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Arqueólogos descobrem vestígios de uma sociedade agrícola de 5.000 anos comparável em tamanho à antiga Tróia no Marrocos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 01/10/2024 às 14:25
Arqueólogos
Foto: Reprodução

A descoberta de uma sociedade agrícola de 5.000 anos no Marrocos, com uma área comparável à da antiga Tróia, pode trazer novas revelações sobre as civilizações antigas que habitavam o norte da África.

Arqueólogos fizeram uma descoberta fascinante: os restos de uma sociedade agrícola de 5.000 anos, que pode mudar como entendemos a história do Norte da África. O sítio arqueológico de Oued Beht, localizado no norte do Marrocos, revela uma sociedade tão grande quanto a antiga Tróia da Idade do Bronze, sendo o mais antigo desse tipo descoberto fora do Vale do Nilo.

Essa civilização, que até então era desconhecida, demonstra que o Norte da África era mais do que um território de caçadores e pastores nômades, como se acreditava anteriormente.

A redescoberta de Oued Beht

Foto: Toby Wilkinson

O sítio de Oued Beht foi inicialmente descoberto por colonos franceses na década de 1930, mas permaneceu ignorado por quase 90 anos.

Em 2023, o arqueólogo marroquino Youssef Bokbot, com a ajuda de uma equipe internacional, decidiu investigar novamente o local.

A intuição de Bokbot se mostrou correta, resultando em uma descoberta significativa: uma grande quantidade de fragmentos de cerâmica pintada e cabeças de machado polidas.

Esses artefatos, com as evidências de agricultura, sugerem que o local era ocupado por centenas de pessoas que viviam em uma sociedade organizada, interagindo possivelmente com outras culturas do Mediterrâneo.

A datação por radiocarbono de sementes e carvão encontrados no local indica que o sítio foi habitado entre 3400 e 2900 a.C.

Além disso, análises genéticas apontam que os habitantes tinham uma origem diversa, incluindo pastores do Saara e migrantes da Península Ibérica e do Oriente Médio.

Essa mistura de povos contribuiu para o que o arqueólogo Cyprian Broodbank, da Universidade de Cambridge, chamou de “caldeirão cultural”.

Agricultura e comércio no neolítico Africano

(Image credit: Toby Wilkinson; Antiquity Publications Ltd)

Os habitantes de Oued Beht eram agricultores que cultivavam cevada, trigo, ervilhas, azeitonas e pistaches em uma terra árida.

O local também continha restos de ovelhas, cabras, porcos e gado, o que sugere que a criação de animais era uma prática comum.

Esses grupos neolíticos não apenas produziam alimentos para si mesmos, mas também fabricavam bens de valor, como cerâmica e cabeças de machado, que possivelmente eram utilizados em trocas comerciais com outras sociedades da Idade do Bronze e do Cobre.

Embora até então acreditasse-se que as sociedades agrícolas da época estavam limitadas ao Mediterrâneo e ao Vale do Nilo, a descoberta de Oued Beht sugere que o Norte da África também fazia parte desse cenário de produção agrícola e comércio.

Os arqueólogos acreditam que as comunidades da região trocavam bens com povos da Península Ibérica, Egito e até Mesopotâmia.

Essa hipótese é fortalecida por outros estudos que já haviam identificado itens africanos, como marfim e ovos de avestruz, em locais da Europa durante esse período, mas não se sabia quais sociedades africanas poderiam ter fornecido esses bens.

Mudança de perspectiva sobre o Norte da África

Até recentemente, muitos arqueólogos assumiam que o Norte da África, assim como a África subsaariana, era ocupado principalmente por caçadores-coletores e pastores nômades durante o período neolítico.

A ideia de uma sociedade agrícola estacionária no norte do continente era quase inexistente. No entanto, a descoberta em Oued Beht desafia essa visão e coloca a região como parte de um mundo agrícola maior que se estendia por todo o Mediterrâneo.

Segundo Giulio Lucarini, arqueólogo do Instituto de Ciências do Patrimônio do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália e coautor do estudo, “Antes dessa descoberta, não havia evidências de agricultura no Norte da África fora do Vale do Nilo“.

O arqueólogo Cyprian Broodbank complementa: “O que estamos mostrando aqui é que essa parte do mundo já fazia parte do mundo agrícola neolítico. Essa é apenas a ponta do iceberg.

O Impacto da descoberta

Essa descoberta representa um avanço significativo na compreensão da pré-história africana e sugere que o Norte da África foi um ponto de encontro de diferentes culturas e práticas agrícolas muito antes do que se pensava.

O sítio arqueológico de Oued Beht revela que os povos da região estavam intimamente conectados com o desenvolvimento agrícola global e participavam de trocas culturais e comerciais com outras sociedades do Mediterrâneo.

Conforme mais escavações forem realizadas no local, espera-se que novas evidências revelem mais detalhes sobre essa sociedade agrícola e suas conexões com outras civilizações da Idade do Bronze e do Cobre.

A descoberta em Oued Beht pode ser apenas o início de uma nova era de descobertas arqueológicas que reescreverão a história do Norte da África e sua contribuição para o mundo antigo.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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