Em um movimento que reforça sua liderança regional no setor nuclear, a Argentina deu um passo inédito ao aderir a um programa dos Estados Unidos, mirando energia limpa, segurança energética e aplicações ligadas à inteligência artificial.
A Argentina se consolidou nesta sexta-feira, dia 19 de setembro, como o primeiro país da América Latina a ingressar em um programa nuclear civil dos Estados Unidos.
A iniciativa tem como foco o uso responsável de Pequenos Reatores Modulares (SMRs), tecnologia que pode impulsionar setores estratégicos, como o desenvolvimento da inteligência artificial.
O anúncio veio por meio de um comunicado do Departamento de Estado norte-americano, que celebrou a participação da Argentina no programa Infraestrutura Fundamental para o Uso Responsável da Tecnologia de Pequenos Reatores Modulares (FIRST), liderado por Washington.
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A importância da adesão argentina
O Ministério das Relações Exteriores dos EUA, chefiado por Marco Rubio, destacou o caráter histórico do movimento argentino. “Os Estados Unidos saúdam a decisão da Argentina de se tornar o primeiro país latino-americano a aderir ao programa U.S. FIRST como parceiro contribuinte”, declarou em nota oficial.
Segundo os norte-americanos, a decisão representa um marco para reforçar a parceria bilateral em energia nuclear civil, ampliar a segurança energética global e acelerar a expansão de tecnologias nucleares avançadas na América Latina e em outras regiões.
A estratégia do governo argentino
O conselheiro presidencial para energia nuclear, Demian Reidel, já havia antecipado que a meta é construir quatro SMRs em cinco anos. Esses reatores, com capacidade de até 300 megawatts — cerca de um terço dos reatores tradicionais —, se destacam por poderem ser montados em módulos.
Na prática, além de atender à demanda energética convencional, os SMRs poderão ser aplicados em operações de resfriamento exigidas por sistemas de inteligência artificial, setor em rápida expansão.
Reidel lembrou que a Argentina mantém um projeto pioneiro na região. Trata-se do CAREM 25, concebido nos anos 1990 e lançado oficialmente em 2006. A primeira unidade terá capacidade elétrica de 32 MW(e), e as obras já alcançaram 62% de avanço.
Condições únicas para avançar
O físico e economista argentino ressaltou que o país reúne condições únicas para atrair grandes centros de dados, infraestrutura vital para a IA global. Ele apontou extensões de terra disponíveis com acesso simultâneo a energia e água, clima frio para facilitar o resfriamento, além da ausência de riscos geológicos e bélicos.
“Esses data centers de IA exigem uma fonte de energia com três características: limpa, estável e escalável. E a resposta é a energia nuclear”, afirmou Reidel. Em suas palavras, a tecnologia é “uma das mais limpas do mundo, se não a mais limpa”.
O papel do FIRST no cenário mundial
O FIRST é conduzido pelo Escritório de Controle de Armas e Não Proliferação (ACN) do Departamento de Estado. A iniciativa foi criada para aproveitar a expertise da indústria nuclear, acelerando a adoção responsável de reatores nucleares civis.
Atualmente, o programa já envolve mais de 50 países em cinco continentes. O foco é garantir acesso a soluções energéticas que atendam a altos padrões de segurança, proteção e não proliferação, em conformidade com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Referência internacional
Com a adesão, a Argentina segue os passos de Japão, Coreia do Sul e Canadá. Esses países oferecem financiamento, conhecimento técnico e apoio logístico ao FIRST. Agora, Buenos Aires passa a figurar como parceira contribuinte, com papel ativo em atividades globais do programa.
Isso inclui a participação em projetos regionais, viagens de estudo, programas de treinamento e iniciativas voltadas a facilitar a implementação de SMRs em países interessados.
Cooperação e liderança nuclear
Na avaliação do Departamento de Estado, a parceria reforça a liderança argentina no setor nuclear e evidencia a disposição do país em fomentar a cooperação internacional para enfrentar os desafios da segurança energética.
Os EUA, por sua vez, ressaltaram que pretendem continuar estreitando laços com Buenos Aires na área de cooperação nuclear civil. O programa FIRST se apresenta, nesse contexto, como a principal plataforma para consolidar essa aproximação e promover avanços concretos em novas tecnologias nucleares.