

Eletrobras: privatizada e ainda buscando equilíbrio

A Eletrobras, privatizada em 2022, carrega dívida bruta estimada em R$ 88 bilhões, um dos maiores montantes entre as companhias de energia da América Latina. Parte desse volume vem de empréstimos herdados antes da capitalização e de aportes para modernização de usinas e linhas de transmissão.

Após a privatização, a empresa busca reduzir custos e melhorar eficiência operacional, mas enfrenta desafios estruturais, como judicializações sobre contratos e pressões tarifárias.

A expectativa do mercado é que, com a recuperação do setor elétrico e o avanço dos projetos de energia renovável, a Eletrobras consiga reduzir sua alavancagem nos próximos anos ainda assim, o tamanho da dívida reforça o peso que o setor energético tem sobre o sistema financeiro nacional.

Marfrig: a gigante da carne que opera no fio da navalha

Fechando o top 5, aparece a Marfrig Global Foods, uma das maiores exportadoras de proteína animal do planeta, com R$ 60 bilhões em dívidas brutas.

A empresa expandiu agressivamente suas operações entre 2020 e 2023, adquirindo fatias da BRF e investindo em plantas industriais nos Estados Unidos e América do Sul.

Com o setor enfrentando margens menores e forte competição internacional, a Marfrig viu a relação dívida líquida/Ebitda subir além do desejado, o que preocupa analistas. Mesmo assim, a companhia ainda apresenta lucro operacional consistente e um portfólio diversificado, o que lhe permite sustentar o endividamento sem risco imediato de colapso financeiro.

Um retrato da economia brasileira

O levantamento revela uma contradição que define o capitalismo brasileiro contemporâneo: as empresas mais lucrativas também são as mais endividadas. Isso ocorre porque grande parte das corporações opera em setores de capital intensivo do petróleo, mineração, celulose, energia e proteína, que exigem investimentos de longo prazo e dependem de financiamentos pesados, muitas vezes atrelados ao dólar.

Segundo economistas da FGV e do Insper, essa dinâmica explica por que o país tem um dos maiores volumes de dívida corporativa da América Latina, mas, ao mesmo tempo, baixa taxa de investimento produtivo interno.

Enquanto a rentabilidade flui para o exterior via dividendos, o crédito é concentrado em poucos conglomerados, reduzindo o espaço para médias empresas crescerem.

Dívidas maiores que PIBs nacionais

O volume de R$ 690 bilhões ultrapassa o PIB de países como Uruguai, Paraguai e Bolívia somados. Apenas a Petrobras, sozinha, tem uma dívida superior a todo o produto interno bruto do Uruguai.

O número evidencia como o sistema financeiro brasileiro está concentrado em poucos grupos que, apesar de sustentarem a economia, também carregam riscos sistêmicos em caso de choque global ou elevação abrupta de juros.

Especialistas alertam que a política de juros altos dos últimos anos encarece o serviço dessas dívidas e restringe novos investimentos.

Com a Selic ainda elevada e a desaceleração do crédito global, muitas dessas empresas adotam estratégias de alongamento de prazos e emissão de títulos no exterior, o que aumenta a exposição cambial e pode criar vulnerabilidades futuras.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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