Projeto une poesia e biotecnologia ao gravar versos no DNA de bactéria resistente, preservando arte e cultura por bilhões de anos
O médico e filósofo grego Hipócrates disse que “a vida é curta e a arte é longa”. Agora, essa ideia ganhou forma biológica. O poeta canadense Christian Bök e a engenheira química Lydia Contreras, da Universidade do Texas em Austin, inseriram um poema no DNA de Deinococcus radiodurans.
Conhecida como “Conan, a Bactéria”, essa espécie sobrevive à radiação intensa, ao congelamento e até ao vácuo do espaço.
Em condições ideais, pode persistir por escalas de tempo geológicas, praticamente imortal para os padrões humanos.
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Além disso, quando o micróbio “lê” o poema, ele produz uma proteína que codifica um segundo poema complementar — e brilha em vermelho durante o processo.
Um projeto de 25 anos
A iniciativa integra o projeto de décadas de Bök, chamado “O Xenotexto”. Ele investiga a poesia como artefato biológico e alcançou seu ápice no livro “O Xenotexto: Livro 2”, fruto de 25 anos de tentativas e erros.
“Fizemos pouquíssimas coisas que poderiam sobreviver ao Sol”, disse Bök. Para ele, este é um gesto que mostra como preservar mensagens durante toda a vida útil da Terra, protegendo a herança cultural contra desastres planetários.
Em 2015, “The Xenotext: Book 1” apresentou um poema inserido em uma bactéria frágil. O objetivo final, porém, sempre foi trabalhar com D. radiodurans, resistente a condições fatais para quase todos os seres vivos.
Parceria científica
Bök procurou Contreras, cujo laboratório já tinha experiência com a espécie. “O uso sintético desse organismo para unir linguagem genética e língua inglesa é filosoficamente muito emocionante”, afirmou a pesquisadora.
O poema gravado chama-se “Orfeu” e começa com “Qualquer estilo/de vida é primitivo”. Quando ativado, o micróbio transforma essa sequência de DNA em uma cadeia de aminoácidos.
Cada aminoácido corresponde a uma letra, formando assim um segundo poema, “Eurídice”, que se inicia com “A fada/ é rosada de brilho”.
Poesia em código e proteína
Bök desenvolveu uma “cifra mutuamente bijetiva”, onde cada letra de um poema corresponde a uma letra fixa no outro. Esse trabalho levou quatro anos para ser concluído.
A proteína resultante brilha em vermelho, representando visualmente as imagens descritas nos versos. É como se a poesia ganhasse forma viva e luminosa.
Arte e aplicação
O aspecto artístico é evidente, mas o projeto também aponta para usos práticos. D. radiodurans pode guardar dados por períodos inimagináveis, superando qualquer formato de arquivo criado pelo homem.
“No fim, trata-se de como armazenamos informações que sobreviverão para sempre”, disse Contreras. Para ela, os organismos vivos são os melhores guardiões dessas informações.
A ideia dialoga com pesquisas que exploram o DNA como meio de arquivamento de registros digitais ou de mensagens para o futuro, incluindo civilizações extraterrestres.
Entre vida e arte
Para Bök, a conquista é ao mesmo tempo científica e poética. Assim como na história de Orfeu e Eurídice, ela atravessa fronteiras — entre vida e arte, linguagem e biologia, mortalidade e permanência.
E, tal qual o mito, tenta trazer algo de volta, mas agora em forma de versos imortais gravados no código da vida.
Com informações de ZME Science.